Lições urgentes de Capitólio. Por Flávio F. de Figueiredo
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO PORTAL DE O ESTADO DE S. PAULO, BLOG FAUSTO MACEDO/ POLÍTICA, EDIÇÃO DE 10 DE JANEIRO DE 2022
Uma tragédia, em local absolutamente maravilhoso. Atração turística extremamente interessante, em região em que há muitos outros pontos com belezas excepcionais.
O final de semana foi marcado pela triste notícia de desabamento de grande bloco de rocha em cânion no Lago de Furnas, no município de Capitólio – MG. Há registro de 10 vítimas fatais e de mais de 30 feridos. Mais o trauma de um acidente dessa magnitude, com imagens fortes transmitidas e o terror de sobreviventes.
Especialmente no lago, muitas dezenas, talvez até centena, de barcos percorrem as águas para que os turistas possam apreciar as diversas atrações.
A atividade de navegação aparenta ser bem organizada e grande parte dos barcos saem da barra do Rio Turvo, onde há atracadouros, restaurantes, lojas e apoio para os turistas.
Até aí, tudo bem.
E as margens do lago, especialmente onde há os grandes paredões, alguém cuida disso?
Não há notícias.
Milhares de pessoas passando diariamente a poucos metros de paredões rochosos sem que haja registro de qualquer mapeamento e acompanhamento geológico ou geo técnico. É absolutamente assombroso.
… Infelizmente, essa realidade não é observada somente no Lago de Furnas. A maior parte de nossas atrações turísticas está abandonada à própria sorte e as receitas advindas de sua exploração comercial não são empregadas para suas adequadas manutenção e conservação.
É impensável que não seja destinada uma parcela da receita obtida com as atividades turísticas para que sua verdadeira razão de ser mereça pelo menos um mínimo de atenção, fundamental para a segurança daqueles que dela usufruem.
Infelizmente, essa realidade não é observada somente no Lago de Furnas. A maior parte de nossas atrações turísticas está abandonada à própria sorte e as receitas advindas de sua exploração comercial não são empregadas para suas adequadas manutenção e conservação.
Para que o sacrifício dessas vítimas tenha algum sentido, seria oportuno debate acerca das responsabilidades pela segurança dos frequentadores de locais em que a beleza natural é a essência.
A evolução dos diferentes elementos que compõem nosso planeta é contínua e dela somos meros expectadores. Não é possível controlar a força e as manifestações da natureza, muito dos eventos climáticos, mas, com conhecimento prévio dos riscos e contínuo monitoramento, dá sim para se evitar tal perigosa exposição a desastres.
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– Flávio F. de Figueiredo – engenheiro civil, consultor, conselheiro do Ibape/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Pericias de Engenharia de São Paulo
EU VI! Há alguns anos assisti em Canoa Quebrada os buggistas pararem as atividades por entenderem que as dunas haviam mudado de forma a tornar a operação perigosa; três pessoas, entre elas o dono pousada onde me hospedei, interromperam as suas atividades por três dias para estabelecerem novas rotas. Sem receber, agiram para o bem da comunidade e deles mesmos, pois a pousada poderia ser prejudicada se houvessem notícias de feridos e mortos no local. Não entendo porque, recebendo, não há técnico do Estado para antecipar problemas.