Este é o próximo Governo. Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2021
Bolsonaro, Lula, Dória, Moro, Rodrigo Pacheco? Tanto faz: seja quem for o presidente eleito, quem vai mandar no país é o pessoal que já manda faz tempo – Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Roberto Jefferson, o pastor Feliciano, Silas Malafaia. Esses não precisam ser eleitos para a Presidência para mandar no país: basta eleger-se alguma coisa para desfrutar de privilégio de foro, receber passagens gratuitas para o Brasil e o Exterior, boas refeições com bons vinhos e uísque para discutir política com os colegas -afinal, eles é que trabalham no lugar dos presidentes, que quanto maiores as crises mais sentem necessidade de salgar as bundinhas em belos recantos marinhos, com comitivas, hospedagem chique, boas diárias de viagem – e também merecem ser bem tratados pelos cofres públicos.
Vale para todos? Vale: Renan Calheiros era inimigo de Collor, ajudou a elegê-lo presidente, foi ministro de Fernando Henrique, apoiou Lula (e foi condecorado por ele) e, de 2005 para cá, foi três vezes presidente do Senado. Aquele pessoal do Centrão que chamava Bolsonaro de fascista, que ouviu o general Augusto Heleno cantar “Se gritar Pega, Centrão/Não fica um, meu irmão (…)” não está hoje com o general, que os trata de Vossas Excelências?
Um presidente ou outro, tanto faz. Bolsonaro se apresenta como o antiLula. Lula, como o antiBolsonaro. E daí?. Alguns presidentes falam mais bobagens que os outros. Mas quem manda não são eles. Ficam iguais.
Todos certos
O primeiro a falar foi Olavo de Carvalho: disse que Bolsonaro o usou para ganhar a eleição, não mais lhe deu ouvidos e em 2022 será derrotado. Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, entrou na briga – onde já se viu, falar mal do MINTO!!! “Jair Bolsonaro seria um autêntico conservador ainda que absolutamente nenhum intelectual jamais tivesse escrito um único parágrafo. Nunca precisou e jamais precisará de um ‘professor’. Sigamos! Temos um país para salvar.” Olavo respondeu a Camargo: “Esta é a coisa MAIS CRETINA que algum bolsonarista já escreveu” – o que é um feito muito difícil, mas quem, além de Olavo, teria gabarito para definir?
O terceiro a entrar na parada foi o blogueiro Allan dos Santos, que descobriu recentemente que Bolsonaro adora ter apoio, mas nunca o retribui.
“O Brasil pariu uma horda de analfabetos que, se não estivessem na política, não seriam capazes de ensinar uma única e mísera coisa sequer. Vivem do salário que recebem do Estado e assim que dele sair não serão capazes de organizar um grêmio estudantil. Esse Sérgio Camargo é um deles. A idiotice que falou sobre o professor Olavo de Carvalho é a prova de que, se não fosse o carguinho dele, ninguém nunca saberia quem é esse infeliz”.
Os três são sinceros no que dizem. E os três têm razão.
Guerra ao comunismo
E os três prometem manter o duelo. Olavo de Carvalho já disse que “o sujeito que se esforça em prol do esquema comunista de poder e ao mesmo tempo assegura que não é comunista encarna o tipo mais sujo e criminoso de agente comunista”. Como foi Sérgio Camargo que o atacou, deve ser dele que Olavo de Carvalho está falando. Outra frase do escritor: “Entrei numa briga impossível E VENCI. Será que isso não me deu experiência suficiente para ensinar umas coisinhas úteis àquelas belas almas que só apanham?”
A tragédia baiana
As fortes chuvas que atingiram a Bahia deixaram 20 mortos e 31 mil desabrigados. No total, 471 mil pessoas foram afetadas, cem municípios já se declararam em situação de emergência. Em Itabuna, onde o rio Cachoeira subiu mais de dez metros, há ainda áreas alagadas e bairros sem eletricidade. O abastecimento de água está em risco. Diz o prefeito Augusto Castro que foi feita uma operação de guerra para resgatar famílias.
Enquanto o Estado sofre
O presidente Bolsonaro não quis nem pensar na hipótese de suspender suas férias para comandar a salvação da Bahia. Sua solidariedade com as vítimas se limitou a também mergulhar nas águas mornas de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, para onde levou a nutrida comitiva de sempre. As últimas férias de Sua Excelência custaram perto de R$ 2,8 milhões, parte em Guarujá, parte em São Francisco do Sul. Louve-se a generosidade com que o Bolsonaro trata seus convidados: todos viajam pela FAB, sem pagar um só real.
Quem paga tudo, com a maior boa vontade, é o caro leitor.
Coisa estranha
O ministro Nunes Marques, do STF, manteve a condenação de uma mulher que furtou chicletes e chocolates, avaliados em R$ 50,00. O caso foi levado ao Supremo pela Defensoria Pública de Minas Gerais, após a ré ter sido condenada por furto qualificado. De acordo com a Defensoria, trata-se de aplicar o conceito de furto de insignificância e libertá-la. Marques negou.
Sem entrar no mérito: esse tipo de caso tem de chegar ao Supremo?
___________________________________________________
Caro Carlos Brickmann; sou leitor assíduo de suas colunas, antes em outros blogs, hoje direto na fonte do Chumbo Gordo.
Gosto da maneira – fina ironia – com que trata os assuntos, sendo afiado na escrita, mas tornando leve a leitura…. enfim, poucos hoje sabem fazer com que tenhamos o comentário de assuntos sérios, mas ao mesmo tempo sorrir com a maneira com que os trata.
Essa é minha percepção… quanto aos assuntos levados ao STF, poucos os são no sentido de ferir nossa Constituição, que seria a missão do nosso supremo, guardião que assim é definido pela lei…
Infelizmente., hoje existem muitos governos em ação cada um definindo ou seguindo o caminho que melhor lhe interessar… tenho 70 anos e, a esperança de que meus netos possam ter o país que nunca vi… abraço, desculpe o longo comentário e, inté!
Enquanto ‘nosso Kassio’ faz valer a máxima dura lex, sed lex – afinal, exemplo é tudo -, Gilmar Mendes libertou homem que estava preso pelo furto de duas telhas imprestáveis. Devo admitir o espanto: essa é uma das raras vezes que concordo com ele.
https://www.jota.info/justica/condenacao-furto-duas-imprestaveis-telhas-de-aco-stf-27122021