A era da Ansiedade. Por Meraldo Zisman
(INCONSCIENTE, PANDEMIA, NANOTECNOLOGIA E MÍDIA)
À medida que a pandemia decretada no ano 2020 (COVID-19) progride, aumenta a ansiedade motivada pelo impacto financeiro, pelo medo da contaminação e pelo maior sofrimento das pessoas, incrementada agora pela dúvida de tomar ou não a vacina.
O que acarreta o incremento dos medos coletivos? Vamos por partes.
A expressão inconsciente coletivo na Psicologia, criada e desenvolvida pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875 – 1961), deve ser estudada de forma integral, avaliando-se a sua ação total sobre a sociedade, não somente sobre cada indivíduo, lembrando que inconsciente tem a ver com tudo aquilo que pensamos, inventamos ou executamos sem estarmos cônscios. Em síntese, o inconsciente pessoal seria aquele formado a partir das experiências individuais, enquanto o inconsciente coletivo é cultivado a partir de concepções herdadas da História.
Apesar de Sigmund Freud dizer que ao analisarmos as decisões de cada pessoa devemos ser governados pelas profundas necessidades íntimas da nossa natureza, digo eu aqui do Recife: “As razões são individuais“.
Como no caso de tomar ou não tomar as vacinas, tão ao gosto do alarmismo midiático. Meias verdades são mais antigênicas que uma mentira. A maioria dos noticiários baseia-se em média aritmética simples. Bastaria, para isto, somar as idades de cada um, dividindo o resultado parcial pelo número de contaminados.
Outro exemplo, digamos que você deseje conhecer a população média das dez cidades mais populosas do Brasil. Primeiramente, é necessário listar a população de cada uma delas. A seguir, somam-se todos esses números. Por fim, suficiente será dividir o valor final por dez e teremos a média móvel para a população e, da mesma maneira, da variação da saúde de um grupo. Entendo que essa modalidade de média é frequentemente empregada em análise técnica de mercados de capitais, tal qual na análise da tendência dos preços de ativos financeiros em bolsas de valores.
Não alcanço como pode servir para pandemias.
Munidos destes dados, ascendem os jornalistas à ansiedade coletiva: vou ter dinheiro para pagar o aluguel (?), comprar comida (?), vou perder o emprego (?), etc. Isto em pais cuja população é campeã na ocorrência de ansiedade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A ansiedade torna-se assim mais maléfica e aguda do que o vírus, ajuntada — agora e no momento –, aos efeitos secundários das vacinas, descritos nas respectivas bulas lidas ou espalhadas nas mídias sociais e oficiais.
Prossigo nessas indagações.
Na atual pandemia, ao contrário das anteriores, algumas até mais mortais, associou-se à difusão de notícias verdadeiras à de notícias falsas (alarmistas) aumentando o medo e a insegurança, cujo somatório é adubo para a ansiedade coletiva em solo fértil que é o brasileiro.
Não sou ingênuo ou adepto da violência alarmista. Essa sempre existiu, agravada pelo aparecimento dos avanços tecnológicos da informação, entre outros. Relembro. A Peste Negra (1347 – 1351), dizem, teve cerca 200 milhões de mortes; é considerada a pandemia mais mortífera e com o impacto mais duradouro na História, porém é esquecida pela maioria das pessoas. Crê-se que o surto começou na Ásia Central e seguiu pela Rota da Seda até chegar à península de Crimeia — disputada entre a Rússia e Ucrânia na atualidade— em 1343. Hospedada nas pulgas dos ratos, espalhou-se por toda a Europa, usando como meio de transporte os barcos dos comerciantes.
Em pleno século XX, Joseph Goebbels (1897 – 1945), ministro da Propaganda da Alemanha nazista, fundou o periódico Der Angriff (O Ataque) para, logo em seguida, assumir o posto de diretor nacional de propaganda do Partido Nazista.
Goebbels utilizava cartazes, filmes, agitações de rua e outras formas de aproximação entre aquilo que era defendido pelos nazistas e a população alemã, ideia difundida também por meio dos jornais, rádios, filmes, peças de teatro, literatura, música e artes, enfim, todas as formas de mídia disponíveis à época. Com isso ele incitou a população alemã, apesar de não dispor dos avanços técnicos de difusão midiática, o que resultou nos milhões de mortes ocorridas na Segunda Grande Guerra. Imaginem agora com os meios virtuais que dispomos?
Saindo dessas digressões históricas, a exposição da gripe atual na mídia me faz apelidá-la de pandemia informatizada. A primeira da História. As consequências disso são graves, pois abarcam três vocábulos: Psicológico – Econômico – Social, e extrapolam da vida virtual para a vida real, provocando um surto violento nessa alcunhada Era da Ansiedade.
Demo-nos conta, finalmente, de que as ansiedades instigadas pela pandemia não se evaporaram com as curvas, tabelas e histogramas das incidências virais, nem terminaram com a aplicação da nanotecnologia. Continuam, e são de fato ainda mais ansiogênicas entre nós, habitantes do planeta Terra.
E termino com uma pergunta: O que podemos fazer?
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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Muito boa seu artigo sobre ansiedade, o mal do século. Acabara de ler um artigo sobre ansiedade em uma revista quando abri o celular e encontrei seu trabalho. Pertinente e informativo. Parabéns.