O estado e o cacete. Por José Horta Manzano
Os insultos que o capitão dirige aos que contrariam seus caprichos não surtem efeito. No começo, faziam as manchetes; hoje ninguém liga mais…
“Teu estado é o cacete!” – vomitou ele, elegantemente, quando informado de que o governador de São Paulo planejava reforçar o controle de estrangeiros que desembarcam em seu estado.
Ao pronunciar a requintada frase, o nobre líder quis reafirmar que continua se opondo firmemente a oferecer proteção ao povo brasileiro contra novas cepas de covid provenientes do exterior. Que todos enfrentem o vírus, pô! Peito aberto, sem medo e sem vacina! Todo o mundo tem de morrer mesmo!
Ainda bem que ele é, que eu saiba, o único dirigente do mundo a pensar assim. Se não, a humanidade estaria sendo dizimada.
No Brasil, ainda temos a sorte de viver numa federação, tipo de organização do Estado que dá aos governadores autonomia para decidir nos respectivos estados; é isso que nos tem salvado. Em outras partes do mundo, quem manda é o governo central, sem possibilidade de discussão. Imagine o Bolsonaro presidindo um país desses! Morticínio garantido.
Cresce a lista de países que apertam o cerco em volta dos que recusam a se vacinar. Aqui estão alguns exemplos:
Turquia
Desde agosto, prova de vacinação é exigida dos profissionais de alguns setores de atividade, entre os quais, professores.
Ucrânia
Desde outubro, a vacinação é obrigatória para funcionários públicos, incluindo professores. Além disso, os não-vacinados não têm acesso a restaurantes, locais esportivos e eventos em geral.
Polônia
A partir de março próximo, professores, funcionários do setor de segurança e agentes policiais serão obrigados a apresentar certificado de vacinação.
Letônia
Desde 12 de novembro, parlamentares não-vacinados estão impedidos de participar de debates e de votar. Além disso, não receberão salário enquanto não se vacinarem.
Itália
Desde outubro, o passaporte covid é exigido de todos que trabalham: funcionários, empregados, operários, professores, policiais, militares. Ninguém escapa.
Dinamarca
Lei votada em novembro autoriza empregadores a não aceitar a presença de funcionários não-vacinados.
Costa Rica
Desde setembro, a vacinação é obrigatória para todos os funcionários públicos.
Croácia
Desde 15 de novembro, tanto funcionários públicos quanto cidadãos que precisam de serviços públicos têm de mostrar o passaporte covid digital.
Áustria
A partir de fevereiro 2022, a vacinação anticovid será obrigatória para todos os adultos. Quem não obedecer será multado em 600 euros (3800 reais). A multa será renovada a cada três meses. Fazendo as continhas, uma família de 4 pessoas que recusar terminantemente a vacina vai pagar, em um ano, a impressionante soma de 9.600 euros (mais de 60 mil reais). Pra bater pé firme na recusa, só sendo abastado.
Alemanha
A Alemanha está em plena mudança de governo. Mas a obrigatoriedade está em estudo e deve ser anunciada brevemente.
Grécia
A partir de 16 de janeiro, os idosos (60 anos ou mais) que tiverem recusado a vacina estarão sujeitos a multa de 100 euros (630 reais) por mês.
Então, quem dá mais?
Cantem todos comigo: “Teu estado é o cacete!”
Nota 1 – Banco Mundial
Nossa sorte, além do guarda-chuva representado pelos governadores, é que ninguém dá ouvidos ao capitão. Segundo levantamento do Banco Mundial, o Brasil é o país latino-americano com menor rejeição à vacina. Uff!
Nota 2
Cacete – Acepções
Já tivemos presidente cacete.
Já tivemos presidente do cacete.
Já tivemos presidente que foi uma cacetada.
Um grande jogador de rugby francês tem um sugestivo sobrenome: Picamoles. (Lembrando que, em francês, o “s” final não é pronunciado.)
Disclaimer: Toda alusão a qualquer pessoa viva ou falecida terá sido coincidência fortuita e não-intencional.
Em compensação, no Cudomundistão, país cujo cumandante acha melhor perder a vida que a liberdade (de matar, claro), e cujo ministro (!) da saúde (!) concorda com ele, o buraco é muito mais pra baixo. É o próprio cumandante. Só pau mandado resolve esse problema…