É preciso apenas contar a História. Por Angelo Castelo Branco
Como sempre acontece, as questões da história recente do Brasil, principalmente sobre a ruptura constitucional de 1964, terminam se transformando em polêmicas quando aplicadas em certames públicos como no caso das provas do Enem.
Grupos ideológicos de direita e de esquerda insistem em fazer prevalecer suas respectivas versões em detrimento de uma visão adequada ao que efetivamente aconteceu.
A história tem que ser avaliada considerando-se a realidade política e os valores éticos e morais em vigor no tempo cronológico de cada episódio.
O mundo muda constantemente e o Brasil de 1964 não existe mais. Os líderes, os hábitos, os preconceitos da época, e os costumes de então, estão mortos e enterrados.
Em 1964, a sociedade brasileira, com apoio de todos os meios de comunicação de grande porte, incluindo jornais, rádios e TV, foi às ruas para derrubar o governo.
A situação do presidente João Goulart ficou insustentável. A esquerda não inspirava a confiança da sociedade e o Brasil não possuía uma estrutura econômica sólida o suficiente para inibir movimentos desestabilizadores da ordem constitucional.
Tivemos muitas dificuldades. A maior delas decorreu da supressão das garantias individuais. Decretaram a suspensão do Estado de Direito e passaram a tutelar o poder legislativo. Cassavam mandatos e estabeleciam censuras à imprensa. Acabaram com eleição para presidentes, governadores e prefeitos de capitais.
O quadro de 1964 seguramente jamais será revivido. Não caberia no Brasil globalizado e conectado apesar de insistentes apodrecidas narrativas de velhos políticos matreiros e supostos psicopatas obstinados por controlar a vida dos outros.
Nos últimos 60 anos o nosso país criou raízes econômicas consistentes, reconquistou a liberdade de opinião e os direitos individuais, restabeleceu o sistema democrático do voto universal e assistiu a uma evolução social comprometida com a plena liberdade e fortalecida o suficiente para enxotar aventureiros e aproveitadores da boa fé.
O passo seguinte, ainda em curso, será o de eliminar a corrupção e os desperdícios dos recursos públicos. O bom eleitor deveria optar pelo candidato que preste contas de cada centavo arrecadado do bolso de cada cidadão. E que ao por a cara numa campanha eleitoral deixe muito claro quais são as suas metas e em que tempo pretende cumpri-las.
Simples assim.
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Angelo Castelo Branco – Jornalista. Recifense, advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.
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Seria simples não fosse o país em questão o nosso, o que não significa que não seja possível.
A etapa será árdua e desentranhar desse nefasto hábito adquirido de séculos exigirá empenho: chegaremos lá, mas demora.