A grande decisão. Blog do Mário Marinho
Palmeiras e Flamengo já estão em Montevidéu, cidade momentaneamente transformada em Capital Sul-americana do Futebol.
Cidade que me traz gratas recordações, pois foi meu primeiro destino internacional, em 1968.
Era recém-chegado de Belo Horizonte para o JT quando fui escalado para cobrir o jogo Palmeiras x Estudiantes de La Plata, final da Libertadores.
O Palmeiras havia perdido em La Plata e vencido o jogo de volta no Pacaembu.
Como na época não havia diferença de gols, foi necessário um terceiro jogo, em campo neutro.
Lá fui eu na companhia dos fotógrafos Reginaldo Manente e Osvaldo Palermo; Alaur Martins nas comunicações. Se não me engano, o repórter do Estadão foi Milton José de Oliveira.
Foi a primeira vez que o Estadão usou equipamento de rádio para transmissão de fotos e matérias.
Nos instalamos no hotel Nagaró, bem no centro da cidade.
Enquanto o Palmeiras não chegava, fiz diversas matérias pela cidade.
A cada dia que passava, aumentava o número de argentino. Para eles era fácil: bastava atravessar o rio Prata.
A viagem do Brasil para lá, na época, era já mais complicada.
De tanto ver argentinos e nenhum brasileiro, comprei um pequeno distintivo do Palmeiras e coloquei no peito para registar que havia ali um brasileiro.
No dia do jogo, que decepção!
O Palmeiras amarelou.
O Estudiantes deu porrada a torto e a direito. Foram 15-20 minutos de pancadaria sob o olhar complacente do juiz e o temor dos palmeirenses. Só um jogador escapou: Ferrari. O lateral esquerdo não teve dúvidas: revidou cada porrada que levou.
Mas não foi o bastante e o Verdão foi derrotado. Derrota feia: 2 a 0.
E o time não era ruim. Confira:
Valdir; Geraldo Escalera, Baldochi, Osmar e Ferrari; Dudu e Ademir; Suingue, Servílio (China), Tupãzinho e Rinaldo. O técnico foi Alfredo Gonzales.
Saí do estádio Centenário (foto ao alto) já de madrugada de volta ao hotel.
Era madrugada fria (o jogo na noite do dia 16 de maio, uma quinta-feira) quando cheguei ao hotel e me deparei com uma situação inesperada: até aquele momento, a matéria o Estadão não havia sido passada, nem enviada nenhuma foto.
O sistema de rádio simplesmente não funcionava.
Na época, não havia satélite e a comunicação se dava através da propagação e ondas. E, com o frio intenso, neblina no Uruguai e no sul do Brasil, não havia propagação.
E, pior: não havia plano B.
Esperei até às cinco horas da manhã. E nada.
Fui até à gerência do hotel e pedi para usar o telex. O hotel não tinha telex.
Com providencial ajuda do gerente que entendeu o meu desespero, conseguimos identificar o escritório da UPI (United Press Internacional).
Eu não acreditava que haveria alguém no escritório àquela hora.
Para minha surpresa, uma voz sonolenta atendeu.
Expliquei como pude o problema e o rapaz da UPI (não me lembro o nome dele) pareceu despertar.
– Venga! Venga!
Então fiquei sabendo que o telex estava instalado na casa dele. Ele era o jornalista correspondente da UPI.
Mas, lá chegando, outro problema: também o telex não conseguia se comunicar com São Paulo.
O calmo jornalista procurou me tranquilizar:
– No te pongas nervioso.
Como não? Minha primeira viagem internacional. Que fiasco!
E o cara logo encontrou a solução.
Ele fez uma ligação com a UPI de Lisboa. Pegou a fita da matéria que eu já havia gravado e enviou para Lisboa que se conectou com São Paulo e retransmitiu a matéria.
Eram 9 horas da manhã quando, sonolento, deixei o escritório-residência da UPI e fui para o hotel.
Joguei-me na cama e acordei às duas da tarde com um aviso que havia chegado para mim um telegrama de São Paulo.
Deve ser a minha demissão, pensei.
Era um telegrama assinado pelo meu editor de Esportes, Marcos Faermann, dando contra que a matéria havia chegado a tempo.
E dando-me os parabéns por ter encontrado a solução.
Nada mal, respirei aliviado.
São lembranças de um jovem jornalista.
Agora, os jornalistas que estarão em Montevidéu para a cobertura de Palmeiras x Flamengo, não encontrarão esse tipo de problema.
Os tempos são outros.
Quem é favorito?
Time por time, o Flamengo leva vantagem.
Mas, como diria Vicente Matheus, clássico é clássico e vice-versa.
Tomara que tenhamos um belo jogo.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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