Pensando no Brasil que temos. Por Angelo Castelo Branco
… Ninguém alertou que o negacionismo derivado da derrota eleitoral, seja qual for o partido rejeitado nas urnas, é uma ofensa ao arcabouço democrático e um desrespeito à opção da maioria. Desprezar a vontade de uma sociedade é um alto risco de admissão à barbárie política…
Estamos a viver dias estranhos. Em debate promovido no auditório de um conceituado jornal paulista aplaudiram a hipótese segundo a qual o nosso país está sob uma ditadura. E não porque o Estado de Direito e a livre manifestação da opinião tenham sido surrupiados por algum ditador de plantão nem por alusões a decisões do Judiciário que muitos pensadores associam ao maldito regime de força. O conceito de ditadura acatado naquele auditório parecia uma mera insatisfação pelos resultados das eleições de 2018.
Os candidatos simpáticos à plateia tiveram menos votos do que seus adversários e, derrotados, seus militantes preferem desqualificar e desdenhar da democracia, duramente conquistada por uma geração de heróis resistentes aos anos de chumbo, do que simplesmente revigorar um jogo limpo e transparente para 2022.
Ninguém alertou que o negacionismo derivado da derrota eleitoral, seja qual for o partido rejeitado nas urnas, é uma ofensa ao arcabouço democrático e um desrespeito à opção da maioria. Desprezar a vontade de uma sociedade é um alto risco de admissão à barbárie política. O jogo do poder pelo grito, e não pelas urnas, é letal e destrói direitos naturais. Que o digam a guilhotina francesa de 1789 ou os fuzilamentos sumários cubanos de 1959 entre outros exemplos da história. Deixaram lágrimas, sangue e luto.
Vamos mergulhar em 2022 provavelmente sobressaltados por outros espasmos de insensatez. A onze meses das eleições a grande mídia brasileira começa a pintar o nosso quadro real. Os índices de rejeição dos atuais candidatos à presidência da República são elevadíssimos e vão se tornar muito mais dramáticos na medida em que o debate se aprofunde e os protagonistas se exibam em tempo igual. Os seus podres e virtudes vão ser julgados no recôndito dos lares de cada brasileiro que se disponha a participar do processo eleitoral. E o imprevisível é algo inerente a qualquer jogo limpo e livre. A cada movimento de rotação tudo pode mudar. Ou não.
O traço curioso e aparentemente despercebido, mas muito pulsante entre nós, vem por conta de um forte complexo de colonizado que perdura no Brasil. Os nossos candidatos viajam para o exterior em busca de uma festejada e glorificante homologação universal para as suas pretensões de poder. Vão, paradoxalmente, conquistar ganhos de imagem não entre os formadores de opinião de seu país e sim em nações outrora colonizadoras que muito se beneficiaram de riquezas extraídas pelo braço escravo.
Porém, essa é uma outra história.
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Angelo Castelo Branco – Jornalista. Recifense, advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.
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