Brincando com as urnas. Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 17 DE NOVEMBRO DE 2021
O presidente Bolsonaro é candidato à reeleição. Mas, faltando trezentos e poucos dias para a eleição, não tem partido. Faltam cinco meses para o prazo final de filiação – e, embora leve votos ao partido a que se filiar, isso não fica de graça, não. O presidente saiu do PSL porque Luciano Bivar, o cacique do partido, lhe negou o controle do Fundo Partidário e das milionárias verbas de campanha. Tentou formar um partido e fracassou.
Há profissionais nessa área, mas não são baratos – e hoje não há mais tempo. Tentou o PL, achando que Valdemar Costa Neto seria flexível. E é – mas quem manda no partido e em seus cofres é ele. Bolsonaro queria que seu filho Eduardo “Bananinha”, assim apelidado pelo vice Hamilton Mourão, tivesse o controle de São Paulo. Brigaram aos palavrões (o que não quer dizer que um acordo seja impossível. É possível, mas vai custar mais caro). Há outros partidos, mas em todos há problemas: fortes alas antibolsonaristas ou bons candidatos que não querem bolsonaristas por perto. Sem partido, Bolsonaro fica fora do jogo.
Lula, hoje seu maior adversário, conversou com Alckmin para vice. Difícil: Alckmin é candidato forte ao Governo paulista e quer se vingar de Doria, derrotando seu candidato. Deve entrar no PSD, e Gilberto Kassab não parece disposto a apoiar Bolsonaro. Chapa com dois paulistas (Lula nasceu no Nordeste, mas politicamente é de São Paulo) fica difícil. Lula prefere um empresário de vice. Já deu certo uma vez. Por que não repetir a fórmula?
Jogo sério
Gilberto Kassab não brinca: é hábil, raciocina friamente, sabe para onde sopram os ventos. Ele vê os sinais de fraqueza de Bolsonaro: ser rejeitado por Valdemar Costa Neto é um deles. Outro é ver o presidente ser atacado por um de seus partidários mais obedientes, o ex-chanceler Ernesto Araújo (aquele que se orgulhava, como Bolsonaro, do isolamento internacional do Brasil).
Pior ainda, Araújo é seguidor, como os filhos 02 e 03 do presidente, do escritor Olavo de Carvalho, o pai do “bolsonarismo ideológico”. Araújo ousou criticar o Mito: rejeitou a aproximação entre Bolsonaro e o Centrão. “Surgiu aquela coisa, ‘precisamos fazer do Centrão a base do Governo’. O que a gente viu é que o Governo virou a base do Centrão”. Se até Araújo o critica, imagine os que não são tão fiéis! Kassab está fora. E, se ele acha que é possível levar Rodrigo Pacheco ao segundo turno, é bom prestar atenção.
O famoso “quem”?
Tarcísio de Freitas, que foi alto funcionário do Governo Dilma e é hoje o ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, pensa em ser candidato a algo em São Paulo – senador ou governador. OK, não tem partido, não mora em São Paulo e precisará aprender onde fica a avenida Paulista, mas sonha com isso. Em Dubai, onde está com o presidente, falou como candidato: garantiu que o Brasil investirá R$ 1 trilhão em infraestrutura até 2022, transformando-se num país moderno, eficiente e rico. Talvez não tenha se lembrado de que o ministro Paulo Guedes tinha prometido arrecadar R$ 1 trilhão no primeiro ano do Governo, só com as privatizações. Mas lembrou o título de um livro histórico do escritor austríaco Stefan Zweig, Brasil, País do Futuro, e disse que “nós teremos aquilo que merecemos ser: o país do futuro”.
Poucos meses depois de publicar o livro, Stefan Zweig se suicidou.
Amaciando arestas
As prévias para escolher o candidato do PSDB à Presidência provocaram choques entre os três candidatos, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria. Mas, ainda antes da escolha, os principais candidatos, Leite e Doria, já buscam acertar suas diferenças. Trocaram bilhetes amistosos, marcaram conversas, buscando basicamente evitar que o candidato derrotado apoie um adversário ou simplesmente cruze os braços e se esqueça de participar da campanha. Uma ou outra rachadura existirá no partido (por exemplo, Aécio Neves não fará campanha por Doria, que por sua vez insiste em expulsá-lo do PSDB). Mas os dois principais candidatos tentam mesmo a união.
O voto do patrono
O ex-presidente Fernando Henrique se cadastrou ontem no aplicativo do PSDB para as prévias – era o último dia do prazo. E poderá votar nas prévias, no domingo. Fernando Henrique já declarou que vai votar em João Doria.
Metade do dobro
No dia 26 de novembro ocorre a maior liquidação do país, a Black Friday. Pelo menos é o que dizem. Mas os anúncios consultados por este colunista não autorizam esta previsão. Na última coluna, já citei um produto cujo preço é de R$ 64 e cai para R$ 62. A respeitada revista econômica InfoMoney publicou, sob o título “‘Black Fraude’ – Pouco antes da Black Friday, preços de produtos sobem até 70%, indica Ibevar” (Ibevar é o Instituto Brasileiro de Estudos do Varejo).
Informa a CNN: “Foi Black Fraude? Cerca de 35% das promoções da data não teve desconto real”.
Cuidado! E boas compras!
É grave, para não dizer tendencioso, que o Sr. Brickmann, jornalista de grande peso, discuta a política brasileira e as próximas eleições, e não mencione o fato mais importante da semana (quiçá, do ano!). Muito se tem falado de ‘terceira via’; citam-se os nomes de Moro e Datena, neles depositando esperança e de fé, mas, quando a autêntica ‘terceira via’ se apresenta, não se lê aqui nenhuma palavra a respeito. Inacreditável! Aqui, todo mundo é comunista. Mas, agora, os verdadeiros democratas, que apostam no futuro, na modernidade, na sensatez, encontrarão enfim o verdadeira ‘terceira via’, que acaba de lançar pré-candidatura. Sim, minha gente; é verdade! Cabo Daciolo acaba de se filiar a um partidinho qualquer, e, a esta altura, já deve haver uns cem milhões de adoradores da ‘terceira via’ que finalmente terão seu candidato para acabar com tudo isso que tá aí!
REd, Red, seu engraçadinho!!!! Beijão