BolsoMoro, uma radiografia. Por Thiago Amparo

BolsoMoro, uma radiografia. Por Thiago Amparo

Estamos diante de um presidenciável que une conservadorismo, sebastianismo, neoliberalismo num terno alinhado

BolsoMoro, uma radiografia. Por Thiago Amparo
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA FOLHA DE S. PAULO, 10 DE NOVEMBRO DE 2021

O que não se pode dizer de Sergio Moro, o político, é que não possui um projeto de país, porque o possui.

Moro é perigoso por ser um Bolsonaro que sabe usar garfo e faca: veste roupagem palatável a uma elite autoritária, mas envergonhada. Ao andar de cima, incorpora retórica privatista que soa como violino num Titanic afundando. Ao andar de baixo, apela para um sentimento anti-estado, mas punitivista que encanta uma classe média que se vê como pobre e uma classe pobre que se vê como empreendedora.

Moro, o candidato, põe uma focinheira no bolsonarismo, mas esquece a coleira: mantém vivo o radicalismo messiânico do qual é parte, mas coopta para si a fala mansa. Moro não ganhará a eleição, mas sabiamente se entranha no espaço ideológico que a direita democrática tucana deixou vago ao se deixar seduzir pelo bolsonarismo.

A diferença entre Sergio Moro e Jair Bolsonaro não é de espécie, mas de tom. Discurso de Moro é uma radiografia perfeita do lavajatismo. Personalista porque messiânico onde o líder se vê com poderes bíblicos (“eu lutaria sozinho pelo Brasil e pela Justiça. Seria Davi contra Golias”).

Populista porque desconfiado das instituições (“é a máquina pública voltada para si mesma”). Moralista porque quer ser visto em oposição a um mundo de políticos degenerados (“não tenho uma carreira política”). Neoliberal de apelo populista, porque prega meritocracia num país de desigualdade abismal (“acreditamos no potencial de cada um”), apela para o social (“erradicar a pobreza”) mas, ao desmontar o estado, não oferece alternativas senão o vácuo (“reformar nosso sistema confuso de impostos”).

O país está, agora, diante de um presidenciável que une conservadorismo, sebastianismo, neoliberalismo num terno alinhado. Não há nada mais perigoso do que quem prega não fazer política fazendo-a. Moro é o anti-herói que, se não diz como Bolsonaro que fuzilará seus oponentes, escreve o excludente de ilicitude que nos levará para a mesma vala.

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Thiago Amparo - GeledésThiago Amparo Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

2 thoughts on “BolsoMoro, uma radiografia. Por Thiago Amparo

  1. Difícil eu concordar com alguém logo na primeira leitura. Parabéns! Você despertou o senso de satisfação num leitor chato. Mas tome cuidado, viu! Não se molesta impunemente a sereia que encanta os marinheiros de segunda, terceira, quarta viagem… e os põe no rumo de mais um naufrágio certo! Principalmente, quando ela conta com grandes empresas de comunicação a seu lado. É quando seu canto fica realmente ensurdecedor!

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