A esperança ainda resiste. Por Edmilson Siqueira
… É uma esperança, como foi FHC, Lula e Bolsonaro. Se todos os que se decepcionaram com esses três apostarem naquele que é realmente diferente dos três, talvez a esperança se torne realidade…
A inflação está em dois dígitos novamente. A última vez que isso aconteceu foi no início do Plano Real, mas ela estava em viés de baixa e logo baixou e assim se manteve, produzindo o “milagre” que o PT, assim que o plano foi lançado, dizia ser impossível. Um documento, divulgado dias depois, assinado pelo partido e escrito por Luiz Mercadante, Maria da Conceição Tavares e um ou dois outros “economistas” do partido dos quais não me lembro os nomes, dizia se tratar de um plano eleitoreiro (foi a única previsão que acertaram pois o plano elegeu FHC) e que, logo após as eleições, a moeda ia perder valor, a inflação ia aumentar e o Brasil voltaria aos piores momentos do governo Sarney ainda no primeiro semestre de 1994.
A história se mostrou diferente, a inflação caiu e se manteve baixa, o real cruzou algumas tempestades e conseguiu se manter firme por um bom tempo e tudo fazia crer que, finalmente, a economia nos levaria a ser um país decente. Infelizmente a covardia da maioria dos tucanos colocou tudo por água abaixo, não fazendo as reformas necessárias, segurando a moeda para não perder eleitor e não realizando as privatizações que melhorariam a performance do governo e atrairia o capital privado internacional para um Brasil com farta mão de obra barata e um gigantesco mercado.
Ao fim do “tucanismo”, Lula chegou ao poder, prometendo manter a economia dentro dos parâmetros do Plano Real e prometendo fazer tudo que FHC não fizera. Se Lula ajudou boa parcela dos miseráveis e pobres do Brasil (em troca dos votos deles) é certo também que sua política econômica populista (estilo Maluf, diga-se) favoreceu empresários escolhidos a dedo para promover a maior corrupção que o mundo já viu. O resultado dessa mistura – só possível com ampla aliança com os piores setores da política, com o PT se tornando também como um dos piores – foi um crescimento pífio, insuficiente para eliminar a miséria e a pobreza, bem como insuficiente para colocar o Brasil no rol do primeiro mundo. Claro que a corrupção e as escolhas erradas em termos de alianças internacionais pesaram muito para que o petismo, ao fim de 14 anos de poder, fosse substituído por um desconhecido ex-milico com um discurso violento, ignorante e louvando ditadores de direita (em contraste com a louvação dos ditadores de esquerda que o PT fazia e faz).
Jair Bolsonaro chegou ao Planalto – soube-se rapidinho – sem qualquer plano de governo a não ser se reeleger em 2022. Só que foi muito pior de tudo que já houvera antes no país.
Se ele recebeu uma herança maldita de Dilma Rousseff – inflação em alta, desemprego altíssimo, contas públicas estraçalhadas e péssima imagem mundo afora – é certo que nada fez para que essa imagem melhorasse e sim piorasse sensivelmente.
A inflação, como disse na abertura, caminha para um recorde depois de domada pelo Plano Real no longínquo 1994, o desemprego insiste em ficar no mesmo número herdado de Dilma (o trágico 14 milhões), a corrupção está cada vez mais protegida por leis e comportamentos de entidades que deveriam combatê-la, a economia medida pela taxa de juros mostra que o governo tem de pagar cada vez mais pelo dinheiro que capta para pagar compromissos assumidos agora e os gastos públicos que deveriam diminuir consideravelmente nessas condições, aumentam desavergonhadamente em busca da compra de votos dos eleitores e de apoio de uma base altamente volúvel que pode abandoná-lo quando os cofres secarem e os sinais de derrota em 2022 se tornarem mais evidente ainda do que já são.
O Brasil vive uma calamidade em todos os sentidos e a culpa, como se vê, vem sendo produzida ao longo dos últimos 20 anos, desde os últimos anos de FHC. Mas, é evidente, piorou e muito nesses três anos de Bolsonaro, onde a incapacidade de governar se juntou à desonestidade dos grupos que sempre usurparam os cofres públicos e hoje são o centro do poder no país. Resumindo: o pior presidente que o país já teve (e olha que a concorrência é grande) se juntou ao que de mais podre habita as casas legislativas e judiciárias do Brasil.
Agora resta recomeçar mais uma vez. O próximo presidente, seja ele quem for, vai encontrar a economia ladeira abaixo, a inflação morro acima, os cofres comprometidos em muito mais que 100% da capacidade de arrecadação, a bolsa derretendo, a taxa de juros altíssima e a confiança do investidor no nível do Haiti.
Não creio que as pesquisas de hoje sejam as que teremos em futuro próximo. Dentro de três meses esse número deve sofrer mudanças significativas, como aliás mostram as próprias pesquisas se olhadas na linha do tempo. Lula parece ter chegado a um limite que não deve aumentar, pelo contrário tende a diminuir com a disputa aumentando e com o PT mostrando a verdadeira cara, como no apoio à “reeleição” do ditador da Nicarágua. Bolsonaro vem caindo mês a mês, por conta de o país piorar mesmo com a pandemia chegando ao fim e também por causa do seu próprio comportamento que sempre surpreende negativamente. Ou, ainda, pelo abraço em Valdemar da Costa Santos, um símbolo daquilo que, na campanha de 2018, Bolsonaro jurou combater.
A chamada terceira via, que estava indefinida em termos de nomes, ganhou nesta quarta-feira um reforço considerável. Sergio Moro se filiou ao Podemos e discursou como candidato a presidente, abordando todos os temas possíveis e neles colocando sua posição. Foi um discurso de um homem sério, honesto e que passa forte impressão de estar falando o que realmente pensa e quer fazer.
É uma esperança, como foi FHC, Lula e Bolsonaro. Se todos os que se decepcionaram com esses três apostarem naquele que é realmente diferente dos três, talvez a esperança se torne realidade.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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