crônica - disco voador

Gostaria de escrever uma crônica. Por Meraldo Zisman

As batalhas continuam enormes, a peste, a violência, a incúria, os poderosos, a injustiça, a miséria, a escravidão, a luxúria e as fomes aumentam. O tempo foi passando, as guerras cada vez mais mortíferas e quando estavam prestes a se exaurirem por causarem tanta carnificina e danos ambientais da imundície desses combates sem fim, resolveram dar um basta.

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Instinto de conservação? Não saberia dizer, juro.  Resolveram finalmente viverem em tranquilidade.

Nisso, passado o tormento, chegou à Terra um disco voador vindo de uma galáxia cujo nome ou número e muito menos há quantos anos luz distam daqui, isso pouco importa.  Aterrissado numa planície ainda chamuscada pelo fogo dos combates. Abriram a porta da espaçonave, desceram e nada encontraram. Avistaram somente a desolação e alguns arvoredos, renascendo.

— Que estranho esse planeta de nome Terra, exclamou o astronauta de nome Alfa, enquanto ajeitava o capacete.

— Mesmo, mas olhe ali uma casa.

— Vamos lá Alfa, falaram ambos, quase ao mesmo tempo.

E foram andando em direção as casas. Ao passarem por um prado avistaram algumas cabras cuidadas por um pastor e ao lado delas uma onça pintada, brincando com o cachorro.  Olharam-se entre eles, admirados e certamente pensaram:

“Quem já viu onça e da pintada ser amigo de cachorro, vou fazer um relatório ao Chefe”.

Chegaram, por fim a porta do casebre. Apesar de cansados, pois a força de gravidade exigia grande esforço deles. Empunharam suas armas de laser e com um chute puseram a porta abaixo.

Qual não foi a surpresa ao avistarem homens e mulheres, das mais diversas cores e etnias, tomarem uma refeição em perfeita harmonia.  Convidados a entrar os dois astronautas. Ficaram pasmos. Pensaram que iriam assustar os habitantes daquele planeta com suas armas e violências. Não sabiam como agir. Perguntaram pasmados:

— Onde estão vossos soldados, vossos generais e os donos do poder?

— Há muito tempo deles não necessitamos, respondeu um dos presentes.

— E vocês não possuem heróis, nem exércitos, nem paradas militares, perguntou Alfa, o mais esperto.

— E onde estão os vossos guerreiros, indagou o outro com vontade de por a prova seu treinamento bélico.

— Para que se temos nosso pão, nossos filhos, nossas azeitonas e depois de comermos e bebermos, para que precisamos de valentões.

— Que planetas mais estranhos disseram o Alfa e ao Beta, admirado.

E olhando um para o outro, se perguntaram:

— Será que erramos de endereço, nosso computador de bordo calculou errado o nosso destino, somos guerreiros e aqui nesse lugar ninguém é de briga?

— Que lugar é esse?-, não é o planeta Terra, perguntaram em uníssono.

Um ancião parou de comer e inquirindo suavemente os dois estranhos:

— Como dizes? Caminhante do espaço.

— Disse planeta Terra, retrucou mal humorado o Alfa.

— Ah, respondeu o velho, mudamos o nome para Planeta Paz. Isso foi há muito tempo quando éramos uns tolos e guerreávamos por bobagens… e prosseguiu o velhinho:

— Trocamos de nome agora somos o Planeta da Paz.

—Aceita um cafezinho?  Acordei-me assustado.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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