Polêmica do The Closer. Por Wladimir Weltman
SOBRE A POLÊMICA ENVOLVENDO DAVE CHAPPELLE, THE CLOSER, SEU ESPECIAL DA NETFLIX, E A COMUNIDADE LGBT
Depois de muito tititi e mimimi aqui nos EUA por causa do especial de TV de Dave Chappelle, THE CLOSER, no canal Netflix, resolvi assisti-lo.
Se tomo a palavra, contra meu próprio bom senso, é porque me sinto no direito. Haja visto que sou membro de mais de uma minoria. Vejam só: sou judeu, latino-americano vivendo nos EUA, sou sexagenário e vivo de escrever. Estou casado com a mesma esposa há mais de 36 anos. Sou hétero, mas tenho parentes e amigos gays e trans. Então, de cima de minha “privilegiada” posição minoritária, subo no caixote em praça pública para opinar.
Assisti o especial de cabo a rabo. E confesso que não vi nada tão terrível que Chappelle tivesse dito sobre a comunidade LGBT. Nada muito além do que se diz hoje em dia em shows de “Stand Up Comedy” aqui nos EUA. O que, sim, notei era que, mais do que um simples “stand-up”, o programa de Chappelle foi um imenso desabafo de um artista negro se sentindo pouco compreendido pelos que o criticam. Ou seja, de comédia tinha pouco, de mágoa tinha muito. Infelizmente parece que no processo ele magoou muita gente.
Há quem diga que a turma LGBT que protesta contra Chappelle, não passa de um bando de patrulheiros do “politicamente correto”. Não iria tão longe, mesmo achando essa correção política bem chatinha. Principalmente para quem faz humor. Eu mesmo já estive, humildemente, nesta posição, quando por cinco anos fui um dos roteiristas do ZORRA TOTAL e tinha que ouvir de colegas e amigos as críticas do gênero: “Que programa racista… Machista… Homofóbico… Antiquado”.
O fato é que quem sofre diariamente na pele algum tipo de discriminação — como é o caso da comunidade LGBT — é naturalmente sensível. Basta tocar de leve na ferida que dói.
Lembro-me de um causo que aconteceu com meu tio, o jornalista e escritor Henrique Veltman. Titio era amigo do Paulo Francis (1930 – 1997), genial jornalista, crítico de teatro e escritor brasileiro. Vez ou outra Paulo escrevia sobre a situação política do Oriente Médio e, numa de suas análises, emitiu opiniões que, no parecer do Henrique, tinham cunho antissemita. Sem papas na língua, meu tio fez chegar ao Paulo suas críticas. Ao que este reagiu indignado garantido não ser antijudaico. Ao que meu tio, que também tem uma língua ferina, respondeu: “Paulo, se um judeu te disser que você está sendo antissemita, acredite. Os judeus têm mais de 2 mil anos de experiência nesse assunto!”.
Quer dizer, por mais que eu mesmo não veja o que de errado o Chappelle disse no seu show. A comunidade LGBT ficou chateada e reagiu. Talvez nem tanto pelo que ele tivesse dito, mas como uma espécie de tratamento preventivo. Para que os demais comediantes a sua volta, pensem duas vezes antes de achar que o assunto vale uma piada…
Seja como for, tá na hora de deixar o pobre do Chappelle em paz. Essa disputa toda já passou da conta. E deve ter resultado no oposto do que os detratores de Chappelle tinham em mente. Em vez de prejudicar a exibição do especial, só fez aumentar sua audiência.
E, o principal: o verdadeiro inimigo das minorias, não são os comediantes e humoristas. Mas aquelas figuras sérias, seríssimas, que querem proibir, tolher e censurar todas as formas de manifestação artística que possam evidenciar os elementos mais retrógrados e antidemocráticos que existem em nossa sociedade.
Esses sim são um bando de gente perniciosa e que não tem a menor graça.
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo
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Assim como você assisti ao The Closer e não vi absolutamente nada de ofensivo no que Chappelle disse. E também assim como você senti um desabafo magoado por parte do artista.
Porém discordo quando você usa a mesma régua para nivelar os 2000 anos da experiência semita à comunidade LGBTXYZ.
A comunidade tem seus direitos, ninguém os tira, porém sua estridência no meu entender é inversamente proporcional às ‘possíveis ofensas’ vindas do setor cômico-artístico.
Vivemos tempos de hipocrisia politicamente correta.
É o que acho.
A geração atual é mau humorada e, no meu entender, infeliz por não saber separar riso e crítica de ofensa pessoal.
Azar o dela.