O Brasil piorou mais ainda. Por Edmilson Siqueira
…Quando a gente pensa que o Brasil, depois do PT e sob Bolsonaro, não pode piorar mais, vem o STF e prova justamente o contrário. Ao arrepio da lei, ao arrepio dos regimentos, ao arrepio do bom senso e ao arrepio da lógica (se Moro é suspeito, todos os juízes que aprovaram o processo depois dele também são, não são?…
Quando a gente pensa que o Brasil, depois do PT e sob Bolsonaro, não pode piorar mais, vem o STF e prova justamente o contrário.
Ao arrepio da lei, ao arrepio dos regimentos, ao arrepio do bom senso e ao arrepio da lógica (se Moro é suspeito, todos os juízes que aprovaram o processo depois dele também são, não são?) a maioria dos ilustres membros do STF que tomam vinhos premiados em pelo menos duas competições, decidem que um processo que já passou por toda a Justiça brasileira, não só não poderia estar onde sempre esteve, como o juiz que o julgou articulou com seus comparsas para enganar todos os escalões superiores da magistratura brasileira. Um fato inédito, talvez, no mundo.
A elevação do juiz Sérgio Moro a gênio jurídico e a decretação de idiotice exacerbada dos revisores dos seus processos não é propriamente uma recompensa para os que viram na ação do titular da 13ª Vara de Curitiba um inacreditável exemplo de trabalho bem feito, de finalmente, colocar na cadeia os políticos e empresários que tanto infelicitam o povo brasileiro e impedem o Brasil de se desenvolver como deveria.
Pelo contrário: é uma sentença que decreta que a corrupção – que por um momento pensamos que poderia acabar – pode voltar tranquila, pois há quem garanta no mais alto escalão da Justiça, que ninguém será punido. No máximo vai responder, em liberdade, obviamente, um processo que, se tiver foro privilegiado, é rápido. Se não tiver, pode demorar um pouco mais. Mas no fim deles os bandidos são inocentados, seja através da exemplar punição do juizinho de primeira instância que ousou conversar com um procurador por uma rede social e teve essa conversa roubada e usada como prova contra ele (o que é ilegal, mas estamos no Brasil, né?), ou seja através de um pedido de vista de um ministro famoso pelos grandes lábios, que sobre o processo se sentará o tempo necessário para que o crime prescreva ou o político, rico, garanta maioria folgada na sentença final.
Assim funcionará o Brasil daqui pra frente, principalmente depois de 2022, quando, provavelmente, o Nove Dedos, responsável pela maior quadrilha que já corrompeu um país na história do mundo, deve voltar ao poder. Com ele voltarão todas as quatro ou cinco empreiteiras que farrearam com o erário, dividindo entre elas as obras que iriam ganhar nas concorrências ao preço que inventassem, desde que sobrasse percentual suficiente para saciar a fome do poder e sua maioria aliada a peso de ouro no Congresso. E com um possível detalhe que alavancará seus investimentos e “corrigirão as injustiças que sofreram”: podem receber de volta todo o dinheiro que devolveram como fruto da corrupção, afinal, os processos e as provas todas foram extintas e devem começar do zero com, possivelmente, um juiz “bonzinho”, temeroso de ser julgado pelo malvado STF.
O site O Antagonista publicou uma nota jornalística que deveria ser reprisada por toda a Imprensa: “O crime compensa no Brasil, alertem os seus filhos. A notícia é só essa.”
A sessão do STF que fez, definitivamente, o crime compensar no Brasil, definiu pelo descalabro de inocentar Lula e, por enquanto, alguns dos quadrilheiros que tomaram o Brasil de assalto (não digam que o STF não inocentou, com a facilidade que as leis brasileiras permitem protelar processos e adiar decisões, quando a primeira sentença foi exarada, se for pela condenação, encontrará o crime prescrito), foi coroada por uma pergunta do ministro Luís Roberto Barroso ao “advogado petista” Ricardo Lewandowski.
Transcrevo o que li:
Barroso: “Ministro Lewandowski, me permite: Vossa Excelência acha que o problema então foi o enfrentamento da corrupção e não a corrupção? Mas então, o crime compensa para Vossa Excelência?”
A pergunta fazia sentido, pois Lewandowski, em seu voto, criticou as prisões preventivas alongadas durante a investigação e usou as mensagens roubadas de procuradores para atacar a Lava Jato.
Mas teve outro bate-boca, quando o rei do STF, Gilmar Mendes, pediu a palavra para criticar Fachin: “O processo estava sob minha vista. Não cabia ao relator pedir adiamento. Portanto, cabia a mim colocar o processo para julgamento.”.
Barroso retrucou, dizendo que se havia uma divergência entre Edson Fachin e a Segunda Turma sobre o julgamento, caberia ao plenário do STF resolver: “Se os dois órgãos têm o mesmo nível hierárquico, um não pode atropelar o outro.”
“Talvez isso no Código do Russo”, rebateu Gilmar Mendes, referindo-se a Moro.
“Não precisa vir com grosseria. Existe no código do bom senso. Se um colega acha uma coisa e outro acha outra, é um terceiro que tem de decidir. Vossa Excelência sentou na vista durante dois anos e depois se acha no direito de ditar regra para os outros”, respondeu Barroso.
Gilmar Mendes reagiu: “O moralismo é a pátria da imoralidade”.
“Nada de moralismo, é só respeitar as regras”, afirmou Barroso. “Não tem moralismo nenhum. Vossa Excelência cobra dos outros o que não faz. Fica criticando o ministro Fachin depois de ter levado dois anos com o processo embaixo do braço, esperou a aposentadoria do ministro Celso, manipulou a jurisdição. Ora, depois vai e acha que pode ditar regra para os outros.”
Gilmar Mendes, então, disse: “Vossa excelência perdeu, perdeu.”
“Vossa Excelência não tem esse papel. Absolutamente. Está errado”, protestou Barroso.
O presidente Luiz Fux interrompeu a discussão, encerrou a sessão e fechou de vez o Brasil.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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Os religiosos costumam dizer que Deus condena o pecado mas ama o pecador. Lewandowski é extremamente crente: abomina a corrupção mas tem especial carinho pelos corruptos.