Hesitação Vacinal. Por Meraldo Zisman
Impressões negativas sobre uma vacina são muito difíceis de mudar
Cada grupo das redes sociais é formado por pessoas com opiniões semelhantes. O mesmo acontece com os que não desejam tomar a vacina contra o coronavírus ou serem contrários a esse método profilático.
Não há nada de novo nesse complexo conjunto de medos, tão contagioso ou mais no que se refere à presente, ou a pandemias passadas. Compreensivo. Introduzir qualquer coisa diferente de comida no próprio corpo ou sangue é sempre uma experiência emocionalmente carregada.
Mesmo em países onde há pressa para aplicar a vacina, a hesitação pode surgir em comunidades específicas, particularmente em grupos marginalizados. Alguns grupos desconfiam da autoridade do Estado – às vezes, devido à História das experimentações médicas – e alguns buscam orientação espiritual, em vez de temporal, sobre qual a adequada maneira de conviver. Suas crenças estão ligadas às emoções individuais e quem lida com a psiquê humana sabe que elas são impossíveis de controlar pois variam de indivíduo para indivíduo.
Mas vamos ao assunto do momento: “tomar ou não tomar a vacina”. Quanto a essa questão, há que respeitar o conhecimento profissional que diz: Ninguém consegue ser o dono das próprias emoções.
Tão logo os pesquisadores biomédicos começaram a trabalhar em vacinas contra o Sars-COV2, o vírus que causa a covid-19, as pessoas responsáveis pela Saúde Pública começaram a se preocupar com a “hesitação vacinal”.
Sei que essa hesitação vacinal é extremamente fluida no tempo e no espaço, sujeita a todas as categorias de influências. No domínio do contato entre grupos, a percepção de informação estereotipada sobre membros de fora do grupo, por exemplo através da exposição à mídia, aumentará a probabilidade não só de que se irá ativar tal hesitação no “aqui e agora”, mas de que as consequências dessa hesitação poderão ter enormes atuações maléficas, mais tarde.
Observei que, se eu receber algo muito errado através do WhatsApp e passar pra frente, estarei comentando crime seríssimo. O certo é nunca repassar tal tipo de mensagens.
Ao ficar quieto no meu antro de ignorância, não estarei induzindo as gentes que não têm o devido acesso à ciência a espalhar o medo no caso de eventos adversos da vacina, sejam eles raros ou não. Ao não repassar, nada tenho a perder, mas tenho uma enorme chance de diminuir o medo de todos. Apelo. Faça um favor para a humanidade: pare de enviar seus vídeos/áudios e reportagens de quinta categoria que só sustentam o descrédito vacinal.
O mau uso do seu endereço eletrônico ou “Zap” pode vir a matar algum familiar seu ou qualquer outra pessoa, seja amigo e até inimigo.
Pare de fazer circular notícias erradas.
Elas se espalham numa velocidade muito maior do que a do vírus que estamos tentando combater pela aplicação de medidas sanitárias de fomento à confiança da população. Lembre-se de que é mais fácil estimular a inação do que a ação de aceitar a vacinação.
O trabalho dessas pessoas “antivacina” é muito mais simples do que o dos trabalhadores de saúde pública: o medo e a dúvida são mais fáceis de incutir na espécie denominada afoitamente por nós próprios de Homo Sapiens, única espécie de Homo que ainda não foi extinta graças à ‘ciência’ que desenvolvemos desde a Idade da Pedra Lascada. Contra fatos não existem argumentos. Lugar-comum, lugar-comum, dirão muito dos meus escassos leitores, se os houver.
Pois quanto aos ditados, dizem pessoas do interior do meu estado de Pernambuco: “Ditados são a riqueza dos pobres de espírito”.
Mas tomem a vacina!
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.
Parabéns, Dr. Meraldo,
Artigo bastante proficiente.