Brasileiros, Cientistas, Cidadãos do Mundo. Por Laurete Godoy

ALBERTO SANTOS-DUMONT e MIGUEL NICOLELIS

Brasileiros, Cientistas, Cidadãos do Mundo

         “Se pudéssemos escolher um único mês que representasse a ousadia e a criatividade da ciência nacional, não tinha para ninguém. Outubro ganhava de goleada. Tudo porque nesse mês comemoram-se duas das mais célebres façanhas* de Alberto Santos-Dumont, o maior de todos os nossos cientistas. Aquele que assombrou o povo francês ao vivo, com a precisão dos seus voos diários pelos céus de Paris e fascinou todo o mundo com a concretização do sonho coletivo da humanidade de voar. “

                                               Miguel Nicolelis – 04/outubro/2006

 O doutor Miguel Ângelo Laporta Nicolelis, filho da escritora Giselda Laporta Nicolelis, nasceu em São Paulo, em 7 de março de 1961. Diplomou-se em Medicina na Universidade de São Paulo e, na mesma USP, cursou doutorado em Fisiologia Geral.  Realizou o pós-doutorado no Hospital Universitário Hahnemann, na Filadélfia, Estados Unidos. Posteriormente, tornou-se professor titular de Neurobiologia e Engenharia Biomédica e codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, em Durham, Estados Unidos.

Em 2013 Nicolelis liderava um grupo de pesquisadores da área de Neurociência da Universidade Duke, no campo de fisiologia de órgãos e sistemas, que objetivava desenvolver próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal. Entre diversas descobertas e avanços no campo da Neurociência, a equipe também descobriu um sistema que possibilitava a criação de braços robóticos controlados por meio de sinais cerebrais. O trabalho estava na lista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sobre as tecnologias que mudariam o mundo. Miguel Nicolelis, entre várias outras honrosas designações, é considerado um dos maiores cientistas do mundo.

Foi com a avó, dona Lygia Maria Laporta, que aprendeu a admirar Alberto Santos-Dumont.  Assim ele declarou em artigo publicado em 2006: – “Quando eu era menino e chegava o dia 23 de outubro, a maior neurocientista que eu já conheci, minha querida avó Lygia, sempre me dizia: ‘Hoje celebramos o dia em que o homem se vestiu de avião.’ Doutor Nicolelis considera Santos-Dumont “o maior de todos os nossos cientistas”. Sobre ele, assim se referiu: “Aeronauta da Humanidade. Cientista brasileiro. Corpo de avião. Cérebro com asas”.

Essa admiração originou a denominação de Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP) à entidade encarregada da gestão do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra. Trata-se de uma organização que capta e administra recursos públicos e privados destinados a patrocinar pesquisas científicas e projetos sociais no Brasil, cujo trabalho, muito bem sucedido, tem recebido destaque internacional.

Dia 20 de julho de 1873 nasceu Alberto Santos-Dumont, no Sítio de Cabangu, distrito de João Gomes, estado de Minas Gerais. Anualmente, em bonita cerimônia cívica é comemorado na Fazenda Cabangu, cidade Santos Dumont, MG, o aniversário de nascimento do Pai da Aviação. Nessa mesma data eram honradas, além das pessoas que tenham contribuído para a preservação, divulgação e melhoria do Museu Casa Natal de Santos-Dumont, aquelas que ajudam a manter viva no coração e memória dos brasileiros, a história do Patrono da Aeronáutica Brasileira.

Em 2012 Miguel Nicolelis, cientista brasileiro festejado mundialmente, foi indicado para receber a Medalha “Mérito Cabangu”, honraria proposta por Jorge Henrique Dumont Dodsworth, patrono da medalha e sobrinho-neto do Pai da Aviação. A indicação foi aprovada por unanimidade pelos membros do Conselho.

Vale considerar uma incrível coincidência.

Se, com a invenção do avião, Santos-Dumont mudou referenciais do Planeta Terra, Miguel Nicolelis  seguiu o mesmo caminho. Afinal, o resultado das pesquisas do doutor Nicolelis e sua equipe, a priori, estava sendo considerado como uma das tecnologias que mudariam o mundo. Como Santos-Dumont, Nicolelis está deixando o mundo bem melhor do que o encontrou.

Se Santos-Dumont colocava em seus balões uma flâmula verde-amarela para indicar que ali estava um brasileiro, Miguel Nicolelis possuía a bandeira da Ordem e Progresso fixada no seu laboratório na Universidade Duke, a informar também, que ali estava um cidadão do Brasil.

Dois cientistas, dois brasileiros, dois gênios, duas vidas, mesma paixão.

Sei que, no Rio de Janeiro, Santos-Dumont era torcedor do Fluminense. Só não sei se, em São Paulo, era fanático pelo Palmeiras…

Como Miguel Nicolelis.

*19 de outubro de 1901 – Ao contornar a Torre Eiffel e retornar ao ponto de partida, Santos-Dumont provou a dirigibilidade dos balões.

*23 de outubro de 1906 – Santos-Dumont efetuou um voo de 60 metros, pilotando o aeroplano 14-Bis. Estava inventado o avião.

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  Laurete Godoy  – pesquisadora e escritora. Autora do livro Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.

São Paulo, 12 de outubro de 2021.