Ainda a Várzea. Blog do Mário Marinho
AINDA A VÁRZEA
BLOG DO MÁRIO MARINHO
No último Blog publiquei aqui a história da primeira matéria que fiz para o JT, lá pelos idos e bem vividos anos de 1968. O tema era um jogo de várzea.
Naquela época, ainda não existia o Anhembi, que só seria inaugurado dois anos depois. Nem o Sambódromo, obra do ainda longínquo ano de 1991.
A área era tomada por campos de várzea. Eram muitos ao longo das margens do rio Tietê, onde o progresso, mais tarde, ocuparia com a extensão da Marginal, do Sambódromo, do Pavilhão do Anhembi e outras construções.
O futebol de várzea de São Paulo nasceu na Várzea do Carmo, como explica Antônio Roque Citadini em seu Livro “Neco, o Primeiro Ídolo”. Era ali nessa região, próxima das empresas de gás e de ferrovias, onde está hoje o Parque Dom Pedro, que ocorriam as domingueiras com times formados por grupos de operários, moradores de ruas, negros, brancos. “Foi esse o primeiro grande ponto de encontro entre o novo esporte e as pessoas pobres da cidade”, diz a obra de Citadini.
O futebol, recém-lançado naqueles primeiros anos do século XX, era altamente elitista, com jogos disputados no Velódromo e no Parque Antarctica.
Naquele espaço, que ficava alagado nos dias de chuva, é que o povo se divertia. E até enfrentava perigos.
Veja esta nota, na mesma obra de Citadini, publicada em jornal daquela época:
“Campo do Osório – Extensa várzea banhada pelo rio Tamanduateí no trecho entre as ruas Glicério e da Moca. Diariamente, à tarde, grupo de menores costumam realizar training de football. No dia 28 de dezembro, o garoto Teodorico, ao retirar a bola de um matagal próximo, foi picado por uma cobra urutu”.
Foi nessa várzea que Neco, o primeiro grande ídolo do Corinthians, deu seus primeiros chutes e marcou seus primeiros gols, jogando ao lado do irmão César Paredão.
Com o decorrer do tempo, a várzea adquiriu significado pejorativo, sendo aplicada ao jogador grosso, violento, sem brilho.
Mas, continuou sendo o berço do nosso futebol e até hoje, cem anos depois, ainda resiste à especulação imobiliária, ao mercantilismo e ao aprimoramento do futebol e mantém alguns times.
De todo jeito, traz boas e românticas recordações. A propósito do meu Blog publicado na última segunda-feira, recebi do jornalista Valter Pereira, o Valtinho, companheiro e amigo de muito tempo, tempos do bom Jornal da Tarde, o texto que se segue.
“Frequentei esses campos da várzea de 1962 até 1972, acompanhava o Vasco do bairro da Casa Verde onde nasci, time onde jogadores de outros bairros queriam jogar, sempre foi uma espécie de Seleção da Zona Norte. Infelizmente depois de 1972 foi se acabando. Quando os Clubes faziam aniversário era feito um cartaz comercial onde todos comerciantes ajudavam financeiramente para a comemoração. Se chamava festival e clubes de outros bairros eram convidados a participar, tinha jogo no sábado das 9hs até as 18hs, no domingo também; o último jogo sempre era o do time aniversariante. O festival do Vasco era 7 de setembro. Sou um felizardo de poder ter vistos jogos memoráveis. Acompanhava o Vasco todo domingo a tarde. Seus últimos jogadores, que chegaram aos times profissionais, o Casquinha que jogou no juvenil do Santos e que a bebida levou cedo, era tipo o Careca do Guarani e SP; teve o Mauro e o Lucas que foram juvenis do São Paulo, o Lucas foi vendido ao Santos e o Mauro foi parar no Cruzeiro de BH. Por último com o Serginho Chulapa fomos campeões do colégio Liceu Carvalho Pinto 5 vezes seguidas, modestamente eu era do segundo quadro. No primeiro quadro jogavam o Jacó do São Bento do Campo de Marte, o Didi do Vasco. O Édson jogava no Guarizinho; o Tadeu era o 10 do Nove de Julho e tinha o Serginho.
Que saudades da Várzea, Marinho!”
Ainda sobre o apaixonante tema que é o futebol de várzea, recebi do companheiro, bom amigo, também dos bons tempos do ótimo Jornal da Tarde, Paulo Chedid, o texto abaixo.
“O futebol de várzea é um caso de infância, juventude, de campos de terra batida, gramado nas beiradas, bola velha, trave quadrada, rede furada, raspadinha de groselha na lateral, juiz ladrão, sem bandeirinha, sem cal e sem marcas.
Como BH, São Paulo é montanhosa, cheia de água passando em fundo de vale, onde o brejo virou várzea.
Só a partir de 1970, os córregos viraram 23 de maio, Av Sumaré, Radial Leste.
As marginais do Tietê, Tamanduatei, Pinheiros, não tinham avenidas, tinham campos de várzea.
Ibirapuera, Brooklin, Santo Amaro, Jabaquara, de um lado, Pinheiros de outro, até Pedreira;
Na Moóca, Alto da Moóca, Zona Leste inteira.
Enquanto isso, o velho e mal humorado Tita, com Gerson, tinham páginas inteiras de A Gazeta Esportiva, com os times que queriam sair ou receber para jogos sábado pela manhã ou à tarde e aos domingos, de manhã ou à tarde.
Os melhores quadros, segundão e Sport (primeiro) jogavam aos sábados à tarde ou nas manhãs de domingo.
Conheci São Paulo na carroceria de caminhão, indo jogar no Bairro do Limão; pra lá de Deus Me Livre; onde Judas Perdeu as Meias.
Muitas vezes no segundão e no primeiro quadro quando o jogo era longe e ninguém queria.
No campo da Santa Marina, gramadinho, sobrava gente.
Bom mesmo era no campo do quartel. Tanto na Abílio Soares como no da Manoel da Nóbrega, pra onde carreguei alguns dos craques do Estadão.
Abração, Marinho”.
Bons tempos.
Santos e
Palmeiras bem.
O Santos conseguiu boa vitória pela Libertadores, 3 a 1, sobre o San Lorenzo, em Buenos Aires. Com a vitória, deu um grande passo para se classificar para a fase de grupos. O jogo de volta será na semana que vem. O Santos pode até mesmo perder por 1 a 0 que estará classificado.
Além do resultado, o terceiro gol do Santos foi marcado por Ângelo. Com apenas 16 anos de idade, ele se torna o mais novo jogador a marcar na Libertadores.
É mais um garoto daquela inesgotável fábrica de talentos do Santos.
Já o Palmeiras passou com tranquilidade sobre o Defensa y Justicia da Argentina, 2 a 1, em jogo válido pela Recopa Sulamericana. O jogo de volta será na semana que vem e, com um empate, o Verdão levanta mais um caneco.
Mas, antes, neste domingo, às 11 horas da manhã, o Verdão enfrenta o Flamengo em disputa da Supercopa do Brasil.
O jogo será em Brasília. Quem vencer, fica com o troféu.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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