BERÇO

A mão que balança o berço. Coluna Carlos Brickmann

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO

COLUNA CARLOS BRICKMANN

BERÇO

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 7 DE ABRIL DE 2021

Inacreditável: o desrespeito, a falta de vergonha violaram até o limite de atuação de organizações como a Máfia, o PCC, a Costa Nostra, o Comando Vermelho, a N’Dranghetta. O pessoal age fora da lei, é violento, rouba, mata, trafica, mas não mexe com a família e a mãe é sagrada. Porém, como já disse o presidente Bolsonaro, o brasileiro precisa ser estudado: aqui, sabe-se lá por que, um rapaz criado em família de posses, importante, influente, cuspiu na cara da própria mãe, gravou o repulsivo ato e divulgou-o pela Internet.

Que tipo de educação este rapaz terá recebido em casa? A quais exemplos foi submetido? Como chegou a esse nível nojento de comportamento? Bem, digamos de quem se trata (embora o horroroso vídeo já se tenha tornado viral e se espalhado pelas redes sociais). O rapaz é Jair Renan Bolsonaro, o filho 04 do presidente da República. E não se limitou a esse vídeo: postou outro em que, com algo que imagina ser uma dancinha, proclama sua adoração por armas de fogo em versinhos infantis, bobinhos. Tal cantor, tal música.

Jair Renan é o mais novo dos filhos de gênero masculino de Bolsonaro. Há ainda uma menina de dez ou onze anos, que o pai já arrastou pela mão, sem máscara, para uma aglomeração em frente ao Palácio da Alvorada. Jair Renan está iniciando agora sua carreira empresarial e já é alvo de inquérito da Polícia Federal, suspeito de tráfico de influência: teria recebido presentes, entre eles um carro elétrico, para marcar reunião de empresários com o pai.

Exemplos de casa

Boa parte da resistência a vacinas e a medidas de isolamento social, que funcionam contra a propagação da Covid 19, é efeito do exemplo dado pelo presidente Bolsonaro, que garantiu que a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em São Paulo, não podia ser boa, por ter origem chinesa; que cansou de saracotear por Brasília, sem máscara, causando aglomerações; que disse que só bundão contrairia a Covid; que, com a pandemia em rápida ascensão, já tirou férias duas vezes neste ano, em ambas indo banhar-se no mar, entre grupos de banhistas, sem máscara, todos aglomerados. Enfim, foi quem deu ao filho os exemplos de educação que acabam de ser mostrados.

Ele descansa, você paga

O Ministério Público pediu ao Tribunal de Contas da União que avalie as despesas das últimas férias do presidente Bolsonaro, nas quais nós gastamos R$ 2,4 milhões para ele repousar. “Num momento normal este montante já seria absurdo, diz o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado. “Todavia, na situação ora vivenciada, configura flagrante escárnio com o sofrimento do povo brasileiro”.

As informações sobre os gastos são da Secretaria Geral da Presidência e do Gabinete de Segurança Institucional – números, portanto, oficiais. Em menos de vinte dias foram gastos R$ 1 milhão com locomoção e R$ 200 mil com equipes de segurança. Em hospedagem, alimentação e diversões para o presidente, a família e convidados, as despesas foram de R$ 1,2 milhões, pagos com o cartão corporativo do presidente – mas como este dinheiro foi gasto a Presidência não revela. Tudo é rigorosamente sigiloso.

Fervura no Espírito Santo

Prepare-se que a crise tem tudo para ser brava: o jornal virtual Folha do ES revelou na véspera o vencedor de uma concorrência de R$ 139 milhões, para instalação de um sofisticado sistema de monitoramento eletrônico de rodovias. O vencedor foi o apontado pelo jornal, o consórcio liderado por uma empresa chinesa. No meio da confusão, um pendrive com enorme quantidade de material foi parar nas mãos da Folha do ES (dizem que chegou pelo Correio) – até com denúncia de oferta de propina ao governador Renato Casagrande, PSB. Já há parlamentares articulando um pedido de impeachment do governador. E o jornal colocou o pendrive na nuvem, com link à disposição de quem quiser analisá-lo. Vai pegar fogo.

Sobe e desce

Sobe a rejeição a Bolsonaro, diz nova pesquisa XP/Ipespe. Quase metade do eleitorado (48%) considera sua gestão péssima ou ruim. Na pesquisa anterior, eram 45%. De outubro para cá, quando começou a subir, a rejeição foi de 31 a 48%. No mesmo período, os eleitores que acham o governo ótimo ou bom caíram de 39 para 27%. A avaliação do desempenho do Governo na luta contra a pandemia é negativa, 58%. Mas é um pouco melhor que o triste balanço anterior, quando o desempenho do governo era péssimo para 61%.

As eleições

Ainda falta um ano e meio para botar o voto nas urnas. O retrato atual é de empate técnico entre Lula (29%) e Bolsonaro (28%). Moro e Ciro, 9% cada; Luciano Huck, 5%; Boulos, Doria e Mandetta, 3%; indecisos, 12%.

No segundo turno, Lula tem 42 a 38% contra Bolsonaro (ainda assim dentro do empate técnico). Bolsonaro empataria com Moro, por 30% a 30%, e Ciro (38% a 38%), venceria Huck (35% a 32%) e Doria (37% a 30%). Na margem de erro, Bolsonaro vence Doria e empata com todos os outros.

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3 thoughts on “A mão que balança o berço. Coluna Carlos Brickmann

  1. É verdade, Brickmann; o capitão é o tipo ideal weberiano do energúmeno, o boçalão elevado ao cubo, com seus atos, suas famílias e sua obtusidade mental a agravarem o quadro de sua condição humana miserável, abjeta, grossa. (Rousseau talvez dissesse que esse – esse! – nasceu mau…) Mas, cá entre nós, lembra-se da época em que, em plena campanha eleitoral, eu mesmo aqui escrevia que nossa triste situação nos punha entre o coisa-ruim (Alkmin), o coisa-pior (Haddad) e o coisa-pior-ainda (capitão)? Pois é! Quantos empresários de sucesso e jornalistas respeitáveis, famosos (alguns já provectos encanecidos grão-mestres do jornalismo político brasuca com coluna em revista de circulação nacional), quantos desses você não viu, ou ouviu, ou leu, quando, abandonando de vez o senso de ridículo e a vergonha na cara, passaram a simplesmente fazer entusiasmada campanha para essa quimera inorgânica saída do baixo-clero que hoje infecta nossas vidas…? Quantos? E tudo para vencer o PT…

    E veja a que ponto chegamos. As pesquisas são extemporâneas, talvez prematuras, oráculos fora de hora e de contexto, mas não mentem. Daqui a um ano e meio, eu escreverei aqui que mais uma vez estaremos entre o coisa-ruim, o coisa-pior e coisa-pior-ainda. E o coisa-pior-ainda estará mais uma vez se engalfinhando com o PT… Quer apostar que muitos dos que hoje julgam o capitão uma espécie piorada de anticristo ainda vão fazer campanha pra ele?

    1. Seu comentário é muito bom – preciso, culto, humor sutil: à altura do articulista. Talvez eu pudesse levantar o porquê da sofreguidão em tirar o PT – sim, culpada: tbm votei na criatura no segundo turno (e talvez me perdoasse sabendo que moro em Campinas e senti demasiado o assassinato do ex-prefeito Toninho do PT – morte trágica, suspeitíssima e nunca devidamente investigada).
      Mas o que farei é o elogio ao seu “quimera inorgânica”, sobre o micró-bio. Parabéns!

      Mariella M. Santos

  2. Cara Mariella. Minha mulher, que gosta de ler os desatinos que escrevo fora da academia (ela diz que, dentro, só meus orientandos conseguem, porque são obrigados), leu teu meta-comentário e achou que eu deveria agradecer. Agradeço, pois. Você é pessoa gentil. Quanto a ter votado na ‘criatura’, bem… que posso dizer…? Também já votei errado, e confesso que, a cada nova eleição, fica-me a incômoda impressão de que votar errado é nosso destino, devir inexorável. Não porque queremos errar, mas porque não conseguimos ver nada para acertar. Olhe ao redor, observe nossa vida político-institucional. Nosso mato tem muito monstro, mas não tem cachorro.

    ‘Depois de mim, virá aquele que me fará grande’, dizia o adágio popular lusitano séculos atrás. Já imaginou o esforço inumado que o sucessor dessa deformidade que comanda o país terá de realizar para fazê-lo parecer maior? É de se duvidar que alguém consiga, mas barbas de molho nunca são demais por estas bandas.

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