Pedocracia: a “ditadura” das crianças … Por Meraldo Zisman
PEDOCRACIA:
A “DITADURA” DAS CRIANÇAS QUE MANDAM NOS PAIS
MERALDO ZISMAN
Estava eu em um restaurante, almoçando, quando chega um casal acompanhado de duas crianças entre 7 e 9 anos. Como se sentaram a uma mesa próxima da que eu estava, ouvi a conversa do casal com as duas crianças.
Após a entrega do cardápio pelo garçom, disse a mulher, que me pareceu ser a mãe das crianças, dirigindo-se a elas:
— Pronto. Escolham o que vocês vão querer, queridos. E completou com um sorriso meio cansado:
— Agora que vocês escolheram este restaurante para o nosso almoço, digam o que vocês querem comer…
A menina, um pouco, mais velha, foi logo dizendo: – Não gosto de nada do que está escrito, no que foi acompanhada pelo menino: — Eu, também!
O casal se entreolhou abismado e foi quando o pai retrucou, contendo a irritação: — Foram vocês que escolheram este restaurante. Nós gostamos do outro: Comida Caseira.
Enquanto ocorria este dialogo o garçom já havia empurrado o serviço (entrada). Revoltado, o homem pediu a conta e indagou: — Aonde vocês querem almoçar?
Não escutei bem a escolha das duas crianças. Pagaram a entrada e saíram.
Eu fiquei pensando:
O avanço tecnológico torna avassaladora a demonstração da natureza humana. Não sabemos qual é a nossa natureza, mas sabemos quais são as nossas necessidades em diferentes períodos de nossa vida. Em síntese, digo: A ideia de estabelecer limites e não ceder faz muita falta e existem outras janelas mais abertas para o aprendizado da Moral. O ditado diz: dai-me a criança até os 7 anos e te darei o homem pronto.
Como veterano pediatra, posso sentir o produto final dessa falta de limites e também sei (por experiência profissional e tempo de vida) que crianças mimadas se tornam adultos infelizes quando descobrem não serem o centro do universo e continuam a acreditar que viver é fácil.
Aprendi na minha antiga profissão que na prática a teoria é outra.
Na teoria, você já sabe tudo. Mas, na prática? A história é outra! [frases que alguns atribuem a Anne Frank (1929-1945)].
Peço licença para relembrar: Anne foi uma jovem judia vítima do nazismo. Morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, deixando escrito um diário, que foi publicado por seu pai, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz (Polônia), intitulado “O Diário de Anne Frank”.
Aconselho a leitura desse livro e pensar que não mudou muita coisa nesse mundão, apenas informatizado. Pôr a culpa nos outros é fugir dos próprios desacertos.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.
Tema super delicado precisa ser debatido os pais parecem cegos em tiroteio.