Maior e Vacinado. Blog do Mário Marinho
MAIOR E VACINADO
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Antigamente, era muito comum usar a expressão: “Sou maior e vacinado!” quando a pessoa queria afirmar e firmar a sua importância, sua liberdade.
E se queria dar ainda mais ênfase, repetia em alto e bom som: “Sou maior, vacinado e tenho título de eleitor”.
Aí, o cara era o tal.
Pois bem, eu que sou maior há muito tempo e já passei por tantas vacinas, estou me achando o tal porque tomei hoje a primeira dose da vacina contra essa mal diabólico chamado coronavírus.
Aconteceu na manhã desta quinta-feira, 4 de março de 2021, data escrita assim por extenso, como devem ser as datas históricas.
Vamos no passo a passo.
No primeiro passo, me cadastrei no Programa Paulista de Vacinação, no site www.vacinaja.sp.gov.br de preenchimento facílimo. Levei 20 segundos para preenchê-lo. Depois, ao cadastrar minha mulher, com toda a experiência adquirida, levei apenas 10 segundos.
Ontem, quarta-feira, recebi aviso do Programa: chegou sua hora de vacinar.
Não fui no primeiro dia.
O Brasileiro gosta muito de deixar tudo para a última hora. No caso das vacinas, dá-se o contrário: todo mundo quer ser vacinado na primeira hora do primeiro dia.
Daí, formam-se as desnecessárias filas.
Fui no segundo dia, na UBS do Jaguaré, bairro onde moro, que fica à rua Salatiel de Campos, 222.
Ao chegar, a primeira surpresa: cadê a fila?
Não, meu caro, não havia fila.
Em uma tenda armado sob a generosa sombra de frondosas árvores, dava o conforto necessário a quem trabalha e a quem recorre ao serviço.
Três sorridentes atendentes esperavam por mim.
E como eu sei que elas eram sorridentes se usavam máscara?
A pandemia mudou muita coisa em nossas vidas. E uma delas foi a nossa percepção de sorriso.
Não é preciso uma boca escancarada a mostrar belos dentes brancos, emoldurada por lábios grossos para Você saber que uma pessoa está sorrindo. Olhe nos olhos dela e Você verá o sorriso estampado e até contagiante.
Assim, as três moças me atenderam.
Uma fez o cadastro, a outra aplicou a vacina e a terceira certamente estava ali para qualquer emergência.
As três anjas foram a Fabiane, a Lidiane e a Evelin – escrito assim mesmo, com toda a simplicidade, segundo ela.
A que fez o cadastro me informou:
– Você vai tomar a vacina AstraZeneca.
– Não tem Coronavac?
Perguntei como se fosse uma cerveja no balcão de um bar.
– Não, não temos. Nesse lote só temos a AstraZeneca.
Ao longo desta minha longa vida, já tomei muitas vacinas. Algumas das quais, eu nem sabia o que era. Nunca perguntei a eficácia ou a origem.
Então, não é agora que eu vou perguntar. Mas, para dizer a verdade, eu gostaria que tivesse sido a Coronavac apenas em homenagem ao Instituto Butantan.
A aplicador foi didática cuidadosa: mostrou-me que a agulha ainda estava embalagem e era descartável; mostrou-me o frasco de onde tirou o líquido e, depois da aplicação, a seringa vazia.
Entre minha chegada e a aplicação da vacina, com direito a fotos, não se passaram nem 10 minutos.
No caminho para a UBS passei numa banca de jornal e comprei uma revistinha de palavras cruzadas, pensando em algo que iria me distrair e tornar menos penosa a fila que eu iria enfrentar.
Como diria o poeta: ledo engano.
Foi tudo suave e rápido.
Saí dali leve, solto e feliz com o sentimento do dever cumprido e a agradável sensação de proteção.
Faça esse mesmo caminho, amigo leitor, amiga leitora.
Proteja-se.
A vacina
e a bola de futebol.
Foi inevitável eu me lembrar de uma das primeiras vacinas que tomei na vida, há décadas.
Eu deveria ter uns sete anos de idade quando, naquele dia, me mãe me mandou comprar leite no armazém do Levi, que ficava a uns seis ou oito quarteirões de distância. Uma longa caminhada para um garoto tão pequeno.
Quando chegava perto do tal armazém, ouvi uma gritaria de pessoas:
– Cuidado! Cachorro doido! Cuidado!
As pessoas corriam atrás de um cachorro. Com certeza, era mês de agosto, o mês do Cachorro Louco.
Eu não tive para onde correr: o cachorro pulou em mim.
Na verdade, ele não me mordeu. Deveria estar apavorado com aquela turba correndo atrás dele. Certamente me viu apenas como um pequeno obstáculo.
Mas ele arranhou o meu braço.
Um dos homens que corriam atrás daquele cachorro doido, veio me socorrer. Ao perceber que meu braço direito estava arranhado e sangrava, me perguntou apavorado.
– Onde cê mora minino. Precisa ir pra casa agora!
– Não, minha mãe me mandou comprar leite.
Energicamente, ele me obrigou a dizer onde morava, me pegou pela mão e foi quase que me arrastando até minha casa.
Cientificado da gravidade da situação, meu pai imediatamente tratou de me levar à farmácia.
Na farmácia, que ficava na avenida Antônio Carlos – e que nós chamávamos de avenida Pampulha -, o farmacêutico enfatizou a gravidade da situação e disse ao meu pai que ele deveria me levar na Secretaria de Saúde.
A situação era tão urgente que meu pai nem esperou pelo bonde que era mais barato, mas demorava um pouco mais: fomos de ônibus.
Na Secretaria de Saúde, fomos atendidos por um médico que prescreveu e explicou ao meu pai:
– Ele vai tomar vacina contra raiva. São 15 injeções. Vai tomar todos os dias, não pode falhar nem um dia. Só não vai tomar no domingo porque a Secretaria fecha.
Fui levado a uma enfermaria.
Naquela época as agulhas não eram descartáveis.
A agulha usada em uma pessoa era fervida e estava pronta para ser usada em outra.
É possível até que o simples ato de ferver realmente esterilizasse a agulha. Mas, quanto mais usada, mais grossa ia ficando a ponta da agulha. E, portanto, mais dolorida.
Meu pai relatou esse caso para muitas pessoas e, cada vez que ele relatava, aumentava um pouquinho, como era do estilo do saudoso Paulo Marinho.
Segundo os últimos relatos dele, aquelas agulhas estavam sendo usadas já há muitos dias, muitas semanas, muitos meses e, por fim, alguns anos.
Mas era dolorida.
No segundo dia que fomos tomar a vacina, descemos do bonde na rua Curitiba seguimos por ela em direção à Secretaria que ficava atrás do Mercado Municipal, hoje o Mercadão, uma das atrações turísticas de Belo Horizonte.
Ao passarmos por umas barracas que ficavam do lado de fora do Mercado, eu vi umas bolas de futebol à venda. Uma delas me chamou a atenção. Cutuquei meu pai:
– Papai, olha que bola bonita!
Papai pediu a bola ao vendedor e a colocou em minhas mãos.
– Olha, se Você não chorar em nenhuma das injeções eu te dou a bola de presente.
Ah!, que dolorosa chantagem.
Foram mais 14 agulhadas sem uma lágrima sequer.
Todos os dias passávamos em frente à barraca e meu pai dizia quantos dias faltava para eu ganhar a bola.
Ao final dos 15 dias sem uma lágrima, eu ganhei a bola.
Foi a primeira bola que ganhei em minha vida.
Nunca me esqueci de tão formidável presente.
Formidável, inesquecível e doído.
As anjas Fabiane, Lidiane e Evelin
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Molecada, chuva, gols,
golaços.
Veja os gols de ontem.
https://youtu.be/bp__96ulKVI
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Dois belíssimos textos, Mário Marinho, com o talento que lhe é característico e a simplicidade que fazem suas frases soarem ternos sonetos, meu bom amigo!
Ah não estou acreditando que me fez chorar! Pois é sr Mário me fez chorar com seu carinho , infelimente são poucas as pessoas que valorizam os profissionais ! Na verdade fazemos com amor, mas quase não recebemos ! Por pessoas assim como você faz valer cada dia que levando e deixo minha família para cuidar de sua e de outras! Seja muito bem vindo ao sus que queremos pra todos! Sempre que precisar estarei por lá! Lidiane
Agradeço também por todos nós!!!!!beijos, Marli
Orgulho de trabalhar com elas…parceiras
Bom dia Mário! Eu tenho muito orgulho que trabalhar com essas meninas! Sim elas são realmente o que vc descreveu sorridentes , e simples! O trabalho com elas fica muito melhor! Parabéns a você tb por dedicar um pouco do seu tempo para homenagear esses profissionais!
Eu tenho muito orgulho de trabalhar com elas! O dia ao lado da Lidiane, Fabiane e Evelun fica sim mais sorridente! Agradeço há você por tirar um tempo para homenagear esses profissionais! Camila
Ótima crônica, Marinho. E tudo bem explicado. Essas meninas das UBSs são fantásticas. A salvação está mesmo nas vacinas. Que venham em maior número, numa harmonia entre o governo federal e os estaduais.
maior, vacinado e inteligente.
Abraços,
Márcio Canuto