O Brasil a caminho do abismo. Por Edmilson Siqueira
O BRASIL A CAMINHO DO ABISMO
EDMILSON SIQUEIRA
… A falta de uma política econômica talvez seja a pior das ausências, pois está levando o Brasil a um abismo: sem dinheiro e com as dívidas aumentando. As promessas de uma economia liberal se esvaíram todas quando Bolsonaro, ao precisar se aliar à maioria corrupta do Congresso para livrar da cadeia seus filhos e ele próprio de um impeachment…
As políticas de Jair Bolsonaro – se é que podem ser chamadas de políticas – em todos os setores atinentes a um chefe de governo e de Estado são tão ruins e fora de qualquer realidade que, além de causar a morte de milhares de brasileiros pela covid 19 – mortes cuja maioria que poderia sim ter sido evitada – estão isolando o Brasil do mundo. Creia: hoje, a Venezuela e Cuba, por exemplo, estão com mais possibilidades de negócios com parceiros mundo afora do que o Brasil.
A falta de política na Saúde, por exemplo, fez com que a sexta população do mundo (nós) tivesse o segundo maior número de mortes do mundo pela pandemia. Os 250 mil mortos a que chegamos na semana que termina, só perdem para um país cuja população é 50% maior que a nossa, os EUA, onde um ex-presidente com arroubos parecidos com o nosso capitão de plantão, provocou um péssimo início de combate à doença, causando um estrago que está difícil de conter, embora, a partir de medidas tomadas ainda sob o governo do maluco Trump, os números começaram a cair. No Brasil, mesmo sem chegar ao inverno quando o contágio aumenta, estamos enfrentando, um ano após o início da praga, recordes de internações e de mortes diárias.
A falta de política ambiental provocou não só o crescimento das queimadas (incentivadas sim pelo criminoso governo Bolsonaro com seus discursos de ocupação da Amazônia e de desprezo pelas terras indígenas), como severas críticas dos países europeus – um grande parceiro comercial – que ameaça retaliar com suspensão de contratos de compras de produtos agropecuários que tenham qualquer relação com devastação de florestas. Se a Europa agir em bloco contra o Brasil nessa área, podemos perder um bom naco dos 20% das nossas exportações para os europeus, o que seria um desastre total para a balança comercial com suas nefastas consequências na economia doméstica.
A falta de política externa – ou a presença de uma política externa ideológica e burra sem sentido depois da derrocada da União Soviética há 30 anos – está isolando o Brasil nas tratativas mundiais, sejam sociais, políticas ou econômicas. O verdadeiro bloqueio feito pela França na entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – um clube de países ricos e que traria boas vantagens para nós – é só uma das muitas ações que a ignorância movida pela ideologia está provocando. Nem os parceiros da América estão olhando o Brasil como um provável líder. Um exemplo: antes de tomar posse, mas já eleito, Joe Biden ligou para o presidente da Argentina que havia cumprimentado o eleito, num claro recado ao governo brasileiro que ignorou, por quase dois meses, a vitória do democrata contra o pseudo ditador Donald Trump. Outros países sul-americanos também esnobam o Brasil e seu governo errático e o isolamento, mantidas as políticas atuais, tende a crescer.
A falta de uma política econômica talvez seja a pior das ausências, pois está levando o Brasil a um abismo: sem dinheiro e com as dívidas aumentando.
As promessas de uma economia liberal se esvaíram todas quando Bolsonaro, ao precisar se aliar à maioria corrupta do Congresso para livrar da cadeia seus filhos e ele próprio de um impeachment, voltou a ser o deputado quase de esquerda que era nos anos 1990. Como nos informa Helena Mader, na Crusoé, Bolsonaro “alinhou-se ao PT contra o Plano Real, boicotou as reformas administrativas e todas as articulações para reformular o sistema previdenciário.” No poder, pode ampliar sua verdadeira vocação, alinhando-se aos que querem destruir a Lava Jato e instalar a impunidade total aos políticos. Essa agenda, embora tenha como componente maior a política, atinge também a economia, pois gera falta de confiança nos investidores sobre o destino do dinheiro que aqui podem aplicar. Corrupção, hoje, não é um negócio visto com normalidade pelo mundo que conta no concerto mundial das nações.
Além de afastar políticas saneadoras na área policial, o desgoverno Bolsonaro também afaga a esquerda e seus aliados do Centrão num dos mais sensíveis pilares de sustentação dessa corja toda: as estatais. Da promessa de discurso eleitoreiro – que pode ser encontrado na internet – sobre a privatização de, no mínimo, 50 estatais, Bolsonaro não apenas não privatizou nenhuma delas, como criou mais uma, a NAV, que será responsável pelo controle aéreo do país.
Depois de interferir feito um elefante numa loja de louças, para trocar o presidente da Petrobras – a maior empresa do Brasil – de um modo totalmente errado e possivelmente ilegal, Bolsonaro levou ao Congresso medidas para privatizar a Eletrobras e, no dia seguinte, os Correios. Analistas dizem que não vai acontecer nenhuma das privatizações, já que nem o próprio Congresso, em sua maioria (o Centrão) não pretende privatizar nada para não quer perder as ricas boquinhas que os cargos nessas estatais – e em todas as outras – lhes proporcionam. Aliás, nem Bolsonaro quer. O que ele fez foi jogo de cena para agradar ao mercado e afagar um pouquinho seu ministro da Economia, que entrou super poderoso no governo, o rei do liberalismo econômico, e hoje é um obediente cachorrinho que não manda nada e só faz lamber as botas do chefe.
Assim, sem política de saúde, sem política ambiental e sem política econômica, fecha-se o círculo de um desastre total. O maior engodo eleitoral brasileiro – e olha que a concorrência é fortíssima – se concretiza por uma total falta de noção sobre o que é governar um país. E pior, com sua ausência até de inteligência em qualquer área, provoca mortes a granel na pandemia, caos no meio ambiente e faz a economia apontar seus gráficos cada vez mais para baixo, num endividamento crescente alimentado por um populismo eleitoral cujos maiores esforços visam às urnas do fim de 2022.
Se Bolsonaro sobreviver até lá, com essa “despolítica”, o Brasil terá caído num abismo do qual só sairá com uma ruptura total com a corrupta política tradicional e às custas de enorme sacrifício do povo.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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“Assim, sem política de saúde, sem política ambiental e sem política econômica, fecha-se o círculo de um desastre total.
– Nem o jornalista leva a EDUCAÇÃO em conta…