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Big Techs na hora da verdade. Coluna Carlos Brickmann

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EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 6 DE OUTUBRO DE 2021

Foi pura coincidência: embora o apagão do Facebook (e de suas outras marcas, Instagram e WhatsApp) tenha custado US$ 6 bilhões do valor de mercado das empresas, esse prejuízo é tolerável para firmas tão lucrativas. O problema é a iniciava da Federal Trade Comission, Comissão Federal de Mercado, de pedir que o Facebook venda o WhatsApp e o Instagram, por questões de monopólio. O maior acionista do Facebook, Mark Zuckerberg, garantiu que não monopoliza o setor de redes sociais. Mas a lei americana pode ser severa: desde 1890 está em vigor o Sherman Act, cujo objetivo é lutar pela livre concorrência e contra monopólios. De acordo com a lei, a Suprema Corte americana determinou que a Standard Oil Company, a maior empresa americana, controlada pelo maior milionário do país, John D. Rockefeller, vendesse (em 1911!) sua participação em uma série de empresas petrolíferas, mais outras que oferecessem vantagens competitivas a elas. No total, a Standard Jersey (no Brasil, Esso) teve de sair de outras 32 empresas. E os concorrentes que enfrentava eram do porte da Shell, Texaco, Atlantic.

As Big Techs de Zuckerberg enfrentam muito menos concorrência. Além disso, o sistema jurídico americano dá extrema importância à jurisprudência. Se a Standard-Jersey, com Rockefeller e tudo, pôde ser dividida, por que não o Facebook? Ali se determinou que a combinação de diversos negócios não pode impedir a livre concorrência. Quem é que consegue enfrentar o Face?

O novo mercado

Com a decisão, a Standard-Jersey foi dividida em 33 empresas diferentes. Hoje, passados 110 anos, a Standard-Jersey se chama Exxon e faz parte da Exxon-Mobil; a Standard-Nova York virou Mobil, e está na Exxon-Mobil. Standard-California é a Chevron; a Standard-Indiana virou Amoco, American Oil Company, e, com a Standard-Ohio, foram compradas pela BP, British Petroleum. A Ohio Oil hoje é Marathon; a Continental Oil se fundiu com a Philips na ConocoPhilips. A South Penn Oil, Pennzoil, agora faz parte da Shell. E a Chesebrough Manufacturing, que trabalhava com resíduos de petróleo, está na Unilever. John D. Rockefeller, excelente administrador, não perdeu nada: triplicou sua fortuna com a venda das ações de outras empresas.

Funcionou: a concorrência baixou o preço do petróleo para o consumidor.

O dono das informações

No caso atual, há uma questão extra a discutir: não é publicando fotos de pessoas deslumbradas por uma paisagem ou a beleza da comida bem montada na mesa que Face, Instagram e WhatsApp ganham dinheiro: faturam com as informações que seus clientes lhes oferecem, pelas quais não pagam, usadas para vender tendências de mercado a quem vende pesquisas.

Peguem, mas paguem

Um risco que correm é o de ter de pagar pela informação que os clientes nem sabem que lhes estão dando de graça, e que lhes garante as despesas e os lucros. Pense só: a cada vez que o caro leitor examina as ofertas de um site, recebe ofertas para, em vez de cadastrar-se de novo, e chatear-se passando informações desnecessárias (afinal, os cartões indicam que o cliente tem saldo para pagar a compra), entrem no sistema da loja via Facebook ou Google. E, faça ou não a compra, receberá durante semanas propostas de compra de produtos iguais ou similares àqueles que examinou. Se cada cliente receber pelas informações que oferece, haverá uma saudável repartição de renda entre quem dá a informação e quem a vende.

Ação conjunta

Big Tech são as empresas de Zuckerberg, mas é também o Google e ainda outras menos conhecidas. Reduzir o poder das Big Tech reduzirá ao mesmo tempo o perigo da Big Data, do processamento maciço de informação para acompanhar os movimentos e pensamentos de cada cidadão. Pode ajudar a evitar a piada da pizzaria: o sujeito liga e pede uma pizza marguerita com bordas recheadas. Mas o atendente da pizzaria diz que não pode: os remédios que o cliente está tomando indicam que precisa evitar gordura, e ele só pode vender-lhe coisas magrinhas, como pizza integral com cobertura de ricota e rúcula.

E, aliás, é só desta vez: o registro indica que o cliente está atrasado com a consulta médica e assim não poderá mais comprar pizza. Não adianta dizer que vai sair do país: o pizzaiolo sabe que seu passaporte está vencido.

Ler é um bom remédio

    Aylê-Salassié Filgueiras Quintão, nosso colaborador no Chumbo Gordo (www.chumbogordo.com.br), lança um belo livro: Lanternas Flutuantes – habitando poeticamente o mundo. A edição é simultânea no Brasil (Albatroz) e Alemanha (Omni Scripta, de Saarbrucken).

Uma delícia: mostra como se absorve o modo de ser, de falar, das pessoas com quem convivemos, e que se distinguem por traços singulares e expressivos, fortes ou originais (ou ambos). Lanternas pode ser comprado no Rio, na Albatroz; em Brasília, na Livraria do Chiquinho, na UnB ou com o autor, em aylea@yahoo.com.br

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2 thoughts on “Big Techs na hora da verdade. Coluna Carlos Brickmann

  1. Essa história de facebook e zapzap é muito boa pra animar papo de happy-hour, mas eu ouvi outro dia uma conversa que pareceu um pouco mais eletrizante para o destino da nação: P. Guedes e Roberto Campos Neto – dois homens seríssimos, respeitadíssimos, liberais até o miolo dos ossos, excelentes profissionais, grandes ideias, patriotas que fazem parte de um governo que tem como lema ‘Brasil acima de tudo’ -, parece que mantêm offshores milionárias em paraísos fiscais, ganhando dinheiramas a cada nova desvalorização do Real, coisa que, aliás, cuidaram de providenciar, destruindo a economia e a moeda graças, dentre outras genialidades, a juros básicos baixíssimos capazes de fazer o Dólar voar pelas alturas, e a inflação, a correr solta. Seria verdade, tudo isso? Foram tão entusiasticamente apoiados por gente igualmente seríssima (na imprensa, de início, às dúzias) que me custa acreditar que sim. E, no entanto, vejam só!, é exatamente o que fizeram, e ainda fazem. Não é ilegal, correram logo para espalhar pelos quatro cantos, mas o problema não é de legalidade. Pode uma dupla, que toma decisões definidoras da economia e do valor da moeda, manter num paraíso fiscal dinheiro graúdo enquanto destrói a economia deste país? Será que já não estamos diante de um fato suficientemente grave para justificar a demissão imediata de um e a abertura do processo – que passa pelo legislativo – que levaria à demissão do outro? A inflação que se alastra cada vez mais, e que torna o Real cada vez mais desvalorizado, não apenas corrói a qualidade da vida que levamos aqui, como também enriquece essa dupla – que, portanto, ganha exatamente porque o povo deste país perde. Pode P. Guedes decidir algo sobre impostos para quem tem dinheiro em offshores? É o que ele acabou de fazer, dias atrás. Pode Campos Neto decidir algo sobre juros básicos, que, subestimados como estão desde que ocupa o BC, elevam o valor do Dólar, e, assim, o valor da fortuna que ele tem lá fora, em moeda estrangeira? Isso tudo é incrivelmente imoral, sujo, e fosse este país um centímetro mais sério, essa dupla já teria sido demitida e teria de enfrentar a Justiça daqui pra frente.

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