O Centrão e o impeachment. Por Edmilson Siqueira
O CENTRÃO E O IMPEACHMENT
EDMILSON SIQUEIRA
… tem consequências que podem não ser tão boas quanto um processo de impeachment. É que Bolsonaro, acuado, já vê na reforma ministerial anunciada, ainda que veladamente, para depois das eleições na Câmara e no Senado, a melhor forma de criar um blindagem…
O fracasso do governo de Jair Bolsonaro começa a se traduzir em insatisfação popular. Nesse fim de semana pipocaram pesquisas que, com algumas diferenças, indicam forte crescimento dos itens “péssimo” e “ruim” em relação ao que o ex-capitão vem fazendo desde sua cadeira presidencial.
É um bom sinal, mas tem consequências que podem não ser tão boas quanto um processo de impeachment. É que Bolsonaro, acuado, já vê na reforma ministerial anunciada, ainda que veladamente, para depois das eleições na Câmara e no Senado, a melhor forma de criar um blindagem onde interessa, pois é o Parlamento que define se um processo de afastamento do presidente começa ou não e, se começar, se terá prosseguimento e ou condenação.
Assim, pelo que se tem visto por aí, Bolsonaro pretende trocar o ruim pelo pior para se garantir no cargo. Ministros que nada fazem ou fazem tudo errado, devem ser trocados por políticos do Centrão que sabem muito bem o que fazer para se manterem no poder e ficarem cada vez mais ricos.
Essa história é antiga, nessa incipiente República, se é que se pode chamar de antiga uma história que começou logo após o fim da ditadura militar, em 1985. O então entronado por acaso, José Sarney (era para ser Tancredo Neves, mas o mineiro morreu na véspera) botou seu recente partido, o PMDB (até pouco tempo antes ele era do PDS, partido que substituiu a Arena de tão amargas lembranças), no governo para se divertirem a valer às custas do erário. Inventou um Plano Cruzado que deu em nada em poucos meses, pois igualava nossa moeda ao dólar sem qualquer lastro garantidor e impunha preços nos produtos por decretos. Nem numa ditadura isso daria certo. E, enquanto enganava a população com seu bigode meticulosamente aparado, Sarney e sua turma metiam a mão na grana pública. Talvez só tenha perdido, em corrupção, para o estrondoso roubo petista, que começaria 15 anos depois do fim dos cinco e desgraçados anos de Sarney.
Para se manter no poder, Sarney botou no ministério a fina flor que se seria chamado, em futuro próximo, de Centrão. Era gente do seu novo partido e de gente que sempre fora aliada ao governo militar, não por ideologia, mas porque o governo militar era… governo.
Collor foi o sucessor, mas não conseguiu se manter no poder porque se recusou a rechear seu governo com a turma do Sarney, preferindo seus próprios e incompetentes corruptos. Teve que renunciar para não ser cassado.
Itamar Franco, mineiro, que era o vice, ao perceber o iminente naufrágio do barco collorido, pulou fora, e assumiu o poder sem ter a mínima ideia do que fazer. Como estava sem partido, resolveu escolher alguns do PMDB e do PSDB. Deu sorte na segunda escolha porque os tucanos, ávidos pelo poder e com um certo grau de inteligência, acabaram produzindo um plano econômico que, ao contrário dos 367 anteriores, deu certo, elegeu FHC e o Brasil respirou novos ares por um tempo. FHC também dividiu seu ministério com o Centrão, mas, devido à sua liderança conseguiu conter a roubalheira a níveis, digamos, razoáveis e só sofreu ameaças de impeachment pelo PT, que vinha crescendo bastante em consequência de sua organização muito melhor de que aquelas que os partidos de esquerda tinham conseguido até então.
Lula, ao chegar ao poder, sucumbiu rapidinho ao modus operandi brasileiro, comprando deputados e senadores com dinheiro público para ter votações tranquilas no Congresso. E teve, mesmo depois de descoberta o esquema, chamado de Mensalão e que causou a queda do seu mais importante auxiliar, uma espécie de primeiro-ministro, José Dirceu, vida mansa, pois o esquema não só continuou com aumentou estratosfericamente. Os anos seguintes de Lula e PT mostraram que a corrupção não tinha limites e que o Centrão – agora aliado da esquerda –estava preparado para usufruir de todos os frutos que ela pudesse lhe proporcionar. Foi assim até o Petrolão e a Lava Jato que, se botou na cadeia grandes e notórios corruptos, acabou perdendo o jogo para o – agora mais poderoso ainda – Centrão, já no governo sucessor da era petista, o do capitão reformado e sem qualquer noção de governo, Jair Bolsonaro.
Então a situação atual é a seguinte: o Centrão que já voltou ao poder, vai se aboletar muito mais nas cadeiras ministeriais. A insatisfação popular com Bolsonaro, tanto pelo governo que vem fazendo quanto pelas suas ações assassinas perante a pandemia, vai continuar crescendo. E, claro, vai chegar a um ponto em que a insatisfação popular vai ficar acima de 70% e o Centrão, preocupado com a reeleição (a manutenção do status quo é a única coisa que interessa a eles) vai querer pular fora, apoiando um impeachment para salvar a pele.
Resta saber se os pontos sensíveis – os 70% de insatisfação das pesquisas e a preocupação com a eleição – vão se juntar a tempo de o Brasil se livrar desse facínora que vestiu a faixa presidencial. É o que todos os brasileiros honestos esperam.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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Dificilmente haverá impeachment. Mourão assumiria e candidato à eleição ganharia facilmente. Não interessa ao Centrão e à esquerda também sempre oportunista. Até agora nenhum candidato inspira a população. Todos manjados e maquiados! Ninguém Estadista, Bolsonaro persiste.