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O acirramento da Guerra das Ilhas. De um correspondente de Guerra.[1]

O ACIRRAMENTO DA GUERRA DAS ILHAS

De um correspondente de Guerra [1*]

… O chefe deste, um dos governantes de Ilha, não gostou do problema que põe em causa a imagem que cultiva. Sustou, então, todas as decisões sobre o assunto, até que o chefe da coalizão – ao menos na grande batalha anterior, tomasse atitude…

Banco de Imagens :: STF - Supremo Tribunal Federal

Os serviços de informação, tanto das coalizões em choque, como de potências neutras, preveem para os próximos dias novas e acirradas batalhas nessa guerra. Estas seriam até cruciais para o resultado final da luta. Isto se nota até pelo tom incandescente assumido pelos porta-vozes jornalísticos das coalizões.

Exatamente, por ser incerto o desenlace, há quem trabalhe ativamente para se voltar aos bons tempos – já analisados por este observador – em que lobo não comia lobo.

Com efeito, a batalha já narrada pôs fim ao princípio da paz – lobo não come lobo. E o fez com consequências sangrentas, dados os ferimentos causados.

Ora, reação previsível, uma enérgica contraofensiva já está em curso. Ela compreende várias operações concomitantes e de vulto..

Uma, revela-se na concretização do princípio de que “o preço da vitória é a eterna vigilância”. Assim, não se tiram férias porque o lazer pode propiciar ao adversário novas vitórias.

Outra, mais agressiva, não proveio destes, segundo consta. Foi desencadeada por agentes estrangeiros que evidentemente levando em conta a situação, buscam dela tirar para seus respectivos nacionais. Consiste ela em trazer à liça uma medida tomada há um ano – em tempo em lobo não comia lobo – pelo chefe da coalizão adversária. Com ela, deram a membro da coalizão oposta o meio humilhante de obrigar o sutil comandante da coalizão vencedora da última batalha a dar explicações sobre porque há tanto tempo perdura tal medida, quando ele próprio já condenou recentemente de modo explícito, criticando a tradição de que outras, do mesmo gênero, perdurassem indefinidamente. (O que – reitere-se – era costume antigo e comum a todos os lobos). E, pior, pode destruir a situação decorrente da medida em causa – o que equivaleria a denotar uma nova bomba de Hiroshima.

O problema se agravou em virtude de outra operação em curso.

Por mera coincidência mais jovem dos combatentes tomou posição indireta, mas clara, a outra decisão que fora decidido anteriormente – em tempos de paz – pelo arquipélago sobre a duração da punição a criminosos de guerra. Esta decisão é tem ligação com a mencionada logo acima. Ela, porém, suscita um problema ainda mais delicada. O tribunal penal internacional que puniu até ontem muitos, mas não teve tempo de fazê-lo para outros, comprovadamente autores dos mesmos delitos. Ora, isto põe em xeque não só a imagem da coalizão ontem triunfante, mas a sua própria coesão. Com efeito, criou enorme embaraço e levou a divisão ao seio dessa coalizão que controla também o referido tribunal.

O chefe deste, um dos governantes de Ilha, não gostou do problema que põe em causa a imagem que cultiva. Sustou, então, todas as decisões sobre o assunto, até que o chefe da coalizão – ao menos na grande batalha anterior, tomasse atitude.

Ora, por hábil que seja a raposa está ela numa situação delicada. Pode perder o controle da coalizão e consequentemente a guerra, como pode perder a face perante a opinião continental.

Se põe em discussão a medida que tomou há um ano, corre o risco de uma fragorosa derrota, pois no seu grupo há descontentes com ela. E obviamente não pode contar com o apoio de adversários de ontem que ainda querem vingança. Se deixa as coisas ficarem como estão, o seu desgaste perante a opinião pública internacional, será violento.

Claro está que para todos o melhor seria voltar-se ao salutar princípio de que lobo não come lobo. Entretanto, como fazê-lo depois do recente e profundo conflito? Quantas feridas ainda não se fecharam? Que pensará a opinião internacional?

Que decorrerá dessa nova fase da guerra? Qual o resultado dessas operações?

Só a pitonisa poderia dizer – será preciso “aguardar os acontecimentos” – mas uma coisa é certa: nunca mais o arquipélago será o mesmo. Tanto em face da opinião pública internacional, quanto entre as Ilhas que não mais podem confiar na duração das alianças. Muito menos entre lobos que, tendo experimentado comer lobos, podem ter saboreado esse petisco.


LEIA TAMBÉM: A guerra das Ilhas. Notas de um observador militar. (*)


Manoel Gonçalves Ferreira Filho –  [1* Manoel Gonçalves Ferreira Filho]2º Tenente de Artilharia R/2 – Observa guerras desde 1939 – Pesquisador aposentado da USP.

SP 28/12/20

 

[1] V. A guerra das Ilhas, em Chumbo Gordo, 9 de dezembro de 2021.

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