Quando o rabo balança o cachorro. Por Wladimir Weltman
… Como em muitas outras coisas em relação aos EUA, o Brasil ainda é iniciante na arte de dar fim a seus presidentes. Apesar de que alguns conspiracionistas nacionais afirmem com certeza de que João Goulart, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, foram assassinados por forças ocultas… O fato é que o primeiro presidente com a dúbia honra de ter sido alvo de uma tentativa de assassinato é o senhor Jair Bolsonaro.
Estando aqui nos EUA confesso que não acompanhei de perto o atentado à vida do então candidato à presidência Jair Bolsonaro em 2018. Mas recentemente curioso com algumas postagens, assisti trechos do documentário BOLSONARO E ADÉLIO – UMA FAKEADA NO CORAÇÃO DO BRASIL, do jornalista Joaquim de Carvalho.
Sem entrar nos méritos do filme ou da questão, achei curioso que por coincidência aqui nos EUA alguns atentados famosos do passado, parecem estar chegando ao seu capítulo final.
No dia 30 de março de 1981, John Hinckley Jr tentou matar o então Presidente americano Ronald Reagan. Ele feriu quatro pessoas – o Secretário de Imprensa da Casa Branca, Jim Brady, o agente do serviço secreto Tim McCarthy e o policial Thomas Delahanty, além do próprio presidente. Depois de preso, Hinckley explicou que havia feito isso para impressionar a atriz Jodie Foster.
Quarenta anos depois, um tribunal de Washington acaba de lhe conceder liberdade, sujeita a medicamentos, terapia e supervisão constante. E, semana passada, Hinckley foi flagrado pelo jornal New York Post, passeando pela cidade de Williamsburg, num Toyota Avalon, lépido e fagueiro.
Esse passeio ocorreu coincidentemente um mês depois que o homem que assassinou o candidato presidencial Robert F. Kennedy, o palestino Sirhan Sirhan, obteve a possibilidade de liberdade condicional. Sirhan, hoje com 77 anos e encarcerado desde 1968, ainda não foi solto. Cabe ao governador da Califórnia Gavin Newsom decidir se ele sai ou não. O maioria do clã dos Kennedy é contra a sua libertação.
Os EUA tem longa tradição e eficiência recorde na arte de eliminar e ameaçar presidentes.
Em 1865, num teatro de Washington, o ator John Wilkes Booth atirou no Presidente Abraham Lincoln enquanto esse assistia à peça “Our American Cousin”. Lincoln foi o primeiro presidente dos EUA a ser assassinado.
Dezesseis anos depois, o Presidente James Garfield, levou um tiro nas costas numa estação ferroviária, a caminho das férias. O assassino vingou-se, por ter sido preterido para um cargo público que o recém-eleito presidente teria lhe prometido e depois negado.
Vinte anos depois, William McKinley, o 25º Presidente dos EUA, foi baleado na Exposição Pan-Americana de 1901 em Nova York. O assassino era um anarquista chamado Leon Czolgosz.
Finalmente, 62 depois, o quarto e mais espetacular assassinato presidencial, aconteceu em Dallas, no Texas. John F. Kennedy, em campanha pela reeleição, foi alvejado em meio a uma carreata. Acontecido em plena era da televisão, as imagens de seu assassinato até hoje nos chocam. E Hollywood abordou o assunto em mais de 19 filmes.
Além desses assassinatos, os registros americanos nos informam que vários outros presidentes escaparam por pouco de serem assassinados. Em 1835, o pintor de paredes Richard Lawrence tentou atirar no Presidente Andrew Jackson. A arma falhou e Jackson saiu ileso.
Theodore Roosevelt, que se tornou presidente com o assassinato de William McKinley, sofreu um atentado em 1912. Baleado à queima-roupa foi salvo por um estojo de óculos e uma cópia do discurso que estava prestes a fazer. Ambos estavam no bolso do paletó no trajeto da bala.
Em 1933 outro Roosevelt, o Franklin, escapou por pouco, quando um tal de Giuseppe Zangara tentou mata-lo e errou, acertando em outras 5 pessoas a sua volta. Em 1950 o Presidente Harry Truman escapou de morrer nas mãos de dois ativistas porto-riquenhos, sendo salvo por seus seguranças. E, uma seguidora de Charles Manson (daquela turma que massacrou a atriz Sharon Tate e seus amigos), tentou matar o Presidente Gerald Ford em setembro de 1975. Felizmente sua arma falhou.
Como em muitas outras coisas em relação aos EUA, o Brasil ainda é iniciante na arte de dar fim a seus presidentes. Apesar de que alguns conspiracionistas nacionais afirmem com certeza de que João Goulart, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, foram assassinados por forças ocultas…
O fato é que o primeiro presidente com a dúbia honra de ter sido alvo de uma tentativa de assassinato é o senhor Jair Bolsonaro. Mas muita gente séria no país acredita que tudo não passou de armação política para fortalecer sua campanha presidencial.
Seria realmente apenas uma jogada de marketing político?
Pra relaxar a cabeça, pensando nessas coisas, resolvi assistir novamente uma deliciosa comédia de 1997 do diretor Barry Levinson, estrelado por Dustin Hoffman e Robert De Niro e que no Brasil foi chamada de MERA COINCIDÊNCIA. O filme gira em torno de um marqueteiro e um produtor de Hollywood convocados à Casa Branca para contornar a crise criada por um escândalo presidencial. Pra distrair a opinião pública e virar o jogo, fabricam uma guerra fictícia.
Nos EUA o filme chamou-se WAG THE DOG, expressão do século XIX e que, curiosamente, se originou na mesma peça de Tom Taylor, que o Presidente Lincoln assistia quando foi mortalmente ferido – “Our American Cousin”.
Em determinado momento um dos personagens da peça diz:
“Dun – Por que um cachorro balança o rabo?
Flo – Juro que nunca me questionei.
Dun – Porque o rabo não pode balançar o cachorro. Ha! Ha!”
Segundo o dicionário Merriam-Webster a expressão “wag the dog” (balançar o cachorro) se refere a: “uma coisa menos importante controlando outra mais importante.”
O embaixador brasileiro nos EUA durante o regime militar de 1964, no governo do Marechal Castelo Branco, Juracy Magalhães, foi quem proferiu a célebre frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.”
Conhecendo bastante da realidade brasileira e um pouco da americana, posso dizer que tenho dúvidas sobre a verdade dessa afirmação. Creio que o Brasil precisa menos de “rabos balançando cachorros” e um pouco mais de vergonha na cara.
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo
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Premonição, Wladimir?