GALEANO

Galeano e os leitores. Por José Paulo Cavalcanti Filho

GALEANO E OS LEITORES

 JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

Fernando Menezes defendeu sempre Hugo do Peixa, boêmio famoso e personagem do Recife. Quando perguntavam, indignados, qual a razão?, respondia que era por ser seu “Professor de Maravilhas”. Bela imagem. Assim também tenho Eduardo Galeano. E outros, como ele, que mostram caminhos. Na última coluna, escrevi sobre mais essa estrela que se apaga. E o melhor, para quem escreve, é a reação dos leitores. Que se manifestaram, mais uma vez, com observações interessantes. Entre tantas, seguem umas poucas.

 ANTONIO CEZAR PELUSO, ministro do Supremo. Quando uma pessoa como ele se vai, o mundo fica menor. Galeano, um dia, jantou em nossa casa. Sentado no chão.

– Não por falta de cadeiras, espero.

 CRISTOVAM BUARQUE, ministro da Educação. Jantar no escritório de Fidel. No meio da conversa, fiz raiva a ele ao dizer que o problema não eram as “veias abertas”, como dizia Galeano, mas os “neurônios tapados”. Se os colonizadores tivessem levado todo ouro, mas deixado o povo educado, o ouro não faria falta. Ele não gostou, pela admiração endeusada dos cubanos pelo Galeano. No outro dia, ainda mandou dizer “que eu exagerava na prioridade à educação”.

– E nem mandou junto um charuto?, que me poderia repassar.

HILDO AZEVEDO, presidente da Academia de Medicina. Quando escrevo, minha primeira ideia também tem que ser a mão no papel. Depois é que passo para computador.

– Prova de bom senso, dinossauro (como eu). E de bom gosto.

IGNEZ BARROS, escritora. Intenso, eclético, entregava-se de corpo e alma à sua escrita apaixonante e combativa. Tinha sede de justiça. Lutava contra o poder opressor, defendendo as causas andinas, ameríndias, os escravos, as mulheres… sem perder de vista a sua poética humanista.

– Vai fazer falta, com certeza.

 JORGE GEISEL, escritor. Momo, a deusa da ironia, protetora dos escritores e poetas, era detentora do sarcasmo. E acabou, por isso, expulsa do Olimpo.

– Diga a ela para procurar emprego em algum blogue.

JOSÉ MARIA ARAGÃO, presidente do BNH. Galeano foi um dos colunistas regulares do jornal O Semanário. Publicado regularmente, no Brasil, durante a ditadura militar. E que, curiosamente, fechou logo depois da restauração da democracia.

– Na contramão da história.

 LUZILÁ GONÇALVES, escritora. Há meses, uma figura veio me entrevistar. Olhando os livros, perguntou quem era esse Galeano. E na mesma ocasião, vendo na estante Octavio Paz, perguntou se era parente de Ana Paz.

– Recomende a ela (e muita gente mais) voltar à escola.

ONÉSIMO ALMEIDA, professor da Univ. de Brown (USA). Robert Frost, creio, também disse que escrever era a arte de cortar palavras.

– Ele e Onésimo.

Padre PEDRO RUBENS, reitor da Univ. Católica. Fiquei curioso para saber o que Galeano teria escrito em 11 de setembro.

– Nesse dia, escreveu contra o terrorismo. E no seu aniversário (26/8), pastor, sobre Ivan, O Terrível.

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal. Prosa saborosa, o amigo nos serve em suas crônicas. Lembrei de você, em especial, porque o Papa declarou esse ano que começa o Ano de São José. Que auspício tão luminoso para os Josés!

– Para todos, José. Fraternalmente. Com os nomes que tivermos – Antônio, Francisco, Luiza, Letícia.

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José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife.

jp@jpc.com.br

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LEU? 11 de dezembro. Por José Paulo Cavalcanti Filho

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