“Laços do grande nó” (Dubeux, 2020). Por Aylê-Salassié F. Quintão
“LAÇOS DO GRANDE NÓ”
AYLÊ-SALASSIÉ QUINTÃO
… O filme Odisseia no Espaço e alguns livros, como 1984 (Orwell), somados à ignorância sobre novas tecnologias, serviram de suporte. Contudo, o risorgimento indica que estão vindo por aí maneiras novas de existir e de coexistir…
A recessão toma conta da economia e a pandemia imobiliza o País: 7,6 milhões encontram-se em regime de teletrabalho. Longe da escola, crianças e adolescentes parecem aprisionados em casa. O que fazer? provocou Lênin. A sensação de risco global é atenuada diante dos anúncios de descobertas de vacinas contra a covid-19. Aproveitando a deixa, os mercados tentam retomar os negócios. Olha-se para além da política, fazendo vistas grossas para as restrições. Nesse pretenso risorgimento, três segmentos vão se destacando: as ações das empresas de tecnologia, da indústria farmacêutica ligada à cannabis sativa, a famosa maconha, e as do campo da energia: mostrou, há alguns dias, a consultoria Seeking Alpha, que opera na avaliação de cenários.
As ações das empresas de energia são capitaneadas por aquelas de geração renovável e alternativa, não poluentes, como as hídricas, as eólicas e as solares. Apresentam um crescimento ainda modesto (+0,8%), mas sinalizam para uma adoção mais extensiva. A sustentabilidade está tendo aderência cada vez mais recorrente
O mercado global de cannabis sativa – de efeitos maléficos, benéficos e recreativos -, mesmo sob limitações legais, movimentou, no ano passado, US$ 18 bilhões, devendo atingir no final de 2026 um montante de US$ 194 bilhões, segundo projeções do Banco de Montreal. Atualmente, 40 nações permitem o uso medicinal da erva e outros cinco o recreativo. Prevê-se que, em cinco anos, 60 países terão autorizado, de alguma forma, o seu uso para fins diversos.
Mas, o que mais assusta nesse cenário é o crescimento do mercado mundial de serviços de tecnologia (entre 26 a 30%). Somados ao isolamento pandêmico, que exige uma nova forma de convivência com a realidade, as TICs estão mudando as visões de mundo e os comportamentos convencionados, afetando a formação de toda uma geração de crianças e jovens em isolamento.
A chamada nuvem pública, onde o hardware (infraestrutura) e o software (plataforma de serviços) são compartilhados, oferece diversos recursos e facilidades virtuais, alguns domésticos, como sistemas operacionais, armazenamento e gerenciamento de dados, redes, roteadores, segurança e gerenciamento de projetos, amplamente em expansão.
Estão fazendo uma devassa nos sistemas tradicionais e analógicos. A receita do segmento alcançou US$ 233,4 bilhões, conforme mostra o IDC – Internacional Data Corporation. Os cinco principais provedores de serviços de nuvem pública (Amazon Web Services, Microsoft, Salesforce.com, Google e Oracle), já capturam mais de um terço do total mundial dos dados em circulação. Crescem juntos cerca de 35% ao ano.
De acordo com o Predictions Brazil 2020 da consultoria IDC (“I don’t care), o mercado de nuvem pública no Brasil deve atingir US$ 3,5 bilhões em 2020, o que representa um crescimento de 36,6% sobre o ano anterior. Na área privada, deverá chegar a US$ 1,3 bilhão, impulsionado por empresas de grande porte, sobretudo de finanças. O nicho da chamada nuvem gerenciada, prestadoras de serviço a terceiros, poderá alcançar um volume de negócios superior R$ 1,2 bilhão, quase 40% acima do que 2019.
Os efeitos de algo com tais características e dimensões sobre a vida cotidiana é quase invasivo. Exige muita reflexão em todos os setores. Desde a lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), nº 13.709, de 2018, a sociedade e o governo brasileiro vem se distraindo com questões de insegurança nos sistemas: quedas de energia, invasão da privacidade, falsidades ideológicas, interrupção de processos produtivos, bancários e até jurídicos.
Cada vez mais informatizados, os sistemas vão gradualmente engolindo etapas, custos e os empregos convencionais: mais de 5 milhões este ano. São 28 projetos na Câmara dos Deputados tentando regulamentar o trabalho do home office (escritório em casa), com de 7,6 milhões de adeptos. Os incorporadores imobiliários estão assustados diante do esvaziamento dos edifícios. Os aglomerados de espigões estão configurando cidades fantasmas. Os sindicatos, todos, praticamente, emudeceram. A pandemia cuidou de imobilizar a terceira idade.
Na área da educação aguarda-se apenas a tecnologia 5G (novo padrão de dispositivos móveis, altamente eficientes) para adoção ampla pelo ensino à distância. Em 2019, foram ofertadas 9,4 milhões de vagas nessa área. Em 2020 o sistema teve a adesão compulsória do ensino presencial envolvendo crianças, jovens e adolescentes em processo de aprendizagem e o número de alunos tornou-se estratosférico. O que fazer?
No Brasil, quando apareceram os primeiros computadores, surgiu de uma Secretaria Especial de Informática (1979), ligada ao Conselho e Segurança Nacional, um projeto de Governo – pressupõe: equidade, justiça, competência e honestidade – Eletrônico. Foi submergindo aos poucos. Assustou muita gente no campo da política a possibilidade dos computadores assumirem a direção da gestão do Estado, inclusive do Judiciário, que se informatizou até um limite que não viesse a se interpor no caminho da vaidade de cada um.
O filme Odisseia no Espaço e alguns livros, como 1984 (Orwell), somados à ignorância sobre novas tecnologias, serviram de suporte. Contudo, o risorgimento indica que estão vindo por aí maneiras novas de existir e de coexistir.
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Aylê-Salassié F. Quintão – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília