O que será que será? Por Edmilson Siqueira
O QUE SERÁ QUE SERÁ?
EDMILSON SIQUEIRA
…resolvi, não sem deixar de pensar no risco que todos corremos em consequência da irresponsabilidade política, arriscar a prever como será a cena eleitoral para 2022 …
Como todo o mundo político brasileiro só pensa na próxima eleição, deixando problemas banais como a vida e a morte de centenas de milhares de brasileiros, resolvi, não sem deixar de pensar no risco que todos corremos em consequência da irresponsabilidade política, arriscar a prever como será a cena eleitoral para 2022.
O presidente que jurou que quatro anos bastavam e que iria se esforçar para acabar com a reeleição, é candidato desde o momento em que recebeu o cartão corporativo para gastar onde quiser e no que quiser, já que essa gastança, como muitas outras, é segredo de Estado. Não podemos saber, por exemplo, e por ser motivo de segurança nacional, quanto rolos de papel higiênico são comprados para o palácio. E com a turma que lá habita atualmente, devem ser toneladas.
Como Jair Bolsonaro disputando como nunca mais quatro anos de mordomias, outros nomes já trataram de se posicionar dentro do mesmo espectro ideológico. E aí é que a porca começa a entortar o rabo para o dono o cartão de crédito corporativo mais importante do Brasil. É que seu eleitorado hoje talvez seja apenas a metade daquele que o elegeu. Isso porque quem votou nele para impedir a continuidade da desgraça petista, já caiu fora faz tempo. Depois, os que se decepcionaram com a saída de Moro, o que significava não só uma baixa enorme no Ministério, mas o fim do combate à corrupção como uma boa parte dos eleitores queria – e continua querendo, diga-se. Só esses dois fatores já devem ter subtraído mais da metade dos votos.
Mas é pior. O comportamento presidencial durante a pandemia é de um negacionismo que já foi derrotado em todos os países civilizados do planeta. E esse comportamento, que está ajudando a ceifar vidas, também está contribuindo para que ninguém mais confie seu voto a um desmiolado que acha que vacina chinesa pode inocular um vírus comunista ou coisa pior em quem toma.
Tirando esses três grupos de eleitores – que se misturam, claro – há os concorrentes que disputarão em maior ou menor graus o eleitorado que elegeu o tenente que se reformou como capitão.
O mais notório é o governador de São Paulo, João Doria que, além de governar o estado mais populoso do país, ainda tem um partido nacional que, a partir de primeiro de janeiro próximo, passará a governar o maior número de brasileiros, embora não o maior número de cidades. Mas se outro partido, hoje também forte em prefeituras, o DEM, se aliar ao PSDB, como tem ocorrido nas últimas décadas, Doria terá um cacife enorme logo de saída na disputa presidencial.
Só que o governador paulista nunca foi bobo: na crise da pandemia, por mais que seus adversários digam que ele politizou a covid-19, ele tem seguido a ciência, com uma ou outra exceção, como foi a meio tardia decretação de bandeira amarela para todo o estado só depois das eleições. De resto, ele pode até oferecer aos 45 milhões de paulistas, uma vacina eficiente antes que o presidente assim o faça. E ganhará muitos eleitores com isso.
Além de Doria, outro adversário no mesmo campo vem ganhando terreno. Trata-se do apresentador de TV, Luciano Huck. Ainda sem um discurso definitivo, ele é querido no Brasil inteiro por seu programa nas tardes de sábado, mas tem se relacionado com políticos, há pelo menos um partido sério interessadíssimo nele e seu nome está em todas as listas de possíveis candidatos em 2022. Huck seria de centro-esquerda, se é que isso significa alguma coisa no Brasil. Mas seduz uma leva enorme do eleitorado que votaria nele porque o acha lindo e caridoso demais com os pobres e desvalidos.
O terceiro nome a tirar votos de Bolsonaro é, talvez, o mais forte deles todos. Trata-se do ex-ministro Sergio Moro, que, pelo que se tem visto por aí, é temido não só pelos políticos corruptos (a maioria, diga-se), mas por todos que orbitam em torno do poder e, claro, pela esquerda inteirinha.
Moro resolveu ganhar a vida na iniciativa sem se meter totalmente na política. Seus detratores não perderam tempo: sua nova ocupação é a prova de tudo aquilo que o PT quer provar contra ele… Moro vai ajudar empresas a construir uma barreira à corrupção e isso é ruim para muitos políticos brasileiros. A esquerda, que se acostumou a viver da grana do Tesouro transformada em propina nos 14 anos do PT, se desespera com Moro e até a OAB, cega para todas as mazelas dos advogados em Brasília e no Rio (e no resto do Brasil também), resolveu atiçar o conselho de ética da entidade contra Moro, como se ele estivesse sendo desonesto por usar seus conhecimentos para impedir a corrupção. Mas as pesquisas indicam que Moro tem tudo para chegar em 2022 como favorito para, pelo menos, emplacar um segundo turno.
… Assim, se tivermos um leque composto de Bolsonaro, Doria, Huck, Moro, Lula (ou Jaques Wagner), Ciro e Boulos, não sobrará muito voto nem de um lado nem de outro para se chegar ao segundo turno.
Quanto à esquerda, a coisa é dividida também. O PT que, ao que parece, está tentando se desvencilhar de um condenado em segunda instância que manda e desmanda no partido, pode estar mais do que atrasado para a corrida presidencial. Explico: se o baiano Jaques Wagner quiser concorrer, vai ter de passar por cima dos lulistas todos e isso, num partido de esquerda, pode demorar unas 120 assembleias, companheiro. Mas, mesmo que dê tempo de “construir” uma candidatura JW, há outros a dividir o voto da esquerda.
Ciro Gomes e Boulos serão nomes certos na corrida presidencial. Ciro é o eterno Rolando Lero (sem a graça do personagem), que impressiona os incautos pela fluidez de seu discurso e decepciona a todos quando se percebe que o conteúdo ou é zero ou é totalmente inexequível. Já Boulos, depois da campanha a prefeito onde levou uma surra de um afilhado de Doria, está todo prosa. Acha que adquiriu maturidade e musculatura. Botou uma camisa social, aparou a barba e moderou o discurso. Só conseguiu enganar mesmo os institutos de pesquisa: a diferença no segundo turno foi muito maior a favor do seu adversário do que previam as pesquisas publicadas na véspera. Mas será candidato do partido cujo nome é uma contradição, pois junta socialismo e liberdade no mesmo nome e, como se sabe e a história nos mostra, essas coisas nunca andaram juntas.
Assim, se tivermos um leque composto de Bolsonaro, Doria, Huck, Moro, Lula (ou Jaques Wagner), Ciro e Boulos, não sobrará muito voto nem de um lado nem de outro para se chegar ao segundo turno.
Esse cenário, ouso arriscar, favoreceria Moro, pois, sem estar em cena aberta, já tem votos consideráveis. Se partir para a briga mesmo, pode angariar muitos adeptos. Mas não o suficiente, devido ao peso desses adversários todos, para levar no primeiro turno.
Indo para o segundo turno contra alguém da direita, Moro teria mais dificuldades para arranjar apoios à esquerda. Mas, se ocorrer o contrário – mais provável – e alguém da esquerda for seu adversário, a direita toda se une em torno dele. E ele ganha.
Essa análise toda num país em que até o passado se modifica ao sabor dos ventos políticos, é baseada tão somente no que se nos apresenta até o momento. Como muita água vai rolar e muitas nuvens ainda passarão sobre nós até a eleição que só acontecerá daqui a dois anos, esse quadro tende a ganhar novas cores e pode se transformar num grande borrão a ser apresentado ao eleitor.
Aí, que os deuses do Olimpo tenham piedade de nós.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
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