To Pix or not to Pix? That is the question. Por Antonio Silvio Lefèvre

TO PIX OR NOT TO PIX? THAT IS THE QUESTION

ANTONIO SILVIO LEFÈVRE

…Em vez de aderir ao Pix e outros modismos tecnológicos,
eu prefiro, por enquanto, ficar no “piques”

pix

Não, eu não sou um velhote “conservador”, desses que ainda hoje insistem em mandar cartas pelo correio para amigos na Europa ou ligar para eles pelo telefone fixo, pagando uma fortuna pela ligação, como se fazia quando não existiam ainda o e-mail e o Skype…

Ao contrário, considero-me até um precursor pois, ainda nos anos 80, sentindo a falta que fazia poder falar com minha mulher quando um de nós não estava ao alcance de um telefone fixo, rodei as lojas de New York até conseguir comprar um par de walkie-talkies que prometia nos permitir falar por onda radiofônica com até 2 milhas de distância. Pena que, ao chegar de volta a São Paulo, percebi que o alcance ia no máximo até a próxima esquina.

Dava, então, para entender porque uma linha de telefone fixo era algo tão necessário e caro que precisava ser incluído na declaração de bens do imposto de renda. Em 1997, ainda, dei uma linha fixa de presente de casamento para minha filha!  Já tinham aparecido então os primeiros telefones móveis, uns tijolões enormes, dos quais comprei um, com o qual tentava ligar para linhas fixas porque o “portátil” quase ninguém tinha. Só que em 90% dos casos não completava a ligação.

E a internet então?

Fui dos primeiros a ter em casa uma conexão com o sistema experimental implantado na USP, que nos permitia mandar mensagens de texto para outros testadores da rede, e olhe lá. E na virada do milênio estive entre os precursores na utilização do e-mail, não só para comunicações pessoais mas como uma ferramenta de divulgação de marketing que, em artigo para o PropMark e depois para O Globo, classifiquei como “a mais fantástica e democrática ferramenta de comunicação jamais imaginada, capaz de colocar a mensagem certa na frente da pessoa certa, em questão de segundos, a um custo muito pequeno, o que a torna acessível a qualquer tipo de negócio.” Fui também um entusiasta dos websites e das lojas virtuais, das quais a minha Livraria Resposta foi uma das primeiras.

De lá para cá, foram surgindo novidades, às quais eu estava e continuo a estar sempre atento. Porém percebendo suas limitações e, em função delas, me mantendo à distância. Foi o caso do Orkut, que em pouco tempo faleceu, e do Facebook, que entrou em moda em seguida, mas que sempre me pareceu muito confuso pelo excesso de possibilidades que oferece e que acaba misturando informações pessoais e comerciais, sem que o usuário saiba escolher o que ver e o que postar e para quem. Facebook nunca funcionou para mim, tanto para contatos pessoais quanto para vendas da minha livraria.

Depois disso surgiu o WhatsApp, a meu ver a mais revolucionária novidade em comunicação depois do e-mail. Sim, por permitir comunicação direta e imediata, em texto e em voz, entre pessoas em qualquer lugar do mundo. Se em meu passeio por New York nos anos 80 eu tivesse adivinhado que algo assim iria aparecer não teria gasto tempo e dinheiro comprando aquele Walkie-talkie que logo foi para ao lixo. Iria esperar mais 40 anos.

Nos últimos tempos várias outras novidades foram aparecendo. O Telegram, espécie de variante do WhatsApp com mais recursos foi uma delas. A mais recente foi o Instagram, ao qual os novidadeiros aderiram em massa e que eu considero tão ou mais confuso do que o Facebook, com um verdadeiro bombardeio de imagens e textos que vão se sobrepondo, sem que o usuário saiba como buscar o que deseja e como ficar lá, sem ser jogado para outras “stories” de gente que não conhece e nem interessa conhecer.

Na minha visão de usuário e de profissional de marketing, as tecnologias que mais atendem às necessidades das pessoas e são as mais fáceis de entender e de usar são aquelas que mais tendem a durar. Isso parece óbvio, mas a verdadeira febre de novidades tecnológicas que tem surgido nos últimos anos tende mais a confundir do que a acrescentar.

Nada substitui um bom website para a apresentação de pessoas, instituições e negócios. E, por enquanto, nada substitui o e-mail como ferramenta de comunicação interpessoal ou entre instituições e empresas, pela possibilidade de incluir textos longos e anexar arquivos de texto e de imagens. Nem mesmo o Whatsapp que, embora seja fantástico especialmente por permitir acesso a usuários que só tem o celular como meio de contato, é mais limitado quanto à inclusão dos conteúdos.

O sistema bancário é outro em que as novas tecnologias vieram para ficar. Os primeiros cartões de crédito, de cujo lançamento no Brasil eu participei na Credicard no começo dos anos 80, revolucionaram o comércio, tanto de lojas quanto o virtual, e hoje são corriqueiros, embora boa parte da população ainda não os use.

Até recentemente tínhamos que ir ao banco várias vezes por semana, para pagar contas ou simplesmente sacar dinheiro. E era imprescindível carregar consigo um talão de cheques. Atualmente conseguimos fazer quase tudo à distância, pelos sites dos bancos e um cartão de débito ou de crédito na carteira mais uns trocados em espécie resolvem quase tudo.

E o risco envolvido em todas essas novas tecnologias?

Muita gente tem medo das comunicações e pagamentos pela internet. Alguns por pura paranoia ou ignorância, outros por uma boa dose de precaução e bom senso.

Entre os paranoicos/ignorantes, destaco aqueles clientes que, conheço bem, ao fazerem uma compra numa loja virtual, optam pelo boleto bancário em vez de pagarem por cartão de crédito, embora com este a aprovação da compra seja imediata  e o cliente tenha prazo para pagar, no vencimento da fatura. Motivo: eles tem medo de informar os dados do cartão na loja e do cartão ser clonado. Falta-lhes a informação básica de que não há risco algum, pois se aparecer na fatura do cartão uma compra não reconhecida e o cliente reclamar, o cartão estorna de imediato.

Cabe aos bancos, nos últimos tempos, uma boa parte da culpa pelo medo dos usuários. Sim, porque embora todos eles tivessem implantado operações pela internet há alguns anos e já funcionando bastante bem, ultimamente, alegando riscos complicaram enormemente o uso de suas plataformas, aumentando o numero de etapas, exigindo às vezes 3 ou mais senhas, tokens, etc., que acabam causando muita insegurança.

Uma das coisas que complicaram muito a vida dos usuários foi a mania, recente, de insistirem para as pessoas baixarem “aplicativos”. Bancos, seguradoras e até os grandes jornais, em vez de simplesmente disponibilizarem o acesso através dos seus websites, como sempre fizeram, insistem nos aplicativos. Ora, esses sobrecarregam a memória dos celulares e acabam tornando os acessos mais lentos e complicados em vez de mais simples e rápidos do que nos sites.  A conclusão é que acabam dando mais medo ainda.

Ora, se riscos existem nas operações bancárias pela internet, os bancos deviam é contorná-los sem passar o ônus da complicação aos clientes.

E quanto ao risco das comunicações por e-mail e por WhatsApp?  Acredito que ninguém tema o vazamento de seus e-mails. O fato de se ter lido que e-mails pessoais da Hillary Clinton foram vazados e depois de se ter conhecimento dos e-mails da Odebrecht com os investigados na Lava Jato deixou claro que eles foram lidos seja porque alguém acessou computadores dos destinatários, seja porque Sergio Moro os divulgou nos processos. Não porque tenham vazado pela ação de hackers. Isto acendeu uma luzinha vermelha a mais para o cuidado com a segurança dos computadores e celulares que recebem os e-mails, mas não para algum risco no envio dos e-mails propriamente ditos.

Já com o WhatsApp a coisa é diferente e aí realmente se justificam muitos medos, em especial pela quantidade e variedade de golpes que tem sido aplicados em usuários desta ferramenta. Hackers que capturam contas do Whats e mandam mensagens para os contados pedindo dinheiro são cada vez mais frequentes (dois casos de amigos meus nesta semana) e justificam não só o medo, mas muitas medidas de precaução por parte da própria plataforma e dos seus usuários.

Ora, se um bandido pode conseguir entrar no meu celular e me fazer mandar dinheiro para  ele, com o disfarce de ser um filho, ou uma mãe, quem me garante que, se eu tiver esse tal de Pix, que permite transferir dinheiro instantaneamente de uma conta para outra, de qualquer banco, a qualquer dia e hora, isso não  irá facilitar enormemente a ação dos bandidos?

Para o usuário esclarecido, que faz a quase totalidade de suas compras com cartão de crédito ou débito, qual seria a vantagem do Pix? A meu ver seria só a de deixar de pagar as tarifas de DOC e TED para depósitos em outros bancos, que normalmente são operações esporádicas e alguns  tem até isenções. Para o pagamento das demais despesas, os cartões e boletos são mais do que suficientes. Claro que os lojistas vão preferir que o cliente pague com Pix do que com cartão de crédito, porque o dinheiro entrará na hora, mas para o cliente isso é desvantagem, não vantagem.

A conclusão é que, em troca da isenção ou redução de uma tarifa de DOC ou TED, que são modalidades pouco usadas, o Pix oferece muito risco de aparecerem lançamentos surpresa na conta bancária do usuário, o que exigirá que ele confira o extrato todos os dias ou várias vezes ao dia.

Levando tudo isso em conta, é mais do que compreensível que as pessoas estejam com muito medo desse Pix, inclusive pela insistência com que bancos e outras instituições estão pressionando os clientes neste sentido, o que faz muita gente pensar que ”se é tão bom para eles não deve ser bom para mim”. Eu, entre elas, estou aconselhando meus familiares e amigos a ficarem no “piques” (como as crianças no pega-pega) em vez de aderirem ao Pix, pelo menos por enquanto e a não ser que, com o tempo, esta modalidade venha a se mostrar realmente vantajosa e segura.

E o que dizer da vulnerabilidade do Telegram? Muitos, como eu, só ouviram falar dele ao saberem que o hacker contratado pelo Glenn Greenwald tinha “interceptado” conversas de Moro e Dallagnol nesta ferramenta. Pelo que verifiquei com experts, o risco de bandidos aplicarem golpe pelo Telegram é o mesmo do WhatsApp. E, embora a ferramenta seja muito boa e eficaz, como o Whats, isso justifica também muitas medidas de precaução no seu uso.

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ANTONIO SILVIO LEFÈVRE é sociólogo (Université de Paris), editor e livreiro. Interpretou Pedrinho na 1ª adaptação do “Sítio do Picapau Amarelo” para a TV, em 1954. Veja no Museu da TV.

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3 thoughts on “To Pix or not to Pix? That is the question. Por Antonio Silvio Lefèvre

  1. Parabéns! Um pouco de prudência em tempos de robôs, seus exemplos mostraram que estou protegida em ser cautelosa e menos modernosa.

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