Bolsonaro e o pau no chão. Coluna Carlos Brickmann
BOLSONARO E O PAU NO CHÃO
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 22 DE NOVEMBRO DE 2020
No início do Governo, a fiscalização encontrou invasores derrubando árvores amazônicas. Usavam aquelas máquinas enormes, com correntes, que arrancam grandes árvores com raiz e tudo, para abrir uma clareira na mata, onde implantariam uma fazenda em terra pública e supostamente preservada. As árvores, ilegalmente abatidas, seriam ilegalmente vendidas. Os fiscais agiram conforme as normas: puseram fogo nas máquinas, única maneira de desativá-las, já que seria impraticável tirá-las de lá. O presidente Bolsonaro entrou em erupção: na hora, suspendeu a política federal de destruição de máquinas usadas para botar abaixo as árvores.
Dado o sinal de vale tudo, em pouco tempo começaram os incêndios na Amazônia – havia até um grupo de WhatsApp coordenando as queimadas. Na comoção dos incêndios, que desviou as atenções, os desmatadores foram derrubando árvores. O Governo Bolsonaro não pode ver pau em pé; deixa que os grandes troncos beijem o chão, sejam vendidos e só então interfere, para botar a culpa nos países e empresas estrangeiras que compram ilegalmente a madeira ilegalmente abatida. Gringos espertos! São capazes de se entender com os espertos daqui!
Alguém acredita que um jacarandá de 25 metros de altura (um prédio de oito andares) e tronco de 80 cm de diâmetro sumiu sem que ninguém notasse sua viagem para o porto? Um ipê de 40 metros (12 andares de altura!) pode ter entrado escondido no navio ilegal, sem conivência de ninguém? A culpa é só dos gringos? E aqui trabalhamos para preservar a Floresta Amazônica?
Depondo as armas – as nossas
Bolsonaro está completando dois anos no poder e já botou o tacape no solo. Em março último, revogou a fiscalização da madeira no porto. Basta declarar que é madeira nativa. Autorização de exportação? Não precisa mais. O Centro das Indústrias do Pará agradeceu-lhe a liberação das exportações de madeira. Os gringos piratas também. Há ainda a pressão sobre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Se seus dados contrariam o desejo presidencial, vem a crise. Bolsonaro gosta de Astronauta, tem um de ministro, mas é para cuidar do uso de vermífugos contra coronavírus.
Fala ou não fala?
Na reunião dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), Bolsonaro disse que anunciaria quais os países que mais compram madeira ilegal brasileira. Prometeu, mas não cumpriu: já mudou a promessa e seu alvo serão as empresas importadoras – cujos nomes, aliás, ele deixou para depois. Mas garante que fará com que a importação de madeira pirata se torne um mau negócio. Já existe uma técnica que atrapalha muito esse tipo de crime ambiental: chama-se “fiscalização”. Há outra: “civilização”.
Racismo…
Como a confusão começou, não se sabe exatamente. João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, negro, saiu do Supermercado Carrefour, em Porto Alegre, e deixou a esposa no caixa, pagando as compras. Quando ela saiu, seu marido estava sendo espancado por dois seguranças do supermercado. Ela e outros clientes tentaram interferir, foram contidos por oito outros seguranças, que protegiam os agressores. João Alberto foi assassinado por asfixia, por pressão nas costas, na noite do dia 19 – véspera do Dia da Consciência Negra.
Os dois matadores estão presos.
…violência…
Não, não foi acidente: João Alberto foi espancado até a morte (uma das cenas do vídeo mostra 12 socos seguidos) depois de avisar os agressores de que estava com dificuldade para respirar. Não, não estava armado. A delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios, responsável pela investigação, disse que não racismo. Por que? Não disse. O vice-presidente da República, general Mourão, afirma também que o caso não foi de racismo.
…ou coisa pior
Mas, se não é racismo, se o motivo da violência da agressão não foi a cor da pele da vítima, a coisa é ainda pior: qualquer cliente dos Supermercados Carrefour (onde, não esqueçamos, já houve a perseguição de uma pequena cadela mansa por seguranças do estabelecimento, que a mataram a pauladas) pode ser vítima de funcionários que cultuam a agressão e não se importam com a vida dos outros. Um sueco albino pode ser seu alvo, ou um negro, ou um cavalheiro alto e gordo, com estranhos cabelos alaranjados. Se não é racismo, a imbecil ojeriza por alguma etnia ou cor de pele, é pura maldade. E como uma empresa multinacional deste porte contrata este tipo de gente?
De sete reais por R$ 7,00
O Procon paulista está conversando com as empresas que provocaram o maior número de reclamações na Black Friday do ano passado. Mas sugere que os clientes anotem os preços agora para evitar o golpe dos falsos preços baixos. É sempre bom se prevenir. Ou o produto de sete reais, além de baixar para R$ 7,00, acabará sendo oferecido em dez prestações de R$ 7,00.
Bom dia, Carlos Brickmann.