Boi preto conhece boi preto. Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 29 de SETEMBRO DE 2021
Acredite se quiser: o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pediu ao Governo que demita por suspeita de corrupção as pessoas que ele mesmo indicou para a diretoria do Banco do Nordeste. Costa Neto foi condenado e cumpriu pena como mensaleiro, quando era ligado ao Governo Lula. Foi ele que, por uma divergência de, digamos, contabilidade, com o então ministro José Dirceu, homem forte do Governo, foi uma das primeiras vítimas do Mensalão– quem o acusou mais duramente foi sua ex-esposa, Christina Mendes Caldeira.
E agora? Bolsonaro o consultou sobre a denúncia de contratação, pelo Banco do Nordeste, por R$ 583 milhões, de uma ONG que, dizia, era ligada ao PT. Costa Neto disse que a contratação era suspeita e inaceitável e encaminhou ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, seu colega de Centrão, ofício em que pede a demissão do presidente do Banco do Nordeste, Romildo Rolim, e de toda a diretoria.
O problema de Costa Neto certamente não é a ligação da ONG com o PT, partido do qual já foi próximo (esteve até, de jatinho, numa famosa festa na fazenda de Delúbio Soares); provavelmente não concorda com a fórmula de distribuição das verbas, já que leva a aritmética muito a sério. E, para que não haja dúvidas sobre sua posição, além de mandar o ofício gravou em vídeo o pedido de afastamento de seus indicados.
A próxima crise
Lembre-se: nas duas vezes em que enfrentou paralisações de transporte de carga, Bolsonaro concordou com os donos de frotas e os caminhoneiros em que o diesel estava muito caro e oscilava demais, e era preciso dar um jeito nisso. O pessoal dos caminhões acreditou – e o diesel acaba de subir mais de 8%. É o nono aumento dos combustíveis em oito semanas. E um dos diretores da Petrobras (subordinado ao general que Bolsonaro nomeou para a presidência da empresa) informa que a petroleira, que neste ano já lucrou mais de R$ 40 bilhões, verifica a possibilidade de novos aumentos. Haveria a possibilidade de criar um fundo que, sem prejudicar a empresa, amenizasse a flutuação de preços? Sim – mas dá trabalho formatá-lo, e trabalhar cansa.
Donos de frotas e caminhoneiros aceitarão mais promessas para o futuro?
Gás explodindo
E há o caso do gás engarrafado a R$ 120,00. Se houver algo para cozinhar, com a inflação dos alimentos, como arcar com o gás a esse preço?
Janaína e o passaporte
A deputada mais votada do país, Janaína Paschoal, uma das políticas mais lúcidas do bolsonarismo, está preocupada com o passaporte sanitário e as medidas que obrigam os cidadãos a se vacinar, mesmo não sendo obrigatória a vacinação. “A maioria dos brasileiros quer se vacinar”, diz Janaína, “mas não há respaldo jurídico para a obrigatoriedade”.
E completa: “Estão criando em nosso país uma forma de discriminação politicamente correta”. É sempre bom e prudente ouvir as opiniões de Janaína Paschoal.
A guerra tucana
Começam a esquentar as prévias tucanas para escolher o candidato do PSDB à Presidência da República. Há hoje três candidatos: os governadores de São Paulo, João Doria; do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Doria e Leite são os favoritos. Leite conquistou o apoio do cacique tucano do Ceará, Tasso Jereissati, que desistiu em seu favor. É o favorito no seu Estado, no Paraná e Minas Gerais, e cresce, com o apoio de Tasso, no Nordeste.
Doria é favorito em São Paulo (Estado com o maior número de votos), Tocantins, Distrito Federal e Pará. Virgílio corre por fora. A votação deve ocorrer em 21 de novembro, em primeiro turno, e 28 de novembro, em segundo. A decisão é de um colégio eleitoral que reúne quatro grupos, com pesos iguais: filiados; prefeitos e vice-prefeitos; vereadores, deputados estaduais e distritais (os de Brasília); governadores, vices, deputados federais, senadores, presidente e ex-presidentes do PSDB.
Vale tudo
A zona rural de Santa Filomena, Piauí, já tem Internet banda larga para estudantes e professores. Mas, a cada vez que usam Internet, todos são expostos a 30 segundos de propaganda do Governo Federal. Diz o Ministério das Comunicações que é para balancear “as notícias contra o presidente”.
Poder x poder
Grandes empresários preocupados com o meio ambiente (e não apenas com isso: com a possibilidade de que a má gestão ambiental crie um clima favorável ao boicote de produtos brasileiros) assinaram documento em que defendem que o Brasil apresente objetivos ambiciosos de redução de emissões de gás carbônico e de defesa da floresta amazônica. O estudo será enviado ao Governo brasileiro e levado para a conferência da ONU a respeito de mudanças climáticas, a COP 26, em Glasgow, Escócia.
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Bom dia, Carlos Brickmann.
Com relação a não obrigatoriedade da vacinação defendida por Janaína Paschoal, acredito que a questão primordial é o dever de consciência (e até cívico) de cada um fazer a sua parte, não por si e para si, mas visando a comunidade. Não é uma questão de liberdade, mas de consciência diante de uma pandemia que, já foi provado, diminuiu seu grau de letalidade exatamente com a vacinação.
Se o jornalista gosta da Janaina… bem, fazer o quê? Não é meu caso. Não há nada escrito na minha casa sobre que banheiro usar, mas, na hora em que a natureza exige, sei exatamente que caminho tomar, e porque devo fazê-lo o quanto antes. Questão da sobrevivência dos outros, digamos. O fato de não constar das leis não significa que um ser humano idiotizado pelo discurso de um governo que quer vender medicamentos nocivos (fabricados por amigõe$) deva invocar tal ausência para se livrar das responsabilidades de ter saído por aí infectando os incautos. Pandemia de covid não é gripe sazonal, não é questão de gostar ou não de vacina, de achar ou não que chineses dominarão o mundo com ela ou que projetos reeleitoreiros justificam tudo – inclusive usar a Prevent Senior para matar pessoas induzidas à intoxicação compulsória e desavisada. Numa pandemia, o direito de cada um (escrito na Constituição ou apenas no bom senso de quem sabe que vive em sociedade) se subordina ao da coletividade, pois a recusa de um pode resultar no adoecimento e nas mortes de muitos. É a razão pela qual, nos bons estabelecimentos, e cada vez mais em público, mundo afora, um fumante costuma ouvir o convite – e deve mesmo ouvi-lo – a se envenenar noutro lugar. Quando o direito de todos está em questão, em particular quando este direito é à saúde a à vida, opções individuais – por mais simpatizantes do discurso liberal que sejam estes indivíduos – dependem de concessão coletiva. Minha mulher, que é médica, vive dizendo que a lassidão moral e a omissão técnica de inúmeras associações médicas espalhadas pelo país, particularmente no que tange a uma posição médica setorizada e oficial sobre o uso de drogas que só podem agravar o estado de quem contraiu covid, é apenas imperdoável. E têm a companhia dessa subcelebridade bolsonarista. (Escreve aí: essa mulher ainda vai dizer que não se exige passaporte de não fumante para entrar num restaurante, esquecendo-se de que basta apenas, ao fumante, não fumar lá dentro. É decisão sua. Vale perguntar, então: o contaminado pelo corona-vírus pode, por sua decisão, não contaminar ninguém enquanto estiver lá dentro?)