Bolsonaro ou Hollywood? Por Wladimir Weltman
(Não deixe de ver abaixo algumas fotos dessa cobertura exclusiva da apresentação do Museu da Academia de Hollywood, que será inaugurado no próximo dia 30 de setembro)
No mesmo dia em que o nosso “Mito” foi envergonhar os brasileiros na ONU, a Academia convidou os jornalistas sediados em Los Angeles a conhecer o seu tão esperado museu, que se inaugura no fim do mês, no dia 30 de setembro.
Claro que, entre acompanhar as patuscadas do nosso presidente em Nova York ou conhecer o museu, preferi a segunda opção. Ainda mais que eu sou cinéfilo de carteirinha e acho que o senhor Bolsonaro é uma aberração da natureza.
Enquanto o nosso líder supremo, inspirado pelo ex-presidente americano Donald Trump, gosta de lançar mão de Fake News e outras artimanhas pra criar confusão e desvirtuar a verdade, Hollywood, pressionada por boa parte da opinião pública americana, vem fazendo uma extensa “mea culpa” em praça pública.
A colunista do jornal Los Angeles Times, Mary Mcnamara, comentou no começo de setembro, que durante os anos que levou para a construção do museu, a equipe responsável pela tarefa enfrentou disputas internas e críticas externas. Paralelamente, Hollywood e sua Academia de cinema também sofreu muitas pressões.
Depois do escândalo de assédio sexual do super-produtor Harvey Weinstein e do surgimento de movimentos como #MeToo, #oscarssowhite, #Blacklivesmatter, e do fato de que, apesar da cerimônia do Oscar já ter 92 anos, ao longo desse tempo apenas duas mulheres obtiveram a estatueta de Melhor Direção (Kathryn Bigelow por GUERRA AO TERROR em 2010 e Chloé Zhao por NOMADLAND em 2021). Havia chegado a hora de encarar mudanças, seja na indústria, seja na Academia, ou ainda na própria essência desse novo museu.
Sete meses antes da inauguração, o Museu da Academia informou a todos que, através de suas exibições e programas não iria se esquivar de questões como estereótipos raciais, discriminações a mulheres e demais temas delicados que em pauta na sociedade no momento.
Em março de 2021, num tour virtual do museu, uma de suas curadoras, a atriz Laura Dern disse que a instituição pretendia corajosamente falar dos momentos menos brilhantes da história de Hollywood e da Academia.
E de fato, ontem, 21, durante a visita que fiz ao museu na companhia de um exército de jornalistas americanos e internacionais, ficou evidente que a turma fez o dever de casa.
Na galeria sobre a história do Oscar existem telas de vídeo que apresentam alguns discursos de premiação antológicos; entre eles, assisti emocionado o da atriz Halle Berry, quando em 2002 recebeu o Oscar de Melhor Atriz: “Este momento é muito maior do que eu. Este momento é para Dorothy Dandridge, Lena Horne, Diana Carroll. É para as mulheres que estão ao meu lado, Jada Pinkett, Angela Bassett, Vivica Fox. E é para cada mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance porque esta porta, esta noite foi aberta. Obrigada.”
Ali do lado há uma sala com diversos Oscars envidraçados, entre eles pude ver os de Clark Gable pelo filme de 1935 ACONTECEU NAQUELA NOITE, o de Mary Pickford de 1925 por COQUETE, mas também o de Sidney Poitier de 1964 por UMA VOZ NAS SOMBRAS, e o de Barry Jenkins, que ganhou um Oscar em 2017 pelo filme MOONLIGHT.
Vi também o espaço reservado ao cineasta negro Oscar Micheaux, que produziu filmes exclusivamente para o público negro a partir de 1919. Micheaux faleceu em 1951, depois de ter dirigido quarenta e dois filmes em quase trinta anos de carreira.
Os diretores Spike Lee e Pedro Almodóvar também são homenageados no museu com espaços dedicados à sua obra. Além deles diversos cineastas negros, asiáticos, hispânicos, latinos, indígenas e internacionais estão representados ali, inclusive o nosso Hector Babenco, com um poster (em francês) de seu filme PIXOTE.
Será que isso tudo vai ajudar a mudar a montanha de preconceitos e barreiras que existem na sociedade americana e mundial? Não sei dizer. Sei apenas que trabalhando como jornalista político nos anos 70, no Oriente Médio descobri que existem pontos de contato entre o mundo da política e o das artes dramáticas.
Uma vez, fazendo uma série de entrevistas no Knesset, parlamento israelense, entrevistei um certo político e não me lembrava do seu nome. Cansado e distraído, ao fim da entrevista, perguntei-lhe como se chamava. O sujeito ficou profundamente ofendido. Disse que eu era o primeiro jornalista que o entrevistava e não sabia quem ele era. Tentando disfarçar a gafe, disse: “Assim o senhor jamais esquecerá o meu nome”. E sai de fininho.
Conto essa história para dizer que o que esses dois mundos – a política e o cinema – tem em comum, são seus atores. Políticos e artistas, ambos são extremamente vaidosos, ciosos de sua fama. Acontece que os artistas, com todos os seus possíveis defeitos, tem talento e arte. Já a maioria dos políticos que conheci, não tem talento algum, apenas talvez a capacidade de conchavar e de manipular. Sem esquecer daqueles que conseguem, como verdadeiros artistas da corrupção, se locupletar desonestamente.
Haja pizza!
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo
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