O VAR ainda vai dar o que falar. Mais. Blog do Mário Marinho
O VAR AINDA VAI DAR O QUE FALAR.
MAIS.
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Aconteceu nos primeiros anos de 1990.
Fui assistir a uma palestra do João Havelange, na época o todo poderoso presidente da Fifa.
Não só pelo cargo ou também pela imponência de sua presença, as palestras de Havelange eram muito concorridas.
E muito boas de serem ouvidas.
Ele despejava muitas informações sobre seus ouvintes, com números que vinham desde o final dos anos 1940, quando chegou como jovem advogado na empresa de transporte de passageiros, Viação Cometa, que possuía algumas dezenas de ônibus, até sair mais de 20 anos depois, como diretor jurídico e acionista de uma empresa que possuía cerca de 5 mil veículos, fazendo transporte nas regiões mais ricas do País: São Paulo, Rio, Minas, Paraná.
Falava também sobre seus tempos de atleta olímpico, como nadador, na Olimpíada de 1936, ou como medalhista de polo aquático na Olimpíada de 1952 (medalha de bronze).
E como homem que, então com quase 80 anos, nadava, religiosamente, mil metros por dia.
Havelange era festejado como o maior dirigente do futebol brasileiro de todos os tempos e um dos maiores do mundo.
Depois de dirigir o futebol brasileiro de 1958 até 1975, assumiu a Fifa, em 1974, e ficou até 1998.
Havelange era festejado pelo crescimento da Fifa que chegou a 211 integrantes, contra 195 da ONU.
Recebeu a entidade com modesto escritório em Zurique e a entregou, em 1998, com luxuosa sede também em Zurique. Fez do futebol um grande negócio profissional.
Até aqueles dias os mal feitos de Havelange não eram conhecidos do público.
Havelange pairava sobre todos. Ao deixar a presidência, em 1998, tornou-se presidente de honra. Cargo a que renunciou em 2013, para escapar a qualquer punição por parte da entidade, devido a avalanche de denúncias de corrupção envolvendo o outrora todo poderoso.
E foi no esquecimento, sem festas, que morreu em 2016, aos 100 anos de idade.
Mas voltemos à palestra.
Havelange defendia o futebol puro, sem interferências tecnológicas.
Na época, já se discutiam modificações na arbitragem e o auxilio da tecnologia ao futebol.
As razões de Havelange eram simples e até simplórias.
– O futebol não é uma ciência exata. Os erros de arbitragem fazem parte de sua história, de sua vida. Aliás, até dão vida, porque as polêmicas tornam o futebol cada vez mais apaixonante. O dia que o futebol perder sua capacidade de provocar polêmicas, ele estará morto.
Não deixa de ter razão. A polêmica é energia, é vida.
Se as torcidas de futebol fossem compostas só por Congregados Marianos e Filhas de Maria, o futebol já teria morrido.
Calma, calma.
Não estou defendendo torcidas organizadas, violentas, assassinas e assassinatos.
Mas você já pensou que coisa mais sem graça chegar à padaria, na segunda-feira pela manhã, e não encontrar ninguém discutindo futebol? Ninguém reclamando de um lance, de uma falta, de um impedimento que não aconteceu?
Aí, há cerca de cinco anos, criou-se o VAR, que é a sigla em inglês de Video Assistant Referee, ou o árbitro assistente de vídeo.
Seria, ou deveria ser, a cura para todos os males da arbitragem no futebol.
Mas não.
Cinco anos depois e após estudos e aperfeiçoamentos, o VAR continua provocando quase tanta polêmica nas padarias quanto antes.
No jogo de ontem, na Vila Belmiro, entre Santos e Vasco (2 a 2) o VAR foi chamado a atuar num lance em que o juiz não havia visto nada de errado. Ao rever o lance, o juiz optou por marcar um pênalti a favor do Vasco que empatou o jogo.
No domingo passado, também na Vila Belmiro, o VAR entrou em ação duas vezes e, nas duas, modificou decisão que favorecia ao Santos.
O técnico Cuca, do Santos, se mostrou indignado ontem:
– Outra vez! Dois jogos seguidos, jogos em casa, e o VAR nos prejudica?!
Cuca, na verdade, sintetiza o pensamento do torcedor que quer ver o VAR ou o juiz agindo sempre a favor de seu time.
Como é possível marcar dois pênaltis no mesmo jogo? Indigna-se o torcedor. Ora, se dois pênaltis existiram, eles devem ser marcados. Não só dois: 3, 4…
E aí, a gente ouve disparate como eu ouvi de um jornalista a respeito da anulação do gol do Santos, contra o Flamengo.
– Não pode ser! É coisa milimétrica. Era um fio de cabelo na frente.
Mas estava na frente. Portanto, impedido.
O ex-juiz Sálvio Spinola, aliás, excelente e correto juiz, hoje comentarista que defende a tese que os profissionais que trabalham nas decisões do VAR não deveriam ser apenas juízes e ex-juízes, mas também comentaristas esportivos e ex-jogadores.
Segundo ele, o atual corpo de jurados, formado só por ex e juízes, coloca a arbitragem acima do futebol.
Tese que eu contesto.
A lei deve ser aplicada. E a lei não diz que um jogador está muito ou só um pouquinho impedido.
É como na aplicação do gol ou não gol: a bola entrou ou não entrou. Não há o que discutir.
O que se deve melhorar é o tempo que se leva para tomar uma decisão.
No domingo, Santos e Flamengo, o jogo ficou paralisado por 10 minutos somando-se as duas intervenções do VAR.
A paralisação demorada enerva jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores.
Isso precisa ser corrigido.
Ou o circo (padaria?) vai pegar fogo.
Veja os gols desta quarta-feira:
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Caro Mário, como já disse em msg anterior – ou se não disse fica dito agora – o VAR parece um trambolho para diminuir o interesse do torcedor. O centenário Havelange estava certíssimo ao condenar as novas tecnologias a serviço do futebol. Um VAR que leva 10 minutos para decidir tira o tesão dos jogadores (quebra o ritmo da partida) e dos torcedores presentes ou ausentes no estádio (acabam com as eternas questões que, na maioria das vezes, transbordam no campo para a mídia e dela para as discussões das segundas e/ou quinta-feiras nos botequins da vida. Futebol sem discussão é um dos esportes mais chatos do planeta. Vinte e dois homens de cuecas correndo atrás de uma bola. Onde está a graça? Em nome do que? Do acerto absoluto? Quem quer saber disso? Você não conhece a frase que eu vou chupar da Galvão: Ganhar é bom, ganhar com erro do juiz é melhor !
maravilha, Tão! Beijo meu,Marli
RESPOSTA DO MARINHO! :
Tão,
antes de tudo, é um prazer muito grande ter Você entre os meus leitores.
A demora nas decisões é realmente mais do que irritante, angustiante.
Mas, eu acredito que vai melhorar.
E outra coisa: não vai tirar de nós, os torcedores, o fôlego e a motivação para as eternas e saborosas discussões.
Um grande abraço, meu caro.
Mário Marinho
Tão,
antes de tudo, é um prazer muito grande ter Você entre os meus leitores.
A demora nas decisões é realmente mais do que irritante, angustiante.
Mas, eu acredito que vai melhorar.
E outra coisa: não vai tirar de nós, os torcedores, o fôlego e a motivação para as eternas e saborosas discussões.
Um grande abraço, meu caro.
Mário Marinho
Marinho,
Comentário no geral esplêndido, como todos os que você faz, Marinho. Mas neste me chamou a atenção, muito particularmente, o sobrevoo contando algo da vida do João Havelange. Toda vida, dizem, dá romance. Mas a do citado, se sobre ela se lançasse alguém tipo Sidney Sheldon, certamente daria best seller. Com posterior filmagem tendo Charlton Heston no papel principal…
Abraço,
Antonio Contente
Contente:
eu trocaria o Sidney Sheldon por Antônio Contente. Teríamos uma história com o mesmo e intrigante roteiro, mas, com um pouquinho mais de malícia…