Por que não? Blog do Mário Marinho
POR QUE NÃO?
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Toca o telefone, o fixo, e do outro lado uma voz cansada, um tanto rouca, denotando mais contristação do que aflição, me pergunta:
– Mário, é verdade?
– O que é verdade, Barão?
Reconheço a voz. É amiga, é antiga. Não tem título de nobreza, oficialmente, mas é conhecido por Barão por sua elegância, sua garbosidade, prumo e aprumo.
– O Messi vem mesmo para o São Paulo. Há possibilidade?
Desde que o Barcelona levou aquela chacoalhada do Bayern lá em Lisboa, 8 a 2, e logo após a demissão sumária do técnico Quique Setién, fala-se com insistência na saída do ídolo Messi, desgastado com a surra e com as críticas que recebeu.
O Barão Evangelista Arruda Botelho Prado de Almeida Acher – que, modestamente, se deixa chamar simplesmente por Barão – insiste.
– Você acha que existe possibilidade real?
O Barão agora deixa escapar uma certa ansiedade, bem próxima da angústia.
– Seria uma solução, pois não?, insiste ele.
Tenho vontade de dizer que a possibilidade é tão real quanto a cloroquina ser declarada pela OMS como o único medicamente eficaz para atual pandemia. Ou que é tão acreditável quanto uma nota de três dólares. Tenho vontade, mas algo na voz dele, algo de triste, me leva a ser misericordioso.
– O senhor acha, Barão, que seria uma solução?
– Ah!, meu jovem, o Tricolor tem larga tradição em buscar jogadores veteranos e com eles conseguir sucesso. A história está repleta de exemplos.
O Barão vai fundo e começa a declamar a sua lista.
– Não é de minha época, porque não sou tão velho assim, mas meu irmão mais velho, o Bartholomeu, saudoso Bartô, viu o quando o Friedenreich chegou ao São Paulo.
– É mesmo?, pergunto
– O Fried era do Paulistano e chegou no recém-fundado São Paulo em 1930. Foi importante na conquista do título de 1931. Sabia que o apelido dele era “El Tigre”?
– Sim, sabia.
– Pois é, ele marcou mais de cem gols com a gloriosa camisa Tricolor.
O Barão dá-se um tempo para suspirar e lança outro nome de impacto.
– E o Leônidas? Homem Borracha, apelido que ele ganhou na Copa do Mundo de 1938. Parecia uma malabarista circense com aqueles gols de bicicleta. Menino, o Diamante Negro chegou ao Tricolor em 1942. Sua estreia foi contra o Corinthians e o Pacaembu recebeu mais de 70 mil torcedores, recorde que nunca foi batido. Veja só: com ele, o meu são Paulo foi campeão de 1943, 1945, 1946, 1948 e 1949.
– Eu conheci o Leônidas, Barão.
– Ah!, que nada. Você conheceu quando o Leônidas era comentarista de rádio. E comentarista dos bons, viu? Eu vi o Leônidas em campo. Que beleza!
Sou levado a concordar, mas o açodado Barão me interrompe.
– E o Zizinho? E o Zizinho?
– Desse eu me lembro…
– Lembra nada, lembra nada. Zizinho foi o Pelé da época. Ainda mais sob o comando do Bella Gutmann, aquele técnico fantástico. Com ele, o Tricolor foi campeão em 1957. E sabe quem aprendeu muito com o Bella Gutmann?
– Não, não sei.
– O Vicente Feola. O Feola foi auxiliar técnico dele no Tricolor. E no ano seguinte, o que aconteceu? Feola foi o técnico da Seleção Brasileira campeã do Mundo na Suécia. Aprendeu com Mr. Gutmann.
Ouço a respiração ofegante do Barão do outro lado da linha. Dou tempo para que ele se recupere.
– Em 1970, nós tivemos o Gérson.
– Bem, pondero. Mas o Gérson não era um veterano. Em 1970, ele estava apenas com 30 anos.
– Mas, já não era um menino. E aí o Tricolor foi campeão, aliás, bicampeão 1970 e 1971.
– Mais ou menos com a mesma idade, tem o Falcão, não é?
– Não, não é a mesma coisa. O Falcão veio em 1985, mas não foi brilhante. Chegou com fama de Rei de Roma, mas não conquistou nada.
– Tem também o Raí, Barão.
– Ah!, esse sim. O irmão craque do Sócrates. Esse, o Raí, foi o verdadeiro craque da família. Esse menino jogou no São Paulo de 1987 a 1993. Aí, foi para a França, para o Paris Saint Germain, onde está o Neymar hoje. Cansou de ganhar título lá e voltou para o São Paulo em 1998. Veja Você, voltou quando já era vovô. Sabe que idade ele tinha: 33 anos. 33 e já era vovô. Um craque. No mesmo ano da volta, nós fomos campeões em cima do Corinthians.
– Tem mais?
– Claro, o Toninho Cerezo. Ele veio para o Tricolor aos 37 anos de idade, a tempo de ser Campeão do Mundo. Bicampeão, em 1992 e 1993.
Do outro lado, o Barão respira ofegante. Dou um tempo.
– Barão?
– Quantos anos tá o Messi?
– Tem 33 anos. Completou 33 anos em junho.
– Então, tá na hora de jogar no Tricolor. Seria um final de carreira brilhante, fenomenal.
Novo prolongado silêncio.
– Mário, Você acha que tem chance?
– Por que não?
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
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Meu caro amigo Mário, seria um privilégio poder ver Messi em campo aqui no Brasil, mas um camisa 10 desse nível somente no meu glorioso Santos Futebol Clube.
Walter,
seria um substituto quase à altura daquele famoso e único Camisa 10.
Abração,
Mário Marinho
Mesmo para os jejunos das coisas do ludopédio, Mário, esta tua crônica sobre o Messi está uma delícia.
Antônio Contente
Muito bom, Marinho. Bom demais.
Edison Scatamachia
Mário, que bom é ler suas crônicas. O Messi não vem. Ele não seria escalado pelo Daniel Alves. Eles têm antiga pinimba dos tempos do Barça…