Homem de cor. Por Meraldo Zisman
HOMEM DE COR
MERALDO ZISMAN
… Quando adoece fica amarelo e o pior quando morre fica cinza. Como é que você seu branco de merda ainda tem a sem-vergonhice e cara de pau de me chamar de Homem de Cor, seu camaleão que troca de cor de acordo com os acontecimentos. Eu permaneço com a cor que nasci em todas as ocasiões…
Era um crioulo grande e forte. Trabalhava nas docas como estivador. Líder sindical da categoria. Numa dessas greves, que não existem mais, — primeiro foi o regime militar e depois que já viu fazer greve contra os companheiros do PT, ambos deram fim ao poderio
dos trabalhadores de porto. foi chamado pelo fiel do armazém de negro safado, apesar da lei contra a discriminação racial.
O negão virou-se para o esquálido agressor, branco de óculos e com cara de intelectual de esquerda, com uma estrelinha vermelha na lapela teve que ouvir a resposta pois estava seguro pelo forte trabalhador das docas.
– Olha aqui sem branco de merda: brancos ou pretos todos os homens são todos irmãos. Quando eu nasci, eu era negro, depois eu cresci e continuei negro; quando eu pego sol na estiva ou na praia continuo negro. Quando nas há sol permaneço negro. Quando tenho medo, continuo negro. Quando estou fazendo amor, conservo-me negro. Negro fica minha pele quando adoeço. No dia em que morrer será um cadáver de um preto.
O branco respondeu apesar da desvantagem física em que se encontrava teve coragem de dizer:
— Negro é negro em qualquer circunstância. Homem de cor é negro, exclamou acoitado por dois soldados pretos, também.
Foi aí que Zé-Grande da Estiva como era chamado pelo pessoal das docas muito calmamente foi dizendo:
— O senhor é branco agora, quando nasceu era cor de rosa; quando cresceu ficou branco e quando pega sol fica vermelho como um camarão. Fica azul ou roxo de frio. Com medo fica verde. Quando adoece fica amarelo e o pior quando morre fica cinza. Como é que você seu branco de merda ainda tem a sem-vergonhice e cara de pau de me chamar de Homem de Cor, seu camaleão que troca de cor de acordo com os acontecimentos. Eu permaneço com a cor que nasci em todas as ocasiões.
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Caro Dr. Meraldo, AMEI ESSA CRÔNICA! VERDADE! VERDADEIRA, UAI! MUITO OBRIGADA.
“— O senhor é branco agora, quando nasceu era cor de rosa; quando cresceu ficou branco e quando pega sol fica vermelho como um camarão. Fica azul ou roxo de frio. Com medo fica verde. Quando adoece fica amarelo e o pior quando morre fica cinza. Como é que você seu branco de merda ainda tem a sem-vergonhice e cara de pau de me chamar de Homem de Cor, seu camaleão que troca de cor de acordo com os acontecimentos. Eu permaneço com a cor que nasci em todas as ocasiões.”