Corinthians de 1969: Em pé, da esquerda para a direita: Polaco, Dirceu Alves, Ditão, Luiz Carlos, Pedro Rodrigues e Alexandre. Agachados: Paulo Borges, Ivair, Benê, Rivellino e Suingue

Ditão, meu herói. Blog do Mário Marinho

DITÃO, MEU HERÓI

BLOG DO MÁRIO MARINHO

Corinthians de 1969:
Em pé, da esquerda para a direita: Polaco, Dirceu Alves, Ditão, Luiz Carlos, Pedro Rodrigues e Alexandre. Agachados: Paulo Borges, Ivair, Benê, Rivellino e Suingue

 O zagueiro Geraldo Freitas Nascimento era um homenzarrão que não tinha medo de cara feia. Em campo, com frequência aplicava aquela filosofia: a bola passa, o adversário não.

E foi ele, com sua força e rapidez, que evitou que eu fosse agredido no Parque São Jorge, logo após um treino do Corinthians. E, você sabe, no meio de um bololô de gente, se alguém dá o primeiro tapa você logo vira saco de pancadas.

Saravá, Ditão.

Nos meus dois primeiros anos de Jornal da Tarde, em 1968-69, fiz cobertura diária dos principais times de São Paulo: o Tricolor, o Palmeiras, o Corinthians, a Lusa e o Santos.

Destes, o mais difícil foi o Corinthians.

O Timão vivia a fase de jejum de título do Paulistão, que durou de 1955 a 1976 (foi campeão em 1977).

Volta e meia um repórter era agredido por torcedores e até mesmo por dirigentes.

O Corinthians era presidido pelo deputado Wadih Helu, um político totalmente identificado com a ditadura militar de então.

Havia acusações, mas não provas, de que algumas das agressões eram a mando do presidente. Se não havia provas, havia a certeza de que ele não fazia nada para evitar as agressões.

Assim, nós, jornalistas, éramos muito mal vistos nos redutos alvinegros.

Assisti a início da carreira de Dino Sani como técnico no Corinthians. Ele substituiu Aymoré Moreira, em 1969.

Dino era muito retraído, não gostava de falar muito – muito menos com jornalistas. Entrevista com ele era um sofrimento.

Para qualquer pergunta, Dino invariavelmente tinha essa resposta:

– O futebol é simples: ou ganha, ou perde ou empata.

Fim de papo.

Nem mesmo, à véspera dos jogos, ele revelava a escalação do time que jogaria.

Numa véspera de um clássico naquele ano, eu precisava da escalação do time que iria jogar para os meus leitores do Jornal da Tarde.

Naquela época, o Timão treinava no campo da Fazendinha, que ficava dentro do clube social do Parque São Jorge. Assim, os treinos, invariavelmente, eram assistidos por muitos torcedores.

Nós, da Imprensa, ficávamos do lado de dentro do alambrado que separava o campo dos torcedores e, ao final do treino, fazíamos ali as nossas entrevistas.

Os jogadores saíam do gramado e iam para o vestiário passando, muitas vezes, no meio dos torcedores e jornalistas.

Pois bem, eu estava entrevistando o Dino Sani e tentando, com muito tato, arrancar a escalação.

Mas, o Dino apenas arqueava a sobrancelha, tornando sua expressão ainda mais carrancuda.

Eu estava ali na porta do vestiário, ao lado do Dino e cercado de alguns torcedores.

Foi quando eu ouvi o grito ameaçador:

– Dá logo uma porrada nesse cara.

Me virei e vi um cara vindo com tudo em minha direção.

Num segundo, rápido como se estivesse disputando uma jogada, o zagueiro Ditão se colocou na minha frente e parou o agressor com o próprio corpo.

Ditão era muito forte e acostumado a encarar o jogo duro dentro de campo. Ele era alto, quase uma parede. O agressor trombou com ele e caiu.

E ouviu do zagueiro o maior esporro.

– Respeita o rapaz que está trabalhando!

O agressor ainda quis argumentar.

– Mas Ditão, esses caras da Imprensa são todos filhos da puta e não gostam do Corinthians!

Ditão quase enfiou o dedo no nariz do cara.

– É por isso que eles não gostam. Eles vêm aqui trabalhar e vocês querem bater nos caras. Vai embora, sai daqui!

Alertado pelos gritos do Ditão, Caldeirão, que era o segurança do vestiário, apareceu, pegou o torcedor pelo braço e o colocou para fora do Parque São Jorge.

Ditão nasceu em São Paulo-SP, 10-03-1938 e morreu em Guarulhos-SP, 1º de fevereiro de 1992, aos 53 anos de idade, vítima de problemas cardíacos.

Ele foi revelado pelo Juventus-SP no final dos anos 1950, passou pela Portuguesa de Desportos-SP (1960-64), Flamengo-RJ (1964-1966) quando foi para o Corinthians e ficou apenas um ano. Voltou ao Flamengo, para mais um ano, e, na sequência, ao Corinthians, onde ficou de 1969 a 1971.

A verdade é que já passei inúmeros apertos no meu trabalho. Nunca cheguei a apanhar. Mas, aquele dia, foi por pouco.

E, ironia do destino, quem me salvou foi exatamente um zagueirão mal encarado e com fama de violento.

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

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