Da pergunta e da resposta. Por Meraldo Zisman
DA PERGUNTA E DA RESPOSTA
MERALDO ZISMAN
… A inquietação provocada pelo questionamento suscita o aprendizado? A pergunta nos move em direção à mudança, à transformação, ao inaudito? Para os que estão indecisos e precisam encontrar uma resposta, farei uma provocação, ou seja, uma pergunta…
“Só sei que nada sei”, esta célebre frase foi proferida por Sócrates que, sem sombra de dúvidas, foi um dos maiores pensadores da humanidade.
Esse reconhecimento é fruto da sua dedicação à criticidade, ao exercício de pensar e formular perguntas. Sócrates se isentou da obrigação de encontrar respostas? Podemos afirmar que o filósofo foi um homem à frente do seu tempo? A inquietação provocada pelo questionamento suscita o aprendizado? A pergunta nos move em direção à mudança, à transformação, ao inaudito? Para os que estão indecisos e precisam encontrar uma resposta, farei uma provocação, ou seja, uma pergunta. Só há o sim ou o não, o certo ou o errado, caso tenha havido um questionamento.
Mas pode haver pergunta sem resposta? Ou resposta sem pergunta? O que me sugere outras perguntas…
O que gera o conhecimento são as perguntas ou as respostas?
Vivemos em um mundo onde a maioria das pessoas é capaz de formular perguntas – ou num mundo onde a maioria das pessoas reproduz respostas elaboradas por outrem?
Nos seminários rabínicos (Yashiva) os estudantes são estimulados e avaliados pela capacidade, profundidade e originalidade de suas perguntas, não pelo brilhantismo de suas respostas.
Numa cultura que nos exige sermos assertivos, bem-sucedidos, afortunados, vencedores, o individualismo se torna mais palpável, incrementando o risco fantasmagórico da destruição e da solidão.
A cada passo, a formulação de uma indagação revela mais sobre nós mesmos do que sobre o espírito da pergunta. A propósito, lembro aos que não se recordam a frase da filosofa Hanna Arendt (1906-1975), que exprime a máxima conclusiva das catástrofes ocorridas no passado século XX: “O século da banalidade do mal”.
Semelha decorrer de imaturidade pensar que a pandemia do coronavírus 19 venha a ser um marco de alguma mudança. Bastaria lembrar a gripe espanhola que matou muito mais gente logo após a Primeira Grande Guerra, mas não levou, por exemplo, à gestação por partenogênese (fêmeas que procriam sem precisar de machos que as fecundem). Os organismos que se reproduzem por este método estão geralmente associados a ambientes isolados como ilhas oceânicas e tampouco tem qualquer relação com a Segunda Guerra Mundial.
… Guerras e Pandemias não alteram o que já estava em desenvolvimento quando elas surgiram…
Afora isso, tenho muitas dúvidas quanto à possibilidade de a pandemia causada pelo COVID -19 trazer algum aprendizado.
Guerras e Pandemias não alteram o que já estava em desenvolvimento quando elas surgiram.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.
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