Saúde Mental e Coronavírus. (Suicídio X Covid-19). Por Meraldo Zisman
SAÚDE MENTAL E CORONAVÍRUS
(SUICÍDIO X COVID 19)
MERALDO ZISMAN
Cerca de 800 mil pessoas anualmente – mundo – acabam com suas vidas pelas próprias mãos. Agora, durante essa virose apelidada de pandemia, não possuímos estatísticas confiáveis e alguns médicos alertam para o fato de que o suicídio é um problema de saúde que não recebe tanta atenção por causa do tabu social…
O Covid-19 prejudica a saúde mental das pessoas?
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 800 mil pessoas anualmente – mundo – acabam com suas vidas pelas próprias mãos. Agora, durante essa virose apelidada de pandemia, não possuímos estatísticas confiáveis e alguns médicos alertam para o fato de que o suicídio é um problema de saúde que não recebe tanta atenção por causa do tabu social.
Dadas as estratégias adotadas para o controle dessa gripe que grassa pelo mundo, não se pode afirmar que possíveis autoagressões causadas pelo isolamento social têm aumentado ou diminuído o número dos suicídios ou de suas tentativas frustradas. Escrevo assim pois, de cada 10 a 20 tentativas, apenas uma resulta em morte. Desconfio que muitas dessas tentativas de auto eliminação passaram desapercebidas pela gravidade desse surto pandêmico causado pelo COVID 19, reforçado por censura/alarme da mídia.
Alguns desses episódios de tentativas frustradas ou exitosas dos autocídios podem estar subnotificados pelo véu do coronavírus ou pelas recomendações da mídia que parecem indicar medidas profiláticas para evitar um efeito manada na nossa população, o que não aumenta a imunidade geral e cria uma pandemia de suicídios.
Além disso, há a insegurança que a quarentena causa, levando a alterações nos fatores econômicos, ao desemprego, ao tumulto político e à violência das mais variadas matizes. As teorias da gênese do comportamento do autocídio destacam o papel que os longos isolamentos sociais desempenham na provocação dos atentados à própria vida. Muitos são os aspectos envolvidos pois inexistem repostas simplistas para assuntos complexos.
Estudos relataram um acréscimo nas vendas de armas nos países onde o seu porte é legalizado, o que as torna o método mais frequente de suicídio, principalmente entre pessoas do sexo masculino.
… Além das mais de duzentas mil mortes mundiais pelo coronavírus, existe um número invisível da mortandade devida ao aumento do suicídio. As preocupações com os resultados secundários negativos dos esforços de prevenção do COVID-19 pelo isolamento social não devem ser esquecidas nem camufladas…
As armas de fogo são o método mais comum de suicídio nos EUA devido tanto à sua posse ou acesso como ao seu armazenamento inseguro. Tudo isso leva a um risco elevado de suicídio por arma de fogo.
Nesse contexto, questões de segurança no uso de armas de fogo para prevenção de suicídios são cada vez mais relevantes. A taxa de suicídio de adolescentes com idades entre 10 e 14 anos aumentou 40% nos últimos 10 anos e 33% entre aqueles com idades entre 15 e 19 anos, segundo o Mapa da Violência 2014. Repito. Todo dia, 28 brasileiros se suicidam e, para cada morte, há entre 10 a 20 tentativas. Por outro lado, o aumento da ingestão em excesso de bebidas alcoólicas pode estar envolvido em cerca de 30 a 40% dessas mortes.
Existem vários estudos que identificam os transtornos por uso de álcool como fatores de risco significativos para a morte por suicídio, sendo relatado um risco 2,6 vezes maior entre as pessoas droga-dependentes.
Além das mais de duzentas mil mortes mundiais pelo coronavírus, existe um número invisível da mortandade devida ao aumento do suicídio. As preocupações com os resultados secundários negativos dos esforços de prevenção do COVID-19 pelo isolamento social não devem ser esquecidas nem camufladas. É preciso levar em conta que num país da dimensão do Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes e diferenças abissais entre regiões, teremos sempre vários estágios simultâneos de qualquer pandemia.
De acordo com um estudo feito em Michigan e divulgado pelo Loudwire, o índice de pessoas que se matam cresceu 32% durante a quarentena. O estudo da Pine Rest Christian Mental Health Services acompanha o número de suicídios e os analisa com números obtidos pós-SARS, doença similar, em Hong Kong. Lá, o aumento foi de 31,7% nos dois anos seguintes ao surto.
Um exemplo paralelo é o da barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho, que continua a afetar moradores do município. Pouco mais de sete meses depois da ruptura da represa de rejeitos de minério de ferro, ocorrida em 25 de janeiro, números da Secretaria Municipal da Saúde mostram aumento no número de tentativas e de suicídios no município, principalmente entre mulheres. O quadro reflete a deterioração na saúde mental da população, comprovada por uma alta expressiva nas prescrições de antidepressivos e ansiolíticos (medicamentos para controlar ansiedade e tensão).
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.
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Seus artigos sempre pertinentes num momento como o que estamos passando, é um alerta enquanto advertência, do que pode ocorrer dentro de nossa própria casa.
Muito obrigada, Dr. Meraldo
“As preocupações com os resultados secundários negativos dos esforços de prevenção do COVID-19 pelo isolamento social não devem ser esquecidas nem camufladas”.