A força das novas forças. Coluna Carlos Brickmann

A FORÇA DAS NOVAS FORÇAS

COLUNA CARLOS BRICKMANN

Como aumentar a força de vontade - Mundo Interpessoal

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 3 DE JUNHO DE 2020

 De um lado, os manifestantes bolsonaristas não estão interessados no Supremo, nem em Direito, e não se preocupam com a corrupção parlamentar – ou não apoiariam a aliança de seu mito, a quem querem como ditador, com o Centrão. De outro, as torcidas organizadas que os enfrentaram em nome da democracia e do antifascismo são organizadas, mas como grupos belicosos, daqueles que marcam brigas de rua pela Internet, nas quais já morreu gente, e não estão interessadas em democracia ou em luta antifascista – ou não aceitariam entre seus integrantes um cavalheiro todo de preto, ostentando no peito uma suástica, símbolo maior do nazismo. De ambos os lados, são desordeiros, aglomerando-se sem se importar com o coronavírus, nem com as pessoas que irão contaminar. A morte dos outros é apenas um detalhe.

A briga nas ruas chama a atenção. Mas o importante acontece em outra frente, a política. A oposição, anestesiada desde a surra eleitoral que tomou, começa a sair de sua paralisia, acordada pelas declarações autoritárias de Bolsonaro & Filhos e impulsionada pela sociedade civil. Nada, ainda, a ver com partidos, mas com movimentos como “Somos 70%”, “Estamos juntos” e o manifesto “Basta!” Há neles união de tradicionais adversários políticos e ideológicos, em nome de um objetivo maior – oficialmente, a democracia. Mas não se pode esquecer que “Basta!” foi um dos editoriais do Correio da Manhã às vésperas da deposição do presidente João Goulart, em 1964.

 A ausência

Lula está fora: não quer se unir a adversários que, com o impeachment de Dilma, tiraram o PT do poder. Mas Lula, convenhamos, já não é o Lula de antes. A CUT vacila (perder o imposto sindical foi um golpe duríssimo), ele mesmo parece ter perdido o fogo dos velhos tempos, aliados importantes o abandonaram: não apenas Ciro Gomes, mas até mesmo o PCdoB conversa com outros setores. As conversas ainda devem avançar, mas o exemplo histórico anterior funcionou: a campanha das Diretas Já começou assim e, apesar dos percalços, deu certo e levou ao fim da ditadura militar.

 Um número

O “Estamos Juntos” já reuniu mais de 200 mil assinaturas. É um início promissor. No início da campanha das Diretas Já, os idealizadores e líderes do movimento couberam no terraço de cobertura da Folha de S.Paulo, onde foram fotografados (todos riram muito da foto, que pretendia representar a sociedade civil – e representou). O primeiro comício reuniu cinco mil pessoas. O último ocupou o Vale do Anhangabaú inteiro, em São Paulo.

 O tempo passa

Bolsonaro ainda tem considerável capital político, apesar do desgaste dos últimos tempos. Mas perdeu mais de um ano em que jogou sozinho, sem oposição. Ele e os filhos ocuparam o papel de oposição ao próprio Governo. Hoje, além do possível surgimento de uma nova oposição fora do Congresso, há o problema do coronavírus. Não foi ele que trouxe a pandemia, embora atrapalhe e muito as tentativas de combatê-la. Mas é quase inevitável que os problemas dela decorrentes ajudem a reduzir seu apoio popular. No caso, por sua culpa: Mandetta ia bem, era bem visto pela opinião pública, era Governo. E foi fritado. Moro também era popular, era Governo, e foi fritado. É como afastar Messi do time para mostrar que o bom ali é o técnico, não o craque.

 Achar os hackers

Outro problema para Bolsonaro, que talvez contribua para desgastá-lo, é o dos hackers do movimento Anonymous, que começa a divulgar seus dados pessoais e de alguns de seus ministros. A ação dos hackers não tem sentido: não há interesse em saber seus números de CPF ou endereços particulares, a não ser como elemento de chantagem. E está na hora de reparar um grave erro: quando houve a divulgação das trocas de mensagens de Sergio Moro, houve ações contra Glenn Greenwald, que as divulgou. Mas ele, jornalista, estava dentro da lei: a divulgação não é crime. O crime era o hackeamento, e os hackers não foram incomodados. Cibernético ou não, crime é crime. Interceptar conversas alheias é crime e deve ser esclarecido. Simples assim.

 Heróis? Não…

E, por favor, vamos parar de chamar os desordeiros que fizeram baderna em Curitiba de “antifascistas”. Antifascistas eram os partigiani, combatentes corajosos que minaram dentro de casa o fascismo italiano. Em Curitiba, os baderneiros eram black blocs, que não combatem o fascismo nem sabem o que é isso. Quebrar vitrines a pedradas e bastonadas é coisa de vândalo, de bandido, que se divertem causando prejuízo a quem não tem nada com isso.

 …anti-heróis

E botar fogo em bandeira do Brasil? Este colunista não gosta de ver um grupo político-partidário se apropriar de símbolos nacionais. O símbolo é de todos, não de um partido. Mas a bandeira, mesmo sendo hoje usada por bolsonaristas, é de todos nós, é do Brasil. E merece, tem de ser respeitada.

________________________________________________________

CURTA E ACOMPANHE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK
______________________________________________________________
ASSINE NOSSA NEWSLETTER NO SITE CHUMBOGORDO (WWW.CHUMBOGORDO.COM.BR)
___________________________________________________
COMENTE:
carlos@brickmann.com.br
Twitter:
@CarlosBrickmann
www.brickmann.com.br

1 thought on “A força das novas forças. Coluna Carlos Brickmann

  1. É verdade. A bandeira é de todos. Tem de ser respeitada, e queimá-la não parece respeito. Mas quando vejo bolsonaristas carregando bandeiras e ostentando verde e amarelo generalizado em suas fantasias, e o próprio capitão usando a bandeira como capa de super-herói, confesso que perco a noção do que é pior. Quem a desrespeita mais, afinal? Está cada vez mais difícil imaginar que esse símbolo nacional represente alguma coisa. De um lado, criminosos. De outro, criminosos. E a bandeira disputada por todos. Isso cria uma situação curiosa: quem vê de fora, noutros países, seja pela TV, nos jornais ou na internet, tem a impressão de que, no Brasil, todos os nacionalistas são criminosos – ou todos os bandidos são patriotas. E será que não é mesmo assim…?
    Um país é muito mais aquilo que dele se faz do que aquilo que dele se diz.
    E nós, afinal, os que não estamos lá nem cá, o que fazemos?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter