Somos (quase) todos pela Democracia. Blog do Mário Marinho

SOMOS (QUASE) TODOS PELA DEMOCRACIA

BLOG DO MÁRIO MARINHO

O Brasileiro, de um modo geral, não gosta de política – e tem lá suas razões.

Em alguns segmentos da sociedade, esse assunto é tão ignorado que até parece um escandaloso tabu.

Assim é no Esporte.

Os esportistas – claro, há exceções – não gostam de discutir esse assunto.

No mundo do futebol, falar ou até mesmo mencionar política parece um pecado mortal.

Isso muito embora o futebol fosse usado como trampolim para muitos dirigentes de clubes se elegerem.

Um dos poucos exemplos em que a política não só foi discutida, mas, como defendeu-se a Democracia em uma época de regime fechado, foi a famosa Democracia Corintiana. O Brasil vivia sob forte ditadura militar.

Entre os jogadores, Sócrates, além e ser o craque do time, tinha cabeça bem aberta não só no quesito comportamento como também política.

No comportamento, o Magrão começou a quebrar tabus ao tomar sua cervejinha em público.

Naquela época, começo dos anos 80, o Corinthians treinava na Fazendinha, seu romântico estádio no Parque São Jorge.

Coringão Antifa (@CoringaoAntifa) | Twitter

Após os treinos, os jogadores dirigiam-se para o estacionamento onde pegavam seus carros.

Ao lado do estacionamento havia o Bar da Torre.

Bem ali, no Bar da Torre, de frente da sala do Presidente do Clube e por onde circulavam associados, Sócrates parava e tomava não uma, mas várias cervejas.

Por ali, muitas vezes, era visto conversando com o vice-presidente Adilson Monteiro Alves que também tinha ideias pouco condizentes com o regime político em que viviam.

Foi dessas conversas que nasceu a Democracia Corintiana.

Logo, alguns jogadores, como o também revolucionário Casagrande, aderiram. Outros ficaram na moita. O técnico Mario Travaglini via o movimento com muito desconforto.

Mas vingou.

Os jogadores passaram a ser ouvidos em muitas ocasiões nas quais nunca tiveram vez – ou voz.

Lembro-me que em 1985, a poucas semanas da eleição para prefeito em São Paulo (que acabou com a vitória do Jânio Quadros sobre Fernando Henrique Cardoso), o Corinthians entrou em campo com um apelo às costas de sua camisa: “No dia 15 Vote”. Era um apelo que não agradava aos militares, avessos aos votos.

Assim, foi com muita alegria que assisti ao movimento das torcidas nesse fim de semana, empunhando a bandeira e a ideia “Somos pela Democracia”.

Na Avenida Paulista, corintianos estavam lado a lado de palmeirenses, quem diria?, assim como santistas e são-paulinos; flamenguistas e vascaínos no Rio; atleticanos, cruzeirenses e americanos em Belo Horizonte; colorados e gremistas no sul…

O País inteiro viu esse movimento.

No sábado, os principais jornais do Brasil trouxeram uma página inteira com um manifesto assinado por juristas, pedindo um Basta! às ameaças contra a democracia. (Veja, aqui:– Basta)

Entre esses juristas, por coincidência, estava Carlos Miguel Aidar, que nos anos 1980 foi um jovem presidente do São Paulo.

Lamentavelmente, houve o confronto entre os esportistas que defendiam a Democracia e partidários do presidente Jair Bolsonaro, aliás, eleito no regime democrático.

Uma pena que a democracia inspire medo ou aversão a um grupo que representa o primeiro mandante do País.

Mas a Democracia, até por permitir que seja ela própria atacada, não é a dona da verdade, não se impõe pela força.

A exemplo do movimento pelas eleições diretas, na mesma época da Democracia Corintiana, a semente está lançada.

Nesta segunda-feira recebi um WhatsApp com a mensagem “Estamos Juntos” que se define logo em seu primeiro parágrafo:

 “Somos cidadãs, cidadãos, empresas, organizações e instituições brasileiras e fazemos parte da maioria que defende a vida, a liberdade e a Democracia”.

Se você quiser mais informações, acesse:

www.movimentoestamosjuntos.org

Trata-se de um movimento suprapartidário.

Assim como as torcidas se unem, esquecendo, pelo menos por algum tempo, as cores e os amores esse movimento também não tem partido: torce e vibra por uma única torcida: o Brasil.

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

3 thoughts on “Somos (quase) todos pela Democracia. Blog do Mário Marinho

  1. Me pergunto. Ja nao estamos em pleno regime democrático? Onde estamos falhando para que houvesse manifestação com esse apelo? Tudo uma grande farsa. Que digam as composições do nosso metrô depredadas e outros danos ao patrimônio.

  2. Boa, Marinho. Abrir espaço pra defender a democracia num blog esportivo é uma iniciativa feliz. Se mais 100 blogs de esporte fizerem o mesmo, eles todos vao inspirar outros 100 blogs,os da cultura ou da culinária seguirao o exemplo… e aí o jogo muda.

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