Enquanto no Brasil tudo acaba em pizza… Por Wladimir Weltman
…Nos EUA tudo acaba em Hollywood. O escândalo que quase derrubou o presidente Bill Clinton em 1998, chegou às telinhas a cabo e de streaming dos EUA no dia 7 de setembro como mais uma saga hollywoodiana.
A série IMPEACHMENT: AMERICAN CRIME STORY do canal FX aborda o escândalo Clinton-Lewinsky. Para os mais jovens, foi quando há 23 anos o presidente dos EUA quase foi deposto por ter tido um caso com uma estagiária da Casa Branca. O presidente era Bill Clinton e a estagiária chamava-se Monica Lewinsky. O escândalo abalou a democracia americana. Clinton chegou a mentir a nação afirmando não ter transado com ela. Mas pressionado pelas provas que surgiram, voltou atrás e na presença da esposa, Hillary, admitiu ter mantido “relação física imprópria” com a estagiária. Teria sido apenas sexo oral.
Na época os republicanos aproveitaram o escândalo para tentar derrubar o Presidente, sem sucesso.
Agora, 23 anos depois, boa parte dos integrantes do drama, que ainda estão vivos, podem reviver o ocorrido no canal FX. Eles levaram três anos produzindo IMPEACHMENT: AMERICAN CRIME STORY que conta como foi a coisa. O mais incrível de tudo é que Monica Lewinsky é uma das produtoras. Ela trabalhou diretamente com os roteiristas e também orientou a atriz que a interpreta na telinha, Beanie Feldstein (conhecida pelos filmes BOOKSMART, LADY BIRD – A HORA DE VOAR e NEIGHBORS 2).
Na época do escândalo, entrevistei Marcello Mastroianni que estava em Los Angeles para o lançamento do filme ROMANCE DE OUTONO, uma comédia romântica em que o astro italiano contracenava com Shirley MacLaine. Perguntei a ele o que achava do escândalo Clinton-Lewinsky. Ele riu e disse: “Só nos EUA isso vira escândalo. Na Itália, se nas eleições para primeiro-ministro, descobrem que um candidato casado tem um caso com uma estagiária, os eleitores têm apenas uma dúvida — a moça era bonita ou feia? Sim, porque se era feia, ele pode ser louco. Mas se for bonita, ele ganha a eleição com certeza”!
Mastroianni estava longe de ser politicamente correto. Talvez seja por isso que ele e Shirley MacLaine não se deram muito bem durante as filmagens.
Num artigo de Jessica Bennett do New York Times publicado dias atrás, deu pra ver que Monica Lewinsky se envolveu na produção da série, a convite do show runner (Ryan Murphy), para garantir que desta vez a versão que chegaria ao público seria mais próxima do seu ponto de vista. Algo somente possível nos tempos atuais. Nesta era em que as mulheres finalmente têm espaço para defender o seu lado da história, como temos visto na maioria dos filmes e programas que estão saindo dos estúdios de Hollywood.
E, por mais que tudo acabe em filme em Hollywood, em Washington pelo menos, pisar na jaca tem suas consequências concretas.
Dois meses depois do Senado ter evitado o impeachment do presidente, a juíza Susan Webber Wright condenou Clinton por testemunho enganoso sobre seu relacionamento sexual com Lewinsky, multando-o em $ 90.000 dólares. E, em 2001, sua licença para advogar foi suspensa no estado do Arkansas, por cinco anos. Mas as consequências mais danosas a Clinton se refletiram na derrota de seu vice, Al Gore, na eleição presidencial de 2000. E talvez também na de sua esposa, Hilary Clinton, contra Donald Trump em 2017.
Será que os erros cometidos pelo atual residente do Palácio do Planalto, que vão para muito além do sexo oral, terão alguma consequência?
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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV.
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