Elogio… à mentira que assola o país. Por Eugênio Giovenardi
… Uma afirmação sempre tem duas interpretações que se opõem. Uma é contrária, artificialmente verdadeira. O ente julgado é condenado pela suposta verdade e absolvido pela verdadeira mentira…
A mentira tem a mesma fonte e a mesma força da verdade. Ambas são produzidas pelo cérebro.
A mentirosofia se consolida no compartimento amplo da mentirocracia.
Um conto literário é uma mentira curta. O romance é uma longa e confusa mentira. Os personagens brotam da mentira ampliada. O escritor, incentivado pela história fantasiosa, lhes dá vida. Essas mentiras são citadas, depois, como verdades.
A mentira é sábia. É obra-prima do homo sapiens.
As galerias do Louvre apresentam, há séculos, a arte da mentira deixada por Leonardo da Vinci. O excepcional grupo de pintores, de todas as origens, encanta a espécie humana com mentiras decifráveis e indecifráveis, como as de Salvador Dalí.
A construção arquitetônica de cidades é uma singular mentira ecológica imposta a um ecossistema.
As mentiras políticas associadas às econômicas e financeiras enriquecem a poucos e, no Brasil, empobrecem a maioria. E todas são constitucionais.
As mentiras judiciais toleram sentenças que valem para hoje. Nem sempre se ajustam à mentira do amanhã.
Uma afirmação sempre tem duas interpretações que se opõem. Uma é contrária, artificialmente verdadeira. O ente julgado é condenado pela suposta verdade e absolvido pela verdadeira mentira.
A verdade é uma mentira provisória. A mentira é uma verdade intemporal e flutuante. A mentira desmentida é a comprovação da mentira. Como a verdade, a mentira é eterna e inextinguível.
A mentira tem pernas longas. É veloz com velocidade do som e da luz. É ouvida, em segundos, nos quatro cantos do planeta.
A mentira não tem compromisso com regimes de esquerda ou de direita, nem de religiões. Ela convive com a democracia livremente e com ditaduras sob forte proteção armada.
A mentira será tão eterna quanto a verdade que se lhe oponha.
O falso, o enganoso, o sofisma, são expressões integrantes da convivência humana. Não há falsa verdade. Institui-se um dia especial para celebrar a mentira ou um fato enganoso. “Mentir, mentir sempre. Alguma coisa ficará como verdade”. (Voltaire) Vender gato por lebre é tão antigo quanto a existência desses bichos.
A mente é impalpável, invisível. Tem o dom de se mimetizar. É um camaleão diante da realidade. Por isso se opõe ao corpo (corpus) visível, tocável, com formas medíveis.
O cérebro associa as informações recebidas dos cinco sentidos. Expressa, por palavras, gestos ou sinais, o produto, o pensamento, a suposta realidade percebida.
A proposta cerebral, a intenção ou o plano podem se referir ao corpus, ao real. Mas pode inventar, enganar e falsificar o sentido e o significado das informações recebidas. A mente, o pensamento enganoso é uma alternativa. Pode ser e pode não ser o que se denomina verdade.
Pode-se aceitar ou não o produto do cérebro. A verdade e a mentira disputam misteriosamente o reino da liberdade e os tribunais da justiça.
Umas das mentiras sibilinas é: nada a ver. Isto não tem nada a ver comigo. Não fui eu. Não conheço a pessoa. Nunca estive nesse lugar. Não lembro do fato. Sempre cumpri minhas obrigações. Nunca menti. Minha vida é um livro aberto.
______________________________________
– Eugênio Giovenardi – Ecosociólogo. É membro da Academia de Letras e do Instituto Histórico do DF. Vários livros publicados.
___________________________________________________________________
-
OS FILHOS DO CARDEAL, Paralelo XV, 1997 2a Edição – 2009 com novo título O HOMEM PROIBIDO,- Movimento,
Traduzido para o espanhol – Ed. Arte y Literatura, 2000, finlandês –
Like, 2005 e inglês The Forbidden Man – Kelps, 2019.
Tradução para o francês em curso, 2020
-
EM NOME DO SANGUE, 2002 — Prêmio Açorianos de Literatura,
2003, Traduzido para o finlandês. 2005.
3. AS PEDRAS DE ROMA, , 2009 –
Tradução inglesa – THE STONES OF ROME – KELPS – 2019
4. HELIODORA, , 2010
5. SILÊNCIO, , 2011
6. O ÚLTIMO PEDESTRE — – 2013
ENSAIOS:
-
ECOLOGIA – Nova forma de prosperidade – – 2014
-
OS POBRES DO CAMPO, , 2003
-
O RETORNO DAS ÁGUAS, NASCENTES, 2005, Bilingue
– Segunda edição, 2015
-
ANARQUISMO LITERÁRIO, 2014, KIRON
-
UMA OBRA EM VERDE – Kiron – 2016
-
ECOSSOCIOLOGIA, – Kiron – 2016
-
REENCONTRO – O que aprendi da natureza – Kelps, 2017
-
ALDEBARÃ E EU, Kelps, 2018
-
A VELHICE DO TEMPO – O TEMPO DA VELHICE, Ensaio sobre a velhice, janeiro, 2020, KELPS.
O espelho me diz que sou canhoto.