Libertadores: o Palmeiras na final. Blog do Mário Marinho
LIBERTADORES: O PALMEIRAS NA FINAL
BLOG DO MÁRIO MARINHO
A primeira participação do Palmeiras na Copa Libertadores foi em 1961 e, por pouco, o Verdão leva o título.
Aconteceu em 1961, quando a competição, disputada pela primeira vez em 1960, ainda se chamava Copa dos Campeões da América e era disputada apenas pelos campeões de cada país.
Naquela época, o Brasil não tinha um campeonato brasileiro de clubes e, para ter seu representante na nova competição, foi criada a Taça Brasil.
Representante brasileiro na competição de 1969, o Palmeiras chegou à final contra o argentino Peñarol que venceu o primeiro jogo, em Buenos Aires, por 1 a 0.
No jogo de volta, no Pacaembu, na noite de quarta-feira, 4 de junho de 1961, o Palmeiras ficou no empate, 1 a 1, e o Peñarol sagrou-se campeão.
Dirigido pelo argentino Armando Renganeschi, o time palmeirense foi este: Valdir; Djalma Santos, Valdemar Carabina e Geraldo Scotto; Aldemar e Zequinha; Julinho, Romeiro (Nardo), Geraldo II, Chinesinho e Gildo.
A segunda vez que o Palmeiras chegou à final da Libertadores foi em 1968 e eu estava lá.
Eu havia chegado ao Jornal da Tarde em janeiro de 1968. Ser escolhido para cobrir a final da Libertadores e, mais, no estrangeiro, foi um acontecimento.
Tanto assim, que, imediatamente, liguei para Belo Horizonte – e ligação interurbana naquela época era difícil – para dar a notícia à Vera, saudosa e chorosa noiva que eu havia deixado em Belo Horizonte.
Palmeiras, campeão, e Náutico-PE, vice-campeão da Taça Brasil foram os representantes brasileiros.
O Verdão fez excelente campanha na primeira fase e se classificou para enfrentar o uruguaio Peñarol. Com duas vitórias o Palmeiras se classificou para a finalíssima.
Do outro lado, um time até então pouco conhecido no cenário internacional, o argentino Estudiantes de La Plata, venceu seu conterrâneo Racing e se classificou.
O primeiro jogo foi disputado em La Plata na noite de quinta-feira, 2 de maio, em La Plata, Argentina, e terminou com a vitória dos donos da casa por 2 a 1.
Na quarta-feira seguinte, o segundo jogo no Pacaembu, terminou com vitória palmeirense por 3 a 1. Tupãzinho (2) e Rinaldo marcaram para o Palmeiras; Verón fez o gol argentino.
Com uma vitória para cada um, o regulamento ordenava um terceiro jogo em campo neutro. O escolhido foi o estádio Centenário, em Montevidéu.
No domingo eu embarquei para Montevidéu. Minha primeira final de Libertadores, minha primeira viagem internacional.
A viagem foi histórica, não só para mim, mas também para o Estadão que, pela primeira vez em sua história, usou transmissão de radiofotos com equipamento próprio, fato que foi saudado em sua primeira página.
A equipe que fez história era formada por esse repórter: por Milton José de Oliveira, repórter do Estadão; Oswaldo Palermo e Reginaldo Manente, fotógrafo; e Alaur Martins, encarregado das comunicações.
Nunca havia enfrentado um frio tão grande quanto o frio daqueles dias em Montevidéu e, principalmente, na noite de 16 de maio.
A Capital uruguaia foi tomada pelos torcedores argentinos que precisavam apenas atravessar o rio da Prata. As viagens naquela época eram difíceis. Montevidéu parecia tão distante quanto a Europa, daí, a pouca presença de torcedores.
Por onde andava-se em Montevidéu nos dois ou três dias que antecederam o jogo, ouviam-se os cantos dos torcedores do Estudiantes, trajados de capas pretas, símbolo que os torcedores usavam na época, em referência à renomada Universidade Federal de La Plata.
A torcida local estava mais para os brasileiros do que para os argentinos que os uruguaios consideravam muito “jactanciosos” (prepotentes).
O estádio centenário ficou lotado com predominância dos “jactanciosos” e alguns gatos pingados brasileiros.
Com poucos minutos de jogo, o time do argentino mostrou a que veio: farta distribuição de ponta pés, de entradas maldosas, violência sem fim.
E o Palmeiras amarelou.
Com 13 minutos de jogo, Ribaldo fez 1 a 0.
E se a violência estava dando certo, ela não só continuou como até mesmo foi aumentada, sob as vistas complacente do juiz peruano Cesar Orozco..
Aos 36 do segundo tempo, o excelente e rápido Verón fez 2 a 0.
O repórter Milton José de Oliveira, do Estadão, em sua matéria, considerou que cinco jogadores palmeirenses se destacaram: o goleiro Valdir, o zagueiro Osmar, Ademir da Guia e Tupãzinho.
Eu fui mais rigoroso: ressaltei Valdir com suas boas defesas e o lateral esquerdo Ferrari que não se intimidou diante da violência argentina.
Terminado o jogo, fui ao vestiário palmeirense. Não havia lágrimas. Mas os jogadores pareciam perdidos, sem entender até o momento o que havia acontecido em campo.
Lá encontrei um torcedor uruguaio vestido com a camisa verde do Palmeiras. Esse torcedor foi todos os dias ao hotel onde o time brasileiro se hospedou. Tornou-se amigo de todo mundo e ganhou a camisa que vestia. Ao me ver, aproximou-se e me perguntou em lágrimas:
– Qué sucedió? Y Tupãcito? Qué se pasó?
Não havia como explicar.
Assim, o Palmeiras perdeu sua segunda chance de ser campeão da Libertadores.
O técnico era Alfredo Gonzales que mandou a campo esse time: Valdir; Geraldo Escalera, Baldochi e Ferrari; Dudu e Ademir; Suíngue, Servílio (China), Tupãzinho e Rinaldo.
Sai do estádio Centenário e enfrentei aquela noite fria até chegar ao Hotel Nogaró onde estávamos hospedados.
Uma péssima notícia me esperava: o sistema de rádio usado para transmissão de fotos e matérias não estava funcionando. E hotel não tinha telex.
Fazer chegar minha matéria à redação do Jornal da Tarde, em São Paulo, foi uma epopeia que só terminou às 9 horas da manhã.
Mas, essa e outra história. Como dizia o jornalista Ibrahim Sued, depois eu conto.
Na foto ao alto: o ótimo goleiro Valdir que não pôde evitar a derrota em foto da época; e, em foto mais recente, já como professor Valdir Joaquim de Moraes (nascido em Porto Alegre, 23-11-1931, e falecido também lá em 11-01-2020).
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Gostei muitíssimo da atuação desse profissional valoroso, pessoa de grande caráter e denodado senso de responsabilidade, um jogador consciente de que deve-se lutar bravamente para tentar salvar seu time, e , em outros momentos levá-lo à glória, em suma, um verdadeiros craque, o Valdir.