Virou bagunça. Por Edmilson Siqueira
VIROU BAGUNÇA
EDMILSON SIQUEIRA
… Se formos pesquisar o dia a dia desse total desgoverno que hoje tenta administrar um complexo país e não tem a mínima competência para tanto, veremos que jamais houve um dia de paz. Talvez algumas horas, entre meia-noite e cinco da manhã de alguns dias, a turba que se apoderou do governo não tenha provocado uma briga…
Já não era o que ser poderia chamar de governo há bem uns quatro ou cinco meses. Alguns mais radicais consideram que, bem antes, após ouvir a primeira entrevista do primeiro ministro da Educação, aquele olavista estrangeiro, o governo de Jair Bolsonaro mostrou a que vinha: fazer de conta que fazia alguma coisa enquanto tentaria garantir, a qualquer custo, a reeleição.
Mas a coisa começou a esquentar mesmo a partir das primeiras demissões que surpreenderam muita gente. Ministros que tinham participado da campanha, que arriscaram apoiar um deputado do baixo clero, deputados que vestiram a camisa do bolsonarismo, começaram a ser fritados por fatos que fugiam ao conhecimento do público. Nas redes sociais, posts compartilhados por milhares denegriam a imagem de pessoas mais que próximas ao presidente. Por quê? O rebanho compartilhava e não queria nem saber os motivos: se a ordem veio do núcleo olavista, então era obedecer e pronto. Rebanhos políticos são assim mesmo. Cegos.
Se formos pesquisar o dia a dia desse total desgoverno que hoje tenta administrar um complexo país e não tem a mínima competência para tanto, veremos que jamais houve um dia de paz. Talvez algumas horas, entre meia-noite e cinco da manhã de alguns dias, a turba que se apoderou do governo não tenha provocado uma briga. Qualquer fato que fuja à total subserviência ao credo bolsolavista é motivo de fritura irrefreável.
… Já com Sergio Moro a coisa foi diferente: os três porquinhos generais correram aos seus pés tentando demovê-lo do pedido de demissão. Ele até ficaria se os três porquinhos convencessem o capitão a ser honesto, mas essa era uma missão impossível. Moro saiu e, apenas elencando os motivos de sua saída, criou uma crise gigantesca que pode redundar no fim real do governo. Digo fim real porque…
Onix Lorenzoni que o diga. O ex-deputado apostou no colega desde quando ele não passava de uma piada de mau gosto andando pelos corredores da Câmara e chamado de “mito” por um bando de rapazes sarados e violentos. Em poucas semanas de governo começou a cair, e foi sendo fritado em óleo morno por meses, até ser realocado num cargo menor. Foi humilhado, mas, talvez em nome do holerite mensal, continuou no governo. O que faz ninguém sabe.
Depois dele, vários outros – inclusive generais – passaram pela mesma situação: era só olhar com certa simpatia para alguém que tinha um primo que era amigo de um ex-militante do PT e pronto: era inimigo do capitão, queria derrubá-lo e, por isso, tinha de sair.
A fritura de Mandetta, que estava indo muito bem como ministro da Saúde e preferiu não cuspir no juramento que fez ao receber seu diploma de médico, foi exemplar de como esse governo só se realiza no conflito, só sobrevive no caos, se se satisfaz na bagunça generalizada. Ele estava fazendo tudo certo, mas foi só o “mito” achar que ele estava aparecendo demais para começar a contradizê-lo, a aconselhar comportamentos diferentes e a receitar (sim, o presidente-capitão passou a receitar) um remédio não aprovado em testes no mundo todo para a cura milagrosa da praga da covid 19. Caiu com dignidade.
A fritura do seu substituto, Nelson Teich, começou na primeira entrevista, em que ele se mostrou titubeante ao defender as posturas suicidas que o “chefe” aconselha e pratica por aí. Durou menos de um mês no cargo e voltou para o anonimato com o rabo entre as pernas. Espero, claro, que tenha aprendido alguma lição que lhe sirva para continuar a viver.
Já com Sergio Moro a coisa foi diferente: os três porquinhos generais correram aos seus pés tentando demovê-lo do pedido de demissão. Ele até ficaria se os três porquinhos convencessem o capitão a ser honesto, mas essa era uma missão impossível. Moro saiu e, apenas elencando os motivos de sua saída, criou uma crise gigantesca que pode redundar no fim real do governo. Digo fim real porque na prática mão existe mais governo no Brasil, virou bagunça mesmo.
O caso de Regina Duarte não pode ser considerado exemplar. A moça, aos 74 anos, parece que já não controla sua capacidade mental. Seu discurso de posse foi, talvez, sua pior atuação como heroína de novela, mostrando que era tudo de mentirinha mesmo: ela não ia trabalhar porque jamais soube o que é ficar atrás de uma mesa coordenando alguma coisa. Deveria ter feito mais discursos iguais àquele, pois agradaria à turba que idolatra o “mito”. Não fez, a não ser uma entrevista que não acabou, e pronto: durou dois meses no cargo e vai ser substituída por um garotão que tem um programa que ninguém vê na RedeTV. Ah, pra não ficar desempregada (acho que a Globo não vai querê-la de volta), arranjaram um carguinho pra ela num local que pouca gente ouviu falar, uma tal de Cinemateca em Sampa. Tem gente que cai pra cima ou sai com dignidade. Regina foi humilhada e caiu pra baixo mesmo. Poderia ter preservado sua biografia de namoradinha do Brasil, mas…
Na economia, a previsão de queda do PIB este ano já chega perto dos 5%. Um PIB negativo desse tamanho coloca na rua uns dez milhões de desempregados a mais do que já havia antes da crise da pandemia. Chegaremos a mais de 20 milhões de gente procurando algo pra fazer e levar algum dinheiro pra casa. Ano que vem, pra recuperar o que se perdeu, por conta da pandemia e do errático comportamento de Bolsonaro e sua turminha, o governo teria que reduzir de tamanho, tomar medidas que desagradassem a todos, vender estatais e fazer severo ajuste fiscal.
… Solução? O fim antecipado desse governo, dentro das regras democráticas, e a posse do vice, general Mourão que, pelo que se viu até agora, sabe falar e não é tosco intelectualmente. Por incrível que pareça, só essas duas diferenças já seriam enorme ganho na comparação com a bagunça generalizada que presenciamos atualmente.
Mas duvido. A aliança com o Centrão, uma tentativa de Bolsonaro se manter no cargo (é só pra isso que ele está lá), mostra que a farra vai ser grossa, que a compra de apoio vai continuar e que escândalos começarão a aparecer. Falta só Paulo Guedes entregar os pontos – e parece que ele não está resistindo à tentação – para que, além do fim moral desse governo tenhamos também o fim de qualquer esperança de recuperação financeira. Lembra dos dois últimos anos do governo Sarney? Pois é, vai ser pior.
Então, em 2022, com eleições presidenciais, se Bolsonaro resistir até lá, o cenário estará pronto para a volta de outro demagogo qualquer, que vai prometer o paraíso e que vai ganhar a eleição. E o Brasil continuará na sina de jamais encontrar no presente seu futuro glorioso, cantado em prosa e verso pro aí. Teremos sido vítimas, novamente, de mais um engodo eleitoral e continuaremos a ser o Bananão de sempre.
Solução? O fim antecipado desse governo, dentro das regras democráticas, e a posse do vice, general Mourão que, pelo que se viu até agora, sabe falar e não é tosco intelectualmente. Por incrível que pareça, só essas duas diferenças já seriam enorme ganho na comparação com a bagunça generalizada que presenciamos atualmente.
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Edmilson Siqueira– é jornalista
Ainda sou Bolsonaro. A imprensa a cada dia mostra mais as garras contra ele.
Excelente diagnóstico. E prognóstico, infelizmente. Aliás, credo ‘bolsolavista’ é cirúrgico, e eu já deveria ter percebido o que significa apoiar um caçador e liberar a caça esportiva; credo bolsolathanista.
(…esse capitão é assim: só reverencia a tortura e morte – por doença, armas… Não escapa nem a floresta. E só pra lembrar: apesar de menos pior, o vice também é admirador de torturadores. A esperança é uma dama frágil.)