A respeito de bêbados. Blog do Mário Marinho

A RESPEITO DE BÊBADOS

BLOG DO MÁRIO MARINHO

Drunk And Stumbling [An Animated Gif] By HollySand90 GIF | Gfycat

Do alto de vasta experiência acumulada por saudável e variada convivência com salões, mesas e balcões vou, modestamente, tentar traçar uma qualificação dos muitos bebuns que conheci nessa longa estrada da vida e nesses longos tragos da vida.

Os bebuns põem ser divididos, de acordo com o seu comportamento, em:

1 – Brigões

2 – Chorões

3 – Melosos

4 – Generosos

5 – Dorminhocos

blogue do franz: Setembro 2014

É evidente que, numa noite, um bêbado pode passar por todas as etapas anteriores e mais algumas improvisadas de acordo com o momento.

Todos os modelos acima são clássicos, mas o brigão aparece mais vezes. O cara fica valente e briga com o garçom, normalmente, a primeira vítima; cria caso na divisão da conta; muita vezes chega em casa com a cara meio amassada e, no outro dia, nem se lembra o por quê.

Um caso clássico foi o Uirapuru Mendes, jornalista criativo, companheiro nos bons tempos do Jornal da Tarde.

Uma madrugada, chegou ao prédio onde morava, acompanhado dos dois companheiros – Belmiro Sauthier e o finado e saudoso Jovem Gui. Vinham os três de uma festa.

Puru, como ele era chamado, entrou no prédio gritando com os dois companheiros. Ao se deparar com o porteiro, não teve dúvidas e berrou:

– E você, seu filho da puta, sempre de azul?

Encrencou com o uniforme do porteiro!!!

Chorões existem também ao montes.Drunk Sticker for iOS & Android | GIPHY

Aquele cara que ouve uma música na madrugada e abre o berreiro. Chora de saudades da mulher que vai espinafrá-lo a hora que chegar em casa; chora de saudade da infância querida e até daquele fusquinha que já teve.

O meloso é aquele que abraça e beija, abraça e beija, abraça e beija umas trezentas vezes antes de ir embora.

O generoso também é um tipo muito comum.

Ele sempre quer pagar a conta.

Tá numa pindaíba de fazer gosto, mas com a voz pastosa e a língua enrolada não deixa por menos.

– Eu pago. Não, não, não mexe no bolso. Eu dinheiro não vale aqui…

Tem o dorminhoco.

Ele vai bebendo, bebendo, bebendo e, de repente, encosta a cabeça na mesa e dorme. E ninguém consegue acordá-lo.

Lá no Jornal da tarde tinha alguns tipos assim.

Um deles, que eu vou chamar apenas de Jayme, não só dormia, com também travava.

Na hora de ir embora, já se sabia: não adiantava chamar.Drunk Animation GIF - Find & Share on GIPHY

Um companheiro pegava de um lado; outro companheiro pegava de outro lado e suspendiam o Jayme. O terceiro tirava a cadeira, mas o Jayme continuava sentado. Era como se fosse uma estátua.

Uma estátua sentada numa cadeira imaginária, carregada por dois amigos.

Na porta do prédio onde ele morava, depois de ser vivamente sacudido e subjugado, ele acordava com a cara fechada, olhava para um, para o outro, pegava sua bolsinha que sempre carregava e saia em passos nervosos sem se despedir ou agradecer a carona.

Certa madrugada, coube a mim levar um dorminhoco para casa, o Nando.

O Nando era um repórter de política e sua presença no bar do Alemão naqueles anos 75/85 não era muito comum. E isso se explica porque Nando trabalhava durante o dia. À noite, no alemão, era quase sempre ocupada por copis (redatores) e editores que saiam do jornal já de madrugada.

Nando acordou com facilidade, olhou para mim, aceitou a carona e não disse nada. Achei normal, já que ele era realmente de poucas palavras.

Entrou no meu carro, uma Belina, e eu perguntei.

– Onde você mora, Nando?

Ele olhou pra mim, olhou pra frente e respondeu indicando o caminho.

– Pode tocar em frente.

Logo à frente tinha o encontro da avenida Sumaré com a Turiaçu (hoje Palestra Itália).

– E aí, Nando?

Caladão, apontou a avenida Sumaré.

Lá fui eu dirigindo, ouvindo música e o Nando dormindo.

Quilômetros na frente, acaba a avenida Sumaré no encontro com a avenida Henrique Schaumann.

– Nando, me diz onde você mora.

Segue em frente, responde apontando Henrique Schaumann.

– Mas me diz onde Você mora!

Ele já estava dormindo.

Segui pela Henrique Schaumann, entrei na avenida Brasil e fui em frente. Não sei por que, mas algo me dizia que ele morava perto do Ibirapuera.

Chegamos junto ao Monumento do Ibirapuera, no cruzamento da Brasil com a Brigadeiro Luís Antônio.

Dei uma sacudida forte no dorminhoco.

– E agora, Nando?Sleepy-driving is as unsafe as drunk driving

Olhou pra mim, pra direita, pra esquerda e apontou a avenida Brigadeiro, à esquerda.

A conversão era proibida e eu tive que ir lá na frente, voltar e pegar a Brigadeiro. Rodei uns 50 metros e parei.

– Nando, fala onde que você mora, porra!

Olhou pra mim com um acerta indignação, provavelmente me achando muito mal-educado, e apontou uma ruazinha à esquerda.

– Entra ali.

Entramos. Agora, acordado, determinou:

– Pode parar ali.

Encostei o carro e perguntei: – cadê sua casa?

Ele desceu e ficou na calçada olhando pra mim. Sei não, mas tenho uma leve desconfiança que ele deveria estar imaginando: quem é esse cara?

Arranquei e fui pra casa.

Levei alguns dias para reencontrar com o Nando. Aquele negócio: eu chegava na redação no final da tarde, horário que o Nando, mais ou menos, estava indo embora.

Mas quando nos encontramos ele não falou nada daquela carona. Não tocou no assunto.

Nem eu.

Acho que ele nunca soube que eu o levei em casa.

Nem vai saber.

Lá onde ele está atualmente certamente não lhe faltarão caronas.

Tem muitos anjos.

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

 

1 thought on “A respeito de bêbados. Blog do Mário Marinho

  1. Essa dos bebuns tá muito boa, Mário. Vou te contar uma rápido: quando Brasilia ainda estava em construção fui fazer matéria sobre o prédio do Congresso, pra Folha. Peguei um avião em Congonhas, e o bicho escalava em Goiânia antes do destino. Já tinha tomado umas antes do embarque e a bordo tomei mais. Desci uma hura depois no aeroporto e de lá liguei para o Coletti, o colega que estava me esperando. Só que a ligação não se completava. Fui ao posto telefônico e perguntei: “As ligações aqui em Brasília estão com problemas?”. A moça me olhou e respondeu: “Ué, mas o senhor não está em Brasília, tá em Goiânia”.
    Antônio Contente

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