Revendo o Tetra. Blog do Mário Marinho
REVENDO O TETRA
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Longe das emoções e das tensões do dia da final, em 17 de julho de 1994, postei-me frente à televisão neste domingo para analisar mais friamente a Seleção Brasileira que conquistou o inédito título de tetracampeão naquela Copa dos Estados Unidos, mas não chegou a empolgar.
Se, na época, minha reação foi de muita alegria e pouca empolgação, ontem tive a confirmação desse pouco entusiasmo, revendo a final Brasil x Itália na tela da Globo.
Numa comparação com as demais seleções brasileiras vencedoras, a de 1994 fica devendo e muito.
No gol, Taffarel foi grande exceção.
O gaúcho entrou para a história como um dos nossos grandes goleiros.
Considero que dos goleiros vencedores – Gilmar, em 1958 e 1962; Felix, em 1970; Taffarel, em 1994; Marcos em 2002 – Gilmar foi o melhor de todos.
Taffarel e Marcos estão em segundo e mesmo plano. Felix fica em um longínquo terceiro lugar.
Na linha de quatro zagueiro, Jorginho foi um lateral apenas eficiente; Marcio Santos foi um zagueiro nota 6,5 e Aldair esteve sempre num patamar superior, merecendo uns 8,5.
Na lateral-esquerda, Branco foi tão bom quanto Everaldo, da Copa de 1970. Talvez pela bomba quase indefensáveis de seus chutes, Branco fica um ponto acima de Everaldo, mas pelo menos um abaixo de Roberto Carlos que, por sua vez, está três abaixo do grande Nilton Santos.
Mas, se não foi brilhante, a defesa não comprometeu. Com um esquema de jogo terrivelmente defensivo armado pelo técnico Carlos Alberto Parreira, a defesa ficou bem protegida e deu conta do recado. Porém, sem brilhos.
O meio de campo é onde a coisa pega.
Dunga, Zinho, Mauro Silva e Mazinho formaram o meio de campo.
Esse importante setor de um time de futebol é comumente chamado de “Setor de Criação”.
Não dá pra comparar esse setor com Zito, Didi e Zagallo, em 1958 e 1962; Clodoaldo, Gérson e Rivellino, em 1970; Kléberson, Gilberto Silva e Ronaldinho Gaúcho, em 2002.
O mais técnico dos quatro do meio-campo de 1994 era Zinho que acabou recebendo o apelido de “enceradeira” porque pegava a bola e ficava dando voltas e voltas sem sair do lugar.
Com esse meio-campo sem a menor inspiração, sem a menor criatividade, Romário e Bebeto tiveram que se virar lá no ataque.
E acabaram sendo as grandes figuras dessa conquista, principalmente Romário, o maior baixinho do mundo.
Assim, a final foi feia.
A Itália, também limitadíssima, apostou na decisão por pênaltis e se deu mal.
O Brasil mandou em campo e mereceu a conquista.
Só faltou brilho.
Ronaldinho,
o reserva.
Aos 18 anos de idade, magrelo e dentuço, o carioca Ronaldo Nazário chegou à Seleção Brasileira e logo foi apelidado de Ronaldinho.
Não pelo seu tamanho, 1,83 m de altura, mas porque a seleção já tinha um Ronaldo, o Ronaldão zagueiro do São Paulo.
Ronaldinho havia acabado de trocar o Cruzeiro pelo PSV Eindhoven. Foi artilheiro nos dois times.
Porém, na Copa, passou o tempo todo na reserva.
Os reservas, coitados, são praticamente ignorados pela imprensa, sempre aflita em ouvir as grandes estrelas.
Ainda na fase de treinamentos, os jogadores, pra variar, brigaram com a imprensa e resolveram fazer greve: nada de entrevistas.
Terminado um treino, os jornalistas se colocaram no local chamado Zona Mista, por onde passavam os jogadores e, teoricamente, parariam para falar.
Ninguém parou.
O último jogador a passar pelo local foi Ronaldinho. Assim que um jornalista ameaçou fazer uma pergunta, ele cortou logo:
– Não vou falar com ninguém.
Um jornalista do Diário Popular, de São Paulo, ficou bravo e gritou com o jovem reserva.
– Você não passa de um reserva ninguém vai querer falar com Você. Sabe de uma coisa: com esse seu jeito, Você vai ser reserva a vida inteira!
O paulista em questão ganhou o título de jornalista de visão do ano.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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