O Teatro brasileiro. Por Angelo Castello Branco
O TEATRO BRASILEIRO
ANGELO CASTELLO BRANCO
…Bolsonaro entrou nesse teatro representando o sentimento de uma nação perplexa com escândalos, prisões, economia sem rumo, crise de descréditos, desemprego galopante, falida. Ninguém da esquerda ganharia as eleições de 2018. A herança era maldita demais além da conta, como dizem os mineiros de boa cepa…
Cena 1 – Vamos tentar entender o governo de Bolsonaro. O fenômeno eleitoral que o fez presidente da república já foi suficientemente dissecado pelos cientistas políticos e pela sabedoria do povo. O PT jogou pelos ares as esperanças de se inaugurar uma prometida segurança ética reivindicada pelo país. Não vale à pena rememorar o que houve, mas, com certeza, as frustrações do lulismo fizeram o país voltar à estaca zero na busca de alternativa de governo. Começou tudo de novo. O aparelhamento de um socialismo continental e predatório de cofres do contribuinte, sob a consultoria do Foro de São Paulo, despertou reações progressivas em todas as camadas da sociedade. O mal estar foi tomando corpo até estabelecer as condições ideais para uma candidatura de direita. Que caiu no colo do capitão.
Bolsonaro entrou nesse teatro representando o sentimento de uma nação perplexa com escândalos, prisões, economia sem rumo, crise de descréditos, desemprego galopante, falida. Ninguém da esquerda ganharia as eleições de 2018. A herança era maldita demais além da conta, como dizem os mineiros de boa cepa.
Cena 2 – Conta-nos a Mitologia que a Hidra de Lerna era um bicho difícil de se entender. Tinha muitas cabeças em forma de serpentes. Quando cortavam uma, outras duas surgiam no seu lugar e ele ficava mais perigoso. Com sabedoria e perseverança, Hércules derrotou o monstro e o cadastrou nos arquivos de suas memoráveis façanhas. Dizem os gregos, e quem somos nós para duvidar.
Cena 3 – Para se entender o governo de Bolsonaro há que se decifrar não apenas uma, mas quatro cabeças. A dele e a de seus três filhos políticos. Desde que assumiu a presidência da República, o chefe da nação viu-se envolvido em repetidas crises e, em todas elas, lá estavam os tentáculos da hidra brasileira. Decifrar tudo isso é tarefa de algoritmos. Parece que as cabeças são reagentes a espécies que, de uma forma ou de outra, possam ganhar notoriedade na convivência com o poder. Porém, não há provas científicas que comprovem essa tese.
…Para se entender o governo de Bolsonaro há que se decifrar não apenas uma, mas quatro cabeças. A dele e a de seus três filhos políticos. Desde que assumiu a presidência da República, o chefe da nação viu-se envolvido em repetidas crises e, em todas elas, lá estavam os tentáculos da hidra brasileira…
Cena 4 – O Brasil não acabou. Sem Sérgio Moro e sem Henrique Mandetta o governo ganha a cara exclusiva do presidente Jair Bolsonaro. O tiroteio de denúncias e intrigas contra a Hidra aninhada no palácio do Planalto avolumou-se nas últimas 48 horas e as balas vão ricochetear em gabinetes do poder Judiciário, em escritórios de juristas e no parlamento. Bolsonaro está tomando suas precauções. Já esteve com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Tóffoli, e vem conversando com o grupo do famoso centrão da câmara dos deputados. O primeiro responde pela pauta do Judiciário e o segundo dispõe de votos suficientes para engavetar iniciativas de impeachment. Isso tem um preço. Embora a história revele muitas traições.
Cena final – Bolsonaro sai de casa na manhã desta segunda-feira, conversa com apoiadores que aplaudem, troca farpas com os plantonistas da imprensa e segue para o gabinete pensando o que dizer na posse do novo ministro da Justiça, como vai responder às acusações de Sergio Moro, como tratar da grave questão da pandemia e como conter as outras cabeças da Hidra antes que elas devorem mais ministros do seu governo ou sejam abatidas como conta a mitologia. Afinal, sempre há tempo de se mudar a história.
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Angelo Castelo Branco – Jornalista. Recifense, advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.