A eterna barafunda do Pobre Brasil. Por Marli Gonçalves

A ETERNA BARAFUNDA DO POBRE BRASIL

MARLI GONÇALVES

Duvido que exista nesse mundo alguém com condições mínimas – mesmo lançando mão de toda a sorte de ferramentas – sejam feitiços, conhecimento, bola de cristal, cartas, inside information, fofocas e balões de ensaio, mesa branca, tudo junto – de afirmar com certeza o que ocorrerá nesse país nos próximos dias. Próximas horas. Se haverá governo, se as medidas de quarentena poderão vir a ser levantadas nos prazos previstos, o que sairá da luta contra esses virulentos fatos em momento tão crucial.

O Brasil está em estado grave, catatônico, todos nós com muitas dificuldades de respirar aliviados, alarmados que estamos com tantas coisas, que não sabemos mais nem o que pensar, muito menos o que esperar desse desgoverno, que incrivelmente não precisa de oposição – já que ele próprio cuida disso muito bem. A demissão do ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça, e que até agora era um dos seus principais pilares, não foi gota d`água em cálice meio cheio. Foi um tsunami, um desmoronamento, uma implosão, um terremoto, um maremoto, um vulcão erodindo, uma bala de canhão, um verdadeiro e derradeiro xeque-mate. Mortal.

Não apenas ou simplesmente pela saída, mas por tudo que levou a isso e que foi dito com todas as letras pelo ex-juiz que acreditou que teria carta branca (e ele acreditou!). Não foi apenas o comunicado de uma demissão; foi uma delação premiada quase que completa, ao vivo, em gloriosa live transmitida para todo país. Cada afirmação, cada palavra escolhida, cada fato lembrado, cada acusação, informação, cada explicação que brotou de sua boca nessa despedida foram afiadas agulhadas, para não dizer facadas, no âmago do centro de poder de Bolsonaro, de seus filhos, e daqueles ministros que todos nós há muito tempo queremos ver pelas costas, mas que ali continuam. Terraplanistas, negacionistas, ridículos, ignorantes, crentes, desconcertantes: Ernesto Araújo, Weintraub, Damares, para citar apenas alguns que tem nos criado inclusive sérios problemas internacionais no momento em que o mundo inteiro se entreolha, tenta se unir contra o vírus que já matou centenas de milhares de pessoas, e que a cada dia mais nos apavora, mutante, arisco, sem remédios ou vacinas.

O ciuminho de homem do sucesso dos outros… No lugar do Ministro Mandetta que falava bom português, e que todos os dias mal ou bem no informava, ao lado de uma equipe coesa na Saúde, colocaram um ser estranho que há uma semana apenas esboça platitudes e que precisa “entender” a doença, sendo que visivelmente não entende nem onde está parado, mas quis estar, pelo Poder. Vimos um general se sobrepondo ao próprio ministro da economia e sua equipe, anunciando um plano sem eira, nem beira, ao qual ousou dar nome: “Pró Brasil”.

Pobre Brasil, isso sim, este, das desmascaradas filas atrás da esmola de R$ 600 que não chegou a grande parte dos necessitados, excluídos, inclusive digitalmente, e que atônitos ouvem sons que não entendem: aplicativos, contas bancárias nas nuvens, vaivéns de decisões.

Não se passou um dia sequer nesse quase um ano e meio – dias que agora temos uma impressão mais clara que em breve terão um termo final, mas que não podemos prever qual será esse desfecho – sem saber de alguma crise, bobagem, vergonha, ato, fala, ataque, ignorância. Fosse um pastor guiando o rebanho, a cada dia vimos esse rebanho encolher, e os que ficaram radicalizarem. Usurpando e agitando a bandeira e as cores verde e amarela, que acabam de conseguir nos provocar nojo. Gritando contra a Constituição e seus garantidores. Contra a razão. Querendo fechar o Congresso, clamando pelo AI-5, e mais radicais até do que os militares donos dos quartéis na porta dos quais se aglomeraram nos últimos dias, ou em barulhentas e sem noção carreatas da morte bloqueando a entrada de hospitais.

Ele e os Filhos do Capitão – parecia que esse rebanho era feito de clones desses seres do mal, que em breve acredito poderão e deverão responder pelos seus falhos atos, atitudes, palavras, que levaram tanta gente às ruas rompendo o isolamento, as normas sanitárias, se expondo ao Covid-19, esquecendo que não há economia sem vida. E que hoje aqui e ali já sabemos que estão virando vítimas, entregando ou suas vidas, ou a de suas famílias, à essa insanidade.

Protestamos, batemos panelas, escrevemos artigos, informamos, noticiamos, alertamos e a frustração de parecer falar ao vazio, para um povo inerte, fez com que nós jornalistas tenhamos sido até agora alvo de ataques cruéis e ordinários. Não é de hoje, nem de um ano e meio atrás a origem desse enorme problema que afunda o país, afugenta investidores, já faz muito tempo…

Houve quem pensasse que alguém que nada fez em 28 anos como político do baixo clero e outros tantos de péssimo militar, fosse saída, até porque as opções daquele momento eram francamente forte reflexo da nossa eterna barafunda. Estávamos na pior, mas agora estamos … qual é mesmo a palavra?

Complete aqui qual pensou: __________________________

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e online, pela Editora e pela Amazon.

marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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1 thought on “A eterna barafunda do Pobre Brasil. Por Marli Gonçalves

  1. Prezada. Deixando de lado o Brucutu, cujo desgoverno tomou hoje definitivamente o rumo do abismo, tomo aqui a liberdade e o espaço para narrar uma história que vem ao caso, já que você se lembrou do tema. Esta tarde, o filho de minha faxineira – a que por ora não faz faxina na minha casa porque eu e minha patroa não a deixamos sair da sua – esteve aqui para pegar uns mantimentos que, desde o início da pandemia, temos mandado para a família dela. Já tem mais de uma década que essa senhora é nossa faxineira, nós a conhecemos bem, e estamos certos de que isso é apenas nossa obrigação neste momento. Mas nós também fazemos isso porque a infeliz se inscreveu no site do Auxílio Emergencial, mas até agora não recebeu um só centavo. Curiosamente, quando consultamos o site com o cpf dela, vemos a informação de que ela foi ‘Aprovada’ e que – veja só! – já teve a dinheirama (600 mangos) depositada na conta do banco público por ela indicada. Formidável! Pelo menos, é isso que o site do Auxílio Emergencial informa. É o que o App informa. É o que o fone 111 informa. E, no entanto, simplesmente não é verdade! O dinheiro não apareceu. Não foi depositado. O filho da coitada passou um dia inteiro procurando a informação em agências da Caixa, e não conseguiu nenhuma solução concreta. Note-se que nem o site, nem o App, nem o fone 111, nenhum desses meios eletrônicos oficiais abre uma portinha que seja para oferecer informações. É impressionante. Difícil saber se é incompetência ou má-fé. Eu e minha mulher temos tentado ajudá-la nessa missão impossível, mas acho que nem o Tom Cruise e sua equipe conseguiriam vencer as armadilhas da Caixa. Ela não sabe a quem mais recorrer. Se tivesse sua solicitação recusada, seria mais fácil pedir novamente o auxílio. Tendo já sido contemplada, não há o que fazer, pois o site oficial diz que o dinheiro já foi depositado.
    Acho que vou bater um fone para o Paulo Guedes. Quem sabe, sobra um dinheirinho em seu orçamento doméstico deste mês, e ele manda uma cesta básica para ela. Você tem o número desse grande homem?

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