[Há 50 anos] Zagallo assume o comando da Seleção Brasileira. Blog do Mário Marinho
Há 50 anos
Zagallo assume o comando da Seleção Brasileira
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Os jornais do dia 19 de março de 1970 trouxeram a notícia-bomba da Seleção Brasileira: Zagallo é o novo técnico.
Assim, encerrava-se a passagem de João Saldanha pela Seleção Brasileira.
Passagem marcada por duas vertentes diferentes.
Na primeira, a competência. Na segunda, a turbulência.
João Saldanha (Alegrete, Rio Grande do Sul, 03/07/1917 + 12/07/1990, Roma-Itália) fez sua estreia como técnico da Seleção no dia 7 de abril de 1970, vencendo o Peru em jogo amistoso, 2 a 1.
Dirigiu a seleção no total de 17 jogos, com 14 vitórias, um empate e duas derrotas.
Seu maior mérito foi classificar a Seleção naquele mesmo ano de 1969 para a Copa do Mundo de 1970.
Polêmico, assim que assumiu Saldanha disse que queria um time de 11 feras. E sua seleção ficou conhecida como “As Feras do João”.
Tendo como adversários de grupo a Colômbia, a Venezuela e o Paraguai, o Brasil venceu todas as 6 partidas que disputou.
Marcou 23 gols e sofreu apenas 2. Tostão foi o artilheiro com 10 gols.
Comunista de carteirinha, Saldanha não perdia chance de provocar o regime de ditadura militar que vigorava no Brasil.
A maior das provocações foi com o então presidente da República general Emílio Garrastazu Médici.
Fã do futebol, o general-presidente disse que gostaria de ver o centroavante e artilheiro Dario convocado para a Seleção.
Saldanha respondeu na bucha:
– Eu não escalo o Ministério dele, ele não escala a minha Seleção.
Na reta final da preparação da Seleção para a Copa do México, já em 1970, Saldanha começou a ter atritos com a imprensa quase que diários.
Voltou até a escrever uma coluna diária no jornal O Globo, que ele havia abandonado quando foi convidado para ser técnico da Seleção, por considerar incompatível com o novo cargo. A sua volta ao jornalismo deveu-se, segundo suas próprias palavras, à necessidade de se defender dos ataques da Imprensa.
Mas, não era só a Imprensa.
Na noite do dia 12 de março, Saldanha, armado de um revólver, invadiu a concentração do Flamengo para tirar satisfação com o técnico Yustrich, que dirigia o time carioca, e que lhe fazia duras críticas.
Não o encontrou.
No dia seguinte, ao ser questionado pelos repórteres, respondeu em tom de deboche:
– Eu estava sem o que fazer ontem à noite e resolvi fazer visita de cordialidade ao Flamengo.
Foi questionado por um repórter gaúcho:
– Visita de cordialidade armado de revólver?
Saldanha avançou sobre o repórter e, a muito custo, foi contido.
Em um programa esportivo da TV Globo, ao vivo, João Saldanha fez duras críticas a Pelé, que não vinha jogando nada segundo ele, e revelou que Pelé tinha um problema de vista.
– Numa distância de 50 metros ele não enxerga nada.
No fim aquela semana, o Brasil jogaria contra o Chile, amistoso, no Morumbi.
Saldanha revelou que tiraria Pelé do time pois, com ele, o time não estava rendendo.
O ambiente entre Saldanha e a Comissão Técnica era péssimo.
Na noite de terça-feira, dia 17-03, Saldanha foi chamado à sede da CBD (A CBF de então) e comunicado que a Comissão Técnica estava dissolvida.
– Como dissolvida? Eu não sou sorvete para ser dissolvido!
Antônio do Passo, chefe da Comissão Técnica, já havia pedido demissão do cargo a João Havelange, presidente da CBD, que não aceitou, e deu a ele 24 horas para escolher o novo técnico.
O primeiro consultado foi Dino Sani, que dirigia o Corinthians. Num gesto de coragem e honestidade, Dino Sani declarou que ainda não estava preparado para tal cargo.
Consultado, Mário Jorge Lobo Zagallo, um jovem de 39 anos aceitou o cargo.
Fez algumas convocações, entre elas o centroavante Roberto, do Botafogo, o goleiro Félix, do Fluminense, e o artilheiro Dario, do Atlético Mineiro.
Para muitos, João Saldanha foi demitido porque era comunista e isso incomodava o governo militar.
Que incomodava, é verdade.
Mas essa não foi a razão principal.
Saldanha era instável, mudava de humor a cada momento. Discutia por qualquer coisa.
Eu mesmo, acompanhando a Seleção em Assunção, para o jogo contra o Paraguai, pelas Eliminatórias, consegui evitar um incidente sério, quando Saldanha estava prestes a agredir um repórter paraguaio que, nitidamente, o provocava.
Vi a poucos metros um fotógrafo paraguaio meio escondido, mas com as potentes lentes de sua máquina direcionadas para Saldanha, pronto para fotografar a agressão.
– Saldanha, é armação! E mostrei o fotógrafo preparado.
Acabou a discussão.
Saldanha morreu, em Roma, quatro dias depois do jogo final da Copa de 1990.
Zagallo assumiu e levou a Seleção à conquista do tricampeonato mundial no México.
Conquista brilhante, da qual falaremos mais vezes nesse espaço, já que o futebol de hoje está em triste recesso.
Séculos de
Histórias do futebol
Há uma semana, quando ainda era possível fazer as agradáveis visitas sociais aos amigos, antes de o Coronavírus se tornar essa terrível pandemia, o jornalista e velho amigo Flávio Adauto reuniu um grupo de amigos e esposas em sua casa.
Competente repórter esportivo, Flávio Adauto mostrou suas habilidades de mestre cuca.
Recebeu o grupo com delicioso e fino ceviche, iguaria peruana baseada em peixe branco (no caso linguado), marinado no limão e temperos especiais.
Com prato principal, suculento espaguete ao vôngole e carne assada com batatas coradas.
Sucos, refrigerantes, vinhos e cerveja generosamente servidos.
Eis os comensais:
Da esquerda para a direita: Cidinha (esposa do Waldo Braga), Nanci (Lucas Neto) e Vera (Mário Marinho); atrás, Nilde (Wanderey Nogueira), Zenaide (Flávio Adauto) e Mara (Sérgio Barbalho).
Na foto abaixo, Wanderley Nogueira, Flávio Adauto, Sergio Barbalho, Mario Marinho, Lucas Neto e Waldo Braga (agachado). Séculos e séculos de jornalismo esportivo.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Boa tarde Marinho,
Legal as lembranças de 1970. E do seu jantar.
Parabéns e abraços.
Ricardo Abud
A crônica, como sempre, excelente.
E o bônus, Marinho: a foto dos cobras de um tempo de ouro da imprensa esportiva. Há muito tempo não via Lucas Neto e Valdo Braga.
E ainda mais na casa de uma pessoa que adoro: Flavio Adauto.
Abração geral
do Marcio Canuto.