Basta de sujeira. Coluna Carlos Brickmann
BASTA DE SUJEIRA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020
Juscelino Kubitschek, presidente da República, tentou cassar o mandato de Carlos Lacerda, o temível orador oposicionista. Este colunista ouvia os duelos entre Carlos Lacerda e o baiano Vieira de Mello pelo rádio de ondas curtas. Valia a pena, apesar do som horroroso. Adhemar de Barros e Jânio Quadros eram, mais que adversários, inimigos; insultavam-se em discursos. Jânio chamou Adhemar de “rato”. Lacerda duelou com o temível Leonel Brizola e com o presidente Castello Branco – de quem disse que era mais feio por dentro do que por fora. Brizola, duro adversário político do grande senador Paulo Brossard, chamava-o de “Ruy Barbosa em compota”.
São mais de cinquenta anos de história, com adversários bons de briga, até com ameaças de morte. Mas, nesse tempo todo, ninguém tocou na família do adversário, ou do inimigo. O adversário era uma pessoa a ser combatida, mas sem chamar ao picadeiro sua esposa e seus filhos. As ideias podiam ser destruídas, mas o tema era política. O Estado de S.Paulo, que não suportava Adhemar de Barros, se referiu à sua esposa, Leonor Mendes de Barros, como “senhora de peregrinas virtudes” – um elogio e tanto.
Não dá para aceitar que, para atacar Bolsonaro, falem de sua esposa. Ataquem-no – a ele. Quem governa é ele, não ela. O relacionamento entre ambos não é tema de debate público. Quem faz jogo tão sujo aonde quer chegar? Política é cruel, mas como tudo na vida tem de ter um limite ético.
Lula lá
Duas ondas seguidas de indignação: primeiro, com o papa Francisco, por ter recebido em audiência o ex-presidente Lula; segundo, com a prefeita de Paris, por ter outorgado a Lula o título de Cidadão Honorário. Certo, Lula foi condenado pela Justiça brasileira. E daí? O papa é monarca do Estado do Vaticano, tem todo o direito de receber quem quiser. E, sendo também um líder espiritual, tem a tarefa de oferecer consolo aos aflitos. Não é questão de merecimento: é missão de vida. Daí a achar que o papa é comunista, como vimos em tantos protestos, vai uma certa distância.
A Igreja é mais antiga que Marx, sobreviveu ao comunismo e tem, ao lado do papa, um sólido grupo de assessores católicos altamente preparados. Quanto à prefeita de Paris, é socialista. Não ofendeu o Brasil: festejou o correligionário. Algo que o PT fez com Césare Battisti: deu-lhe proteção, sem intenção de ofender a Itália.
Reação brasileira
Com todos os problemas da economia internacional nesses tempos de coronavírus, a balança comercial brasileira foi excepcionalmente bem em fevereiro: exportamos quase US$ 3,1 bilhão além do que importamos. É o 3º maior superávit comercial de fevereiro dos últimos 31 anos. Se é verdade que os problemas chineses reduziram as importações de lá, reduziram também as exportações para lá.
Melhor: em janeiro houve déficit e o Brasil reagiu sem estímulos artificiais ou medidas econômicas de emergência.
Reação italiana
A Itália decidiu injetar € 3,6 bilhões (pouco mais de R$ 18 bilhões) para combater o impacto econômico do coronavírus. O anúncio foi feito pelo ministro da Economia, Roberto Gualtieri. A Itália é o país europeu com mais casos de pessoas infectadas pelo coronavírus.
Agora vai!
Lembra-se do “Meu nome é Enéas”? O partido de Enéas Carneiro, o Prona, fundiu-se após a morte de seu líder com o Partido Liberal, PL, dando origem ao PR, Partido da República, de Valdemar Costa Neto. Pois um companheiro de Enéas, o ex-deputado federal Elimar Damasceno, quer recriar o Prona, “que atuará como grande reforço do Governo Bolsonaro”. Como será seu slogan? “Meu nome é Elimar Damasceno” fica estranho.
Uma dica: a dra. Havanir Nimtz (“Meu nome é Havanir”) está no PRTB, partido de Levy Fidélix, o do aerotrem.
Razão para quem tem
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, tem toda a razão ao culpar parte da população, que joga lixo nas ruas e nos córregos, pelo agravamento das enchentes no Rio (isso vale também para outras cidades).
Mas há algumas perguntas a que Crivella poderia responder: a primeira, por que uma parte da população joga lixo em lugares inadequados? Não seria por falta de lugares adequados e de coleta adequada? Segunda, por que, durante seu mandato, não foi aplicado R$ 1,2 bilhão, previsto em orçamento, para contenção de enchentes?
Há mais algumas coisas: como disse Crivella, a família vai para uma área de risco e quer ficar o mais perto possível do córrego, para gastar menos com os tubos que levarão seus dejetos à água. Talvez isso ocorra por falta de um sistema de coleta e tratamento de esgotos. E quem autoriza, ou deixa de proibir, casas em lugares perigosos? Não seria a Prefeitura, a própria? Ao omitir-se, não se coloca como cúmplice dos danos das chuvas?
A propósito, já se descobriu o que andava contaminando a água do Rio?
Responda rápido: quem afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello “queria dar o furo”? Quem afirmou que “não estupraria” uma colega de Câmara Federal “porque ela não merecia”? Adivinhou!? Pois é; os exemplos de canalhice pura e simples vinda desse ogro são tantos que se torna desnecessário, e numericamente impossível, citá-los um a um. Cá entre nós, difamar Michele Bolsonaro, seja ou não verdadeira a história da traição conjugal, é uma baixaria. Baixaria. Mais uma neste país que o marido dela muito ajudou a transformar de uma vez por todas na nação das baixarias, das vilezas, dos achincalhes, das agressões mais covardes – covardes, porque, vindas de um presidente da república, qualquer agressão é sempre covarde! D’accord, em sã consciência, ninguém pode gostar desse tipo de difamação que atingiu a dita senhora, mas é exercício de amnésia seletiva defender a mulher dessa besta (para, sobretudo, salvaguardar a besta), e se esquecer de defender as tantas vítimas da boçalidade desse energúmeno irrecuperável para a vida social civilizada. Foram negros, índios, homossexuais, esquerdistas em geral, centristas em geral, jornalistas, intelectuais, funcionários públicos, estudantes “idiotas úteis”, políticos não alinhados à grosseria, à selvageria, à mentira difamatória e caluniadora de adversários como método político. Todos eles sabem do que a língua pobre de Bolsonaro é capaz. Michele – coisas do amor, pobre dela… – paga pelo erro de ter-se casado com um entusiasta criador de encrencas maldosas, um agressor estúpido de todos os que são diferentes, alguém que não sabe pensar e, por isso, não faz ideia do quão indesculpável e horrendo é o que diz. Já dizia um antigo e folclórico ex-presidente do Corinthians que “quem sai na chuva é pra se queimar”. Pode até ser que seja verdade, em certas circunstâncias. Sinceramente, torço muito para que essa senhora não se queime demais, mas realmente não estou certo de que isso não ocorrerá.
como se não houvesse realizado algo semelhante com a Marisa Letícia….. segue o jogo. hipócritas horrorizados sempre haverá, para defender quem ataca primeiro, ao primeiro revide.
Qualquer coisa é melhor do que o PT.