Vou-me embora pra Pasárgada…Por Aylê-Salassie F. Quintão
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA…
AYLÊ-SALASSIÊ QUINTÃO
…Mobilização de 150 milhões de eleitores. Estarão, supostamente, sob a égide de novas regras, com limitações e ameaças de sanções penais contra notícias fake, calúnias, fiscalização virtualizada pela Justiça, pelo fato de que, a nível de município, torna-se quase impossível. Sofisma-se…
Então! Efetivamente, agora – só agora – começa o 2020… Acabou o sossego que, de fato, já passava longe… Inicia-se um novo ano com muitas propostas de reformas institucionais. Conta-se o “exercício” a partir da reabertura dos trabalhos legislativos no Congresso Nacional, nas assembleias, nas câmaras de vereadores e até no Judiciário. As emulações políticas em circulação conduzem à ideia de que tudo pode piorar ainda mais. Indignada, a população pretende ir à rua no dia 15 de março para cobrar mais compromisso com o País. Foi assim com a Dilma.
Nesse primeiro ano de governo, ficou demonstrado, por exemplo, o quanto o processo de urbanização e de segurança pública, e não apenas de saúde e da educação, tem sido mal conduzidos. As calamidades e desastres parecem cair do céu, desafiando os sucessivos discursos afirmativos e falaciosos. Pega todo mundo de surpresa. Não basta fé. A mídia faz a festa. A gripe do coronavírus bate, por exemplo, às portas das narrativas, não dos fatos. O que salva a tv de assinatura é o canal Smithsonian que nos sobrecarrega, entretanto, da história americana, já que, na contramão dos outros países, nós não fazemos mais questão da identidade nacional.
O “oráculo” das constitucionalidades, o Supremo Tribunal Federal, parece também com a credibilidade lá em baixo. Sem qualquer provocação institucional, um ministro do STF assanhou-se, emitindo uma nota política desqualificando o chefe do Estado. Ex-presidentes da República fazem turnês ao exterior, com dinheiro público, atiçando animosidades externas contra Brasil. Dá assim a sua contribuição sistemática para que o PIB oscile para baixo, e os 11,5 milhões de trabalhadores procurem se safar na informalidade.
Efetivamente, só agora se inicia mesmo o ano de 2020…O fogo começará a ser ateado mesmo é com a reforma tributária. Vai atiçar a força política dos governadores, as bancadas estaduais, o mundo empresarial que investe pesado na economia, e os beneficiários daqueles fundos que alimentam interesses enviesados dentro do País. Existem já dois projetos tramitando no Congresso: a PEC 46, na Câmara; e a PEC 110-2019, no Senado. O Parlamento aguarda a proposta do Governo, que tergiversa. Parece dividido. Já se está concordando que se faça a reforma só com os tributos federais. O ICMS, o que contém as maiores distorções e conflitos entre unidades federativas, ficaria de fora.
Há uma PEC Emergencial, já no Congresso, que incluiria, entretanto, desde o corte de gastos dos estados até salários e vantagens do funcionalismo. As folhas de pagamento são acusadas de responsáveis pelos déficits nas contas da maioria dos estados. Com jeitinhos e malandragens contábeis, elas se permitem fazer vista grossa para a lei da responsabilidade fiscal (LC 101/2000), herança (“maldita”) de FHC, aprovada com o aval de todos os governadores no passado. Na prática, ela vem sendo desbancada pelo populismo. A maioria dos chefes dos Executivos estaduais gastou muito mais do que arrecadou. Há quem está pagando com atraso o salário o funcionalismo. Alguns devem o 13º de 2019.
…dependendo de forças e interesses fiscais e corporativos, o PIB, estimado em 2,8% – já reestimado para 2,5% -, e que está sendo salvo pelo agronegócio, poderá desandar. Na área industrial, 22,3 % das atividades seguem paralisadas…
A proposta emergencial, enviada pelo governo no final do ano passado, estabelece um “gatilho”, que interromperá, automaticamente, os gastos dos governadores, quando superarem em 95% as receitas. O percentual de tolerância à desobediência fiscal é, surpreendentemente, muito elevado.
Nessa esteira vem também a reforma administrativa, que promete cortar salários, reduzir 25 mil cargos de governo e permitir a demissão de funcionários com baixa produtividade.
Assim, dependendo de forças e interesses fiscais e corporativos, o PIB, estimado em 2,8% – já reestimado para 2,5% -, e que está sendo salvo pelo agronegócio, poderá desandar. Na área industrial, 22,3 % das atividades seguem paralisadas. A redução da ociosidade foi de apenas 0,1% em 2019.
Os investidores estrangeiros esperam pelos intermináveis ajustes políticos e econômicos. Quem está marcando presença é a taxa básica de juros, ao descer ao patamar de 4,5%, contra 14,5% de dois anos atrás. Se há pretensão de redução para 4%, há expectativa também de que ela venha logo a subir para 6%.
Bela confusão deve-se esperar mesmo é das eleições para prefeitos e vereadores em 5.500 municípios. Mobilização de 150 milhões de eleitores.
Estarão, supostamente, sob a égide de novas regras, com limitações e ameaças de sanções penais contra notícias fake, calúnias, fiscalização virtualizada pela Justiça, pelo fato de que, a nível de município, torna-se quase impossível. Sofisma-se. Quem fiscaliza mesmo a eleição municipal são os partidos em disputa. Um fiscaliza o outro. Daí os tiroteios, à bala, em alguns lugares.
Do exercício de 2020 sobrariam os Jogos Olímpicos. Nos últimos 20 anos, o Brasil veio subindo no ranking mundial, mas, neste de Tóquio, os brasileiros não terão uma equipe competitiva. O Comitê Olímpico, ao qual cabe a organização da delegação, está em crise, desde a queda do Nuzman, e os dirigentes esportivos com maior visibilidade tem as vistas voltadas mesmo é para as eleições: alguns serão candidatos. Ser vereador é melhor que ser dirigente do COB.
E assim começará, já esta semana, o Exercício de 2020. Pasárgada ou as ruas estão a nos esperar.
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Aylê-Salassié F. Quintão* – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília